Reclamar emprego com direitos
Repudiar o desemprego e mobilizar para a jornada de luta da CGTP-IN, a 1 de Outubro, foram compromissos assumidos, dia 18, nas acções descentralizadas promovidas pela Interjovem/CGTP-IN e a Fenprof.
«Esta luta está a crescer e não pode parar»
Como em acções semelhantes ocorridas noutras capitais de distrito como Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Castelo Branco, Portalegre, Beja, Évora, Setúbal e Faro, jovens trabalhadores e docentes desempregados concentraram-se no Largo de Camões, em Lisboa, onde reclamaram trabalho com direitos para as actuais e as futuras gerações.
Salientando as limitações provocadas pelo dia em que tiveram lugar as acções, a meio da semana, e pela hora das mesmas, a meio da tarde, que «terão impossibilitado a participação de muitos jovens e docentes que estão com esta luta», o dirigente da Interjovem/CGTP-IN, João Barreiros, recordou, em declarações ao Avante!, os «horários desregulados e as jornadas de trabalho cada vez mais longas, facilitadas pela política de direita deste e do anterior Governo», como «factores desmobilizadores da participação em acções como esta, embora contem com o apoio da maioria dos jovens e dos professores deste País».
Com estes protestos, «os jovens demonstraram que não aceitam as políticas em vigor nem submeter-se aos retrocessos sociais a que o grande patronato e a política de direita os está a sujeitar», concluiu a Interjovem, num comunicado de balanço final das acções.
Combater a precariedade
No documento entregue no Ministério por uma delegação do cordão humano que partiu do Largo de Camões, é reclamada a retirada da «lei que vem facilitar ainda mais os despedimentos, reduzindo brutalmente o valor das indemnizações, fazendo dos trabalhadores um joguete na mão do patrão», disse o dirigente da Interjovem, salientando a recusa «da precariedade, imposta a trabalhadores que exercem funções de trabalho permanente, e dos «falsos recibos verdes que continuam a proliferar junto da juventude trabalhadora».
Nos postais é repudiado o anunciado «regime de contrato único, que discrimina os jovens e pretende generalizar a precariedade nas empresas».
Um máximo de oito horas de trabalho diárias e de 40 semanais, e o cumprimento do acordo firmado na Concertação Social, que obriga ao aumento do salário mínimo nacional para 500 euros em 2011, «compensando os trabalhadores pelo roubo», perpetrado até agora, são reclamações igualmente constantes nos mesmos postais e salientadas pelo representante sindical.
Outra das principais exigências é uma aposta «na produção nacional, de forma a criar emprego com direitos» e a possibilitar «uma mais justa distribuição da riqueza, valorizando quem produz».
«Esta luta está a crescer e não pode parar», considerou João Barreiros, garantindo que a organização juvenil da central sindical de classe tudo fará, até 1 de Outubro, para sensibilizar a juventude e toda a população para a uma forte participação na jornada nacional de luta, convocada pela CGTP-IN para esse dia.
No dia 23, será debatida na Assembleia da República uma «Petição contra a precariedade», por iniciativa da Interjovem, onde 20 mil trabalhadores «reclamam o fim da falsa precariedade e dos falsos recibos verdes» lembrou João Barreiros.
No dia 1 de Outubro, a Interjovem vai juntar-se às concentrações da CGTP-IN, em Lisboa e no Porto, a partir das 15 horas.
Solidariedade imprescindível
Levando a solidariedade comunista a esta justa luta, o deputado Miguel Tiago salientou, intervindo na acção, que na Assembleia da República o PCP apresentará, esta semana, «três diplomas legislativos em defesa da escola pública, onde reclamará o vínculo para todos os professores e garantias da sua integração na carreira».
«Não podemos continuar a aceitar que milhares de professores continuem a ser afectados desta forma, anualmente, com a agravante de, agora, pretenderem contratá-los mensalmente», considerou, salientando a importância destas acções como contributos para o sucesso da luta de 1 de Outubro.
Também intervieram na acção o dirigente da União dos Sindicatos de Lisboa, Fernando Ambrioso, e Luís Dias, pelo Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa. Moções de apoio e solidariedade de sindicatos da CGTP-IN chegaram à concentração, durante a acção.
Professores sem trabalho
Muitos dos mais de 37 mil docentes que não foram colocados no início deste ano lectivo marcaram presença nas acções de luta deste dia, ainda mais indignados depois de terem conhecido a intenção do Ministério da Educação de passar a contratar professores mensalmente.
«Trata-se de uma medida ilegal e injusta», disse, em declarações à imprensa, logo pela manhã, o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, tal como nesta concentração, à tarde, o dirigente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa, Manuel Grilo. Sobre esta matéria, o Governo foi, logo nessa mesma manhã, confrontado com uma pergunta da bancada do PCP, «onde lembrámos a impossibilidade de se fazerem contratos mensais para o desempenho de funções que sabemos irem durar um ano, com o único objectivo de retirar estabilidade e direitos aos docentes», informou o deputado Miguel Tiago. Concretizando-se aquela medida, «também serão drasticamente reduzidas as indemnizações no fim dos contratos», alertou, denunciando a «estratégia propositada do Governo de colocar professores tarde nas escolas para lhes pagar menos um mês de salário».
Um combate difícil que vai continuar
Interjovem valoriza jornada
A Interjovem considera que 16 de Setembro foi um grande dia de protesto, integrado na luta que vai continuar, todos os dias, nos locais de trabalho, e a 1 de Outubro, nas manifestações em Lisboa e no Porto.
Em vários distritos, muitos jovens trabalhadores participaram em tribunas públicas e concertos, em acções de contacto em empresas e Centros de Emprego, numa denúncia das difíceis condições de vida que enfrentam e numa expressão de disponibilidade para a luta e para um protesto consequente, reafirmando a necessidade de uma política diferente, de valorização de quem trabalha e de emprego com direitos.
Numa nota que divulgou ao final da tarde de sexta-feira, a organização autónoma da juventude da CGTP-IN destacou que foram dados exemplos de que, com os jovens trabalhadores organizados nos seus sindicatos de classe, denunciando os problemas concretos das empresas, intervindo e resistindo, é possível obter vitórias. Recorda, como exemplos, a passagem a efectivos de trabalhadores com vínculos precários, a defesa do posto de trabalho, o pagamento de salários em atraso, a defesa dos direitos da contratação colectiva.
Nesta jornada – de que aqui mostramos algumas imagens – os jovens trabalhadores, uma vez mais, mostraram que não aceitam estas políticas, que não estão conformados, nem aceitam submeter-se aos retrocessos sociais gravíssimos a que o grande patronato e as políticas de direita nos estão a sujeitar, realça a Interjovem, que reafirma o apelo a uma grande participação nas manifestações que a central vai realizar, em Lisboa e no Porto, no dia 1 de Outubro.
PSP na limpeza
Durante a manhã de dia 16, teve lugar uma iniciativa frente ao Centro de Emprego de São João da Madeira, dirigida aos desempregados que ali acorrem. Entre outros materiais, os activistas sindicais recorreram a pancartas, com palavras de ordem alusivas à luta. Como têm base rígida e pé, foram colocadas numa rotunda próxima, até com apoio de alguns dos desempregados presentes.
Mais tarde, relata a União dos Sindicatos de Aveiro, «fomos confrontados com a estranha informação de que a PSP de São João da Madeira retirou as referidas pancartas», que nem sequer estavam a perturbar o trânsito. Teria sido uma acção isolada de alguns agentes ou teria havido ordens (que seriam ilegítimas e ilegais) do Presidente da Câmara, exagerando a ameaça do primeiro-ministro sobre «tumultos», para esta acção da Polícia como empresa de limpeza?
A estrutura distrital da CGTP-IN deixa em aberto a resposta, mas declara que «não se deixará intimidar com tais atitudes» e «alerta a população para os perigos de uma actuação política musculada, contra a liberdade de expressão e de denúncia do grave desastre económico e social para onde estão a levar o País».