Reaver cortes e repor inflação
Recusar cortes nos salários e nas pensões e exigir a devolução dos valores roubados em 2011, actualizando as remunerações numa percentagem não inferior à taxa de inflação, é a proposta em análise na Administração Pública.
Só o Estado garante serviços públicos de qualidade
No dia 19, terça-feira, a Coordenadora da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública analisou a situação política, social e económica do País, as medidas impostas pela União Europeia e pelo FMI, e o Programa do Governo. Essa análise reflectiu-se no projecto de Proposta Reivindicativa Comum para 2012, que as organizações sindicais vão apresentar aos trabalhadores. Numa cimeira da Frente Comum, que deverá ter lugar no início de Setembro, será aprovada a versão final do texto a entregar ao Governo para abrir negociações.
No documento, a Frente Comum rejeita que os trabalhadores sejam responsabilizados pelos custos da crise, «tanto mais que os verdadeiros responsáveis continuam a dela retirar proveitos». «Só o Estado garante a prestação de serviços públicos de qualidade, não apenas como garantia do emprego com direitos, mas também como garantia da própria democracia económica e social», tal como «não haverá desenvolvimento económico do País sem investimento, designadamente no sector produtivo, e com a manutenção de uma política de cortes salariais». Assim, a Frente Comum defende «a elevação do nível de poder de compra dos trabalhadores e a actualização anual dos salários e pensões».
A redução da despesa pública é utilizada pelo Governo para encerrar ou eliminar serviços e organismos, com brutais reflexos imediatos no emprego e na prestação de serviços essenciais à população.
No projecto lança-se um alerta quanto ao perigo de descapitalização da ADSE, porque a criação de um regime facultativo ameaçará, a breve prazo, a sustentabilidade do regime. Esta ameaça é agravada com o plafonamento (um limite máximo) para as contribuições dos trabalhadores com salários mais altos.
Mudar de raiz
Antes de mais, a Frente Comum reclama «a revogação e substituição da legislação da Administração Pública, resultante da implementação do PRACE, no respeito pelos direitos adquiridos pelos trabalhadores e aposentados e pelas propostas que a Frente Comum tem apresentado, como via fundamental para combater estas políticas, que mais não têm feito do que agravar a situação na Administração Pública e no País».
No que respeita a salários e pensões, propõe-se a não aceitação de cortes em 2012 e a devolução dos valores roubados em 2011; a actualização não deverá ser inferior à do índice oficial de inflação, com um valor mínimo de 50 euros; o subsídio de refeição deverá passar para 6,50 euros; a pensão de sobrevivência deverá ser fixada em 65 por cento da pensão do cônjuge falecido (tal como no regime geral).
No capítulo do emprego, defende-se o vínculo público de nomeação para todos os trabalhadores da Administração Pública (incluindo os que exercem funções nas EPE com contrato individual de trabalho); para resolução imediata das situações de precariedade, exige-se a integração nos quadros de pessoal dos trabalhadores que desempenham funções correspondentes a necessidades permanentes, independentemente da situação contratual e do montante da retribuição auferida; é também defendida a reintrodução dos quadros de pessoal, em substituição dos mapas, e actualização daqueles, tendo em conta as reais necessidades dos serviços; os trabalhadores em situação de mobilidade especial devem integrar os quadros e devem ser lançados concursos para garantir a evolução nas carreiras profissionais.
Em matéria de horários, propugna-se a consagração legal, para todos os trabalhadores, dos regimes inscritos no DL 259/98 (salvaguardando os regimes especiais); a reposição do horário de trabalho noturno entre as 20 e as 7 horas; e a recusa da adaptabilidade e de um «banco de horas» para satisfazer necessidades transitórias, como forma de obviar ao pagamento obrigatório de serviço extraordinário.
A consolidação da ADSE, como sistema de saúde autónomo para todos, independentemente do vínculo contratual; o reforço e melhoria dos serviços aos beneficiários; e a incidência dos descontos dos trabalhadores sobre 12 meses (e não sobre 14) constituem um capítulo próprio.
Um quinto ponto inclui dez outras matérias, tais como a revisão do SIADAP, estabelecendo um sistema de avaliação de desempenho sem «quotas», que tenha em conta o interesse público e o desenvolvimento profissional dos trabalhadores e que não promova a discriminação; a contagem integral do tempo de serviço retirado aos trabalhadores, para progressão na carreira e para reposicionamento salarial; a regulamentação e aplicação de todos os suplementos remuneratórios (designadamente, o suplemento de risco, penosidade e insalubridade), para dar cumprimento a compromissos do Governo e decisões da AR; a publicação obrigatória dos Acordos de Entidade Empregadora Pública já negociados, sem depender de «homologação» do Ministério das Finanças.
Ruptura no Areeiro
O atendimento da Segurança Social no Areeiro, em Lisboa, tem apenas cinco funcionários para atender 400 utentes por dia, quando deveria ter mais de 20, revelou o Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Sul e Açores, uma das três dezenas de estruturas que integram a Frente Comum.
«A falta de pessoal é uma constante no Instituto de Segurança Social, que mais se nota nos períodos de férias», afirma o STFPSA/CGTP-IN, num comunicado em que chama a atenção para esta «grave situação de ruptura», a qual põe em causa a qualidade do serviço prestado aos utentes e também a saúde dos trabalhadores.