Mão no bolso
Berlusconi garantiu que o seu «coração sangra» por quebrar a promessa de «nunca pôr a mão nos bolsos dos italianos», mas que a «situação dramática» torna «inevitáveis» as novas medidas de austeridade.
Sindicatos preparam greve geral em Itália
Na verdade, o governo italiano já tinha a mão bem no fundo nos bolsos das camadas mais desfavorecidas, com o programa de austeridade aprovado em Julho. Mas agora, com o coração a sangrar, segundo afirma, decidiu introduzir uma chamada «taxa de solidariedade» sobre os rendimentos mais elevados, superiores a 90 mil euros anuais.
A medida visa sobretudo efeitos demagógicos, já que o grosso das medidas e as suas consequências recairão sobre a grande maioria que ganha apenas o suficiente para sobreviver.
O novo plano, aprovado dia 12, em Conselho de Ministros, visa obter 45,5 mil milhões de euros em dois anos, para chegar ao equilíbrio das contas públicas já em 2013. Nesse sentido 20 mil milhões de euros deverão entrar nos cofres do Estado em 2012, e 25,5 mil milhões em 2013, adiantou o primeiro-ministro, Sílvio Berlusconi.
Para alcançar esse desiderato, o governo de centro-direita anuncia um autêntico terramoto na divisão administrativa do país: irão desaparecer entre 29 e 35 províncias (todas com menos de 300 mil habitantes ou três mil km2) num total de 109, e 1500 municípios, num universo de mais de oito mil. O governo conta assim dispensar 50 mil lugares ao nível da administração central, regional e local, ao mesmo tempo que irá reduzir em seis mil milhões as transferências para regiões e municípios em 2013, prevendo-se novo corte de 3500 mil milhões de euros em 2013.
Os presidentes das regiões criticaram a decisão, qualificando-a como um ataque aos serviços públicos e à qualidade de vida das comunidades locais. Como compensação, o governo admite acelerar o federalismo fiscal, que permitiria às entidades regionais estabelecer o seu próprio regime fiscal.
As outras medidas draconianas incluem o aumento da reforma das mulheres para os 65 anos, contra 62 até aqui, bem como uma redução de mil milhões de euros em todo o sistema de pensões. Com o pretexto de aumentar a produtividade, o governo anunciou também a supressão das «pontes» e a passagem automática dos feriados para as segundas-feiras.
A subida de impostos, de cinco por cento para os rendimentos superiores a 90 mil euros, e de dez por cento para os rendimentos superiores a 150 mil euros por anos, é ainda acompanhada de um agravamento da taxa sobre rendimentos de capitais, que passa de 12,5 por cento para 20 por cento.
CGIL ameaça
com greve geral
No domingo, a líder da maior central sindical de Itália ameaçou convocar uma greve geral contra o pacote de austeridade aprovado pelo governo. Susanna Camusso afirmou que a greve é a única maneira de «mudar a desigualdade do pacote» apresentado pelo executivo.
Em declarações ao diário La Repubblica, citadas pela AFP, Camusso revelou ainda que foi convocada para dia 23 uma reunião extraordinária dos dirigentes de sectores e estruturas regionais para definir a data da greve geral.
«Este pacote de austeridade atinge apenas aqueles que já pagam impostos. Por outro lado, os cortes nas verbas dos municípios põem em risco os serviços à população, sobretudo aos mais fracos.»