Um revolucionário digno e vertical
Mais de cem pessoas comemoraram, segunda-feira, o 80.º aniversário de Manuel Pedro, num convívio realizado na sede nacional do PCP, em Lisboa. Entre eles estava uma das filhas, Elsa, funcionária do Partido, e muitos daqueles com quem o histórico militante comunista partilhou tarefas ao longo dos seus mais de 50 anos de dedicada militância – 11 dos quais passados nas prisões fascistas.
Justificando o tom «muito solene» da sua intervenção com os «nervos» que sentia ao falar perante tantos amigos e camaradas – ele, que sofreu tantas privações, que dirigiu centenas de reuniões e interveio em inúmeros comícios –, Manuel Pedro considerou aquela uma das ocasiões em que «as palavras ficam presas mas as lágrimas não». E com a mesma emoção lembrou camaradas já desaparecidos, como Álvaro Cunhal, Sérgio Vilarigues, José Vitoriano, Joaquim Pires Jorge, Octávio Pato ou Ângelo Veloso – que, afirmou, teve o «privilégio» de conhecer.
À medida que a intervenção avançava o tom «solene» foi-se desvanecendo e Manuel Pedro contou, descontraído e bem disposto, diversas curiosidades: foi, durante algum tempo, membro do Comité Central do Partido sem o saber, pois fora cooptado quando estava preso e ninguém o avisou, só sabendo dessa sua responsabilidade algum tempo depois do 25 de Abril.
Da sua longa e preenchida vida de militante comunista, que continua, retirou vários ensinamentos: que o Partido e o movimento sindical unitário são as principais barreiras ao avanço da contra-revolução e que há que defendê-los; que é este «o povo que temos» e que sempre foi e continua a ser com ele e por ele que os comunistas lutam; que a luta de classes pode ser «terrível» e «violenta»; ou que os «impérios», por mais poderosos que sejam, acabam sempre por cair.
Antes, o director do Avante! José Casanova, que conheceu Manuel Pedro na prisão, reconheceu nele um homem digno e vertical que ao longo dos seus 80 anos enfrentou «duras provas», que passou com distinção. Preso três vezes, em todas elas venceu o «decisivo combate com a PIDE nos interrogatórios e não falou»; em todas elas opôs a sua têmpera de revolucionário e a sua fidelidade ao Partido à brutalidade policial; em todas elas enfrentou exemplarmente as duras condições prisionais.
Para além dos 11 anos de prisão e quatro de clandestinidade, Manuel Pedro foi também digno e vertical na Revolução de Abril e no combate à contra-revolução. Como salientou José Casanova, Abril «mostrou-nos um pedacinho do futuro pelo qual lutamos» e mostrou que «é possível» construí-lo. Perdendo e recuando, sim, mas nunca sendo derrotado, pois nunca «virando as costas ao inimigo», antes enfrentando-o olhos nos olhos.
O director do Avante! e membro do Comité Central valorizou ainda o contributo de Manuel Pedro para a defesa do PCP enquanto partido comunista, contra a sua descaracterização, e o contributo por si dado à luta dos comunistas pelos dois livros que escreveu: Sonhos de Poeta, Vida de Revolucionário e Resistentes.
A vida de Manuel Pedro resumiu-a o próprio numa ideia simples mas plena de significado: «não foi fácil chegar aos 80 anos, mas lá que foi bom, foi.»