Eles roubam tudo...

José Casanova

Roubar é a sua pro­fissão: eles roubam, roubam, roubam...

Roubam todos os dias e a todas as horas; roubam nos dias úteis e nos dias inú­teis; roubam nos do­mingos, nos fe­ri­ados e nos dias santos; roubam en­quanto dormem e roubam quando estão acor­dados.

Eles roubam, en­ca­po­tados, con­ge­lando sa­lá­rios e re­formas, e roubam, sem más­cara, sub­sí­dios de Natal a tra­ba­lha­dores e re­for­mados.

Eles roubam, à mão ar­mada, o di­reito ao em­prego aos jo­vens e roubam, a tiro, aos idosos, o di­reito à dig­ni­dade, con­de­nando-os a re­formas de mi­séria.

Eles roubam, em qua­drilha, o di­reito ao pão a mi­lhões e, sempre em qua­drilha, con­cedem-lhes o di­reito à ca­ri­da­de­zinha ul­tra­jante e anti-hu­mana.

Eles roubam di­reitos la­bo­rais e roubam di­reitos hu­manos fun­da­men­tais aos ci­da­dãos.

Eles roubam ser­viços pú­blicos es­sen­ciais, roubam o di­reito à saúde, à edu­cação, à ha­bi­tação – e roubam o di­reito à fe­li­ci­dade.

Eles roubam, roubam, roubam...

Eles roubam aos que tra­ba­lham e vivem do seu tra­balho.

Eles roubam aos que já tra­ba­lharam e ga­nharam, com tra­balho, o di­reito a uma ve­lhice digna.

Eles roubam o em­prego aos que querem tra­ba­lhar, pondo-lhes à frente es­pessos muros.

Eles roubam, roubam, roubam...

Eles roubam ao País a sua in­de­pen­dência e, ras­te­jantes, levam o roubo à boca dos grandes e po­de­rosos da Eu­ropa e do mundo, aos quais lambem as mãos.

Eles roubam Abril – a de­mo­cracia, a li­ber­dade, a jus­tiça so­cial, a so­be­rania na­ci­onal, a Cons­ti­tuição, o fu­turo – e se­meiam se­mentes do pas­sado que Abril venceu.

Eles roubam, roubam, roubam...

Roubar é a sua pro­fissão.

E, quais ro­bins dos bos­ques de patas para o ar, roubam aos po­bres para dar aos ricos – e en­chem, com o roubo, os co­fres das grandes fa­mí­lias, dos ex­plo­ra­dores, dos vam­piros pa­ra­sitas.

E se al­guém se en­gana com o seu ar si­sudo e lhes fran­queia as portas à che­gada, eles roubam tudo e não deixam nada.

E poisam em toda a parte: poisam no go­verno e na pre­si­dência da Re­pú­blica; poisam nas ad­mi­nis­tra­ções das grandes em­presas pú­blicas e pri­vadas; poisam nos bancos fa­lidos frau­du­len­ta­mente e nos bancos que, frau­du­len­ta­mente, levam à fa­lência as pe­quenas e mé­dias em­presas.

Poisam nos pré­dios, poisam nas cal­çadas...

A luta os ven­cerá.



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