Sobre-endividamento e recessão económica

Deflação ou sair do euro?

A pro­funda crise que afecta já um con­junto ra­zoável de países da União Eu­ro­peia pa­rece não ter fim à vista, e surgem cada vez mais es­pe­ci­a­listas a con­si­derar a saída do euro como a única forma de in­verter a si­tu­ação.

O peso das dí­vidas e o gar­rote do euro as­fi­xiam os povos

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Uma dessas vozes é a do eco­no­mista alemão de con­vic­ções li­be­rais, Hans-Werner Sinn, para o qual a Grécia e pelo menos também Por­tugal pre­ci­sa­riam de sair do euro para re­cu­perar as eco­no­mias as­fi­xi­adas pelo peso da dí­vida e pelos ca­la­mi­tosos pro­gramas de aus­te­ri­dade.

Em en­tre­vista ao Le Monde (15.07), Hans-Werner Sinn, di­rector do Ins­ti­tuto de Con­jun­tura de Mu­nique (IFO), nota que «a Grécia está sobre-en­di­vi­dada e já não é com­pe­ti­tiva. O euro per­mitiu à Grécia con­trair em­prés­timos a uma taxa muito re­du­zida. Para fazer de­sa­pa­recer o dé­fice, a Grécia tem de re­duzir os seus preços de 20 a 30 por cento. Uma tal baixa não é pos­sível a curto prazo dentro da zona euro».

E não he­sita em com­parar a si­tu­ação da Grécia com a da Ale­manha após a crise de 1929: «A Ale­manha co­nheceu uma si­tu­ação se­me­lhante entre 1929 e 1933. Na al­tura, não podia des­va­lo­rizar a moeda de­vido aos planos Dawes e Young [que ga­ran­tiam o pa­ga­mento das re­pa­ra­ções de guerra im­postas pelo Tra­tado de Ver­sailles]; teve de efec­tuar uma re­dução de preços de 23 por cento e de sa­lá­rios de 30 por cento [de­flação], o que co­locou o país à beira da guerra civil. A mesma coisa po­derá acon­tecer na Grécia se se lhe con­ti­nuar a exigir que baixe os preços e os sa­lá­rios em 30 por cento.»

A van­tagem do re­gresso ao dracma, acres­centa o mesmo eco­no­mista, «seria que a eco­nomia podia ser re­lan­çada em al­guns meses: em vez de tentar re­duzir mi­lhões de preços e sa­lá­rios, per­ma­ne­cendo dentro da zona euro, baixar-se-ia de uma só vez a taxa de câmbio.»

Porém, como de­pois ex­plica, se as em­presas da eco­nomia real ve­riam as suas dí­vidas con­ver­tidas em dracmas, be­ne­fi­ci­ando assim de uma re­dução do seu valor, a dí­vida ex­terna tornar-se-ia in­su­por­tável, tal como já o é hoje. Por­tanto, «em ambos os casos, quer se man­te­nham ou saiam da zona euro, os es­tados têm de apoiar o sis­tema ban­cário e re­es­tru­turar a dí­vida do país. É ine­vi­tável».

Sobre o nosso País, o mesmo pe­rito também não vê «ne­nhum sinal que mostre que Por­tugal possa re­en­con­trar a sua com­pe­ti­ti­vi­dade» Deste modo acon­selha os po­lí­ticos a in­ter­rogar-se: «Es­tarão eles prontos para uma de­flação fi­cando na zona euro?»

 

 

Um bom ne­gócio

para quem em­presta

 

Noutra pers­pec­tiva, o pre­si­dente do Fundo Eu­ropeu de Es­ta­bi­li­zação Fi­nan­ceira (FEEF), Klaus Re­gling, con­si­dera os res­gates das dí­vidas de Por­tugal e da Ir­landa como um «bom ne­gócio» para os países que con­ce­deram as ga­ran­tias.

Em de­cla­ra­ções, no do­mingo, ao jornal alemão Frank­furter All­ge­meine Zei­tung, este res­pon­sável ob­serva que «até hoje, só houve ga­nhos para os ale­mães, porque re­ce­bemos da Ir­landa e de Por­tugal juros acima dos re­fi­nan­ci­a­mentos que fi­zemos, e a di­fe­rença re­verte a favor do or­ça­mento alemão».

Re­gling dis­sipou re­ceios de que a si­tu­ação se al­tere, caso Du­blin e Lisboa deixem de poder pagar as suas dí­vidas, in­cluindo os juros, lem­brando que os pro­gramas de aus­te­ri­dade ne­go­ci­ados pela Ir­landa e por Por­tugal com a União Eu­ro­peia e o FMI estão a ser cum­pridos.

«Se no en­tanto dei­xarem de pagar os juros, te­remos de ir pedir o di­nheiro a quem deu as ga­ran­tias, foi assim que ficou es­ti­pu­lado, para dar ga­ran­tias aos in­ves­ti­dores», lem­brou o pre­si­dente do FEEF.

Na en­tre­vista, Re­gling notou ainda que mesmo que a Ir­landa e Por­tugal te­nham de re­es­tru­turar as suas dí­vidas so­be­ranas, não é for­çoso que haja pre­juízos para os países que deram as ga­ran­tias, através do FEEF.

«Temos de olhar para a ex­pe­ri­ência feita pelo FMI, que já con­cedeu em­prés­timos a muitos países em di­fi­cul­dades, e houve poucos que não de­vol­veram o di­nheiro, casos da So­mália, Zim­babwe e Li­béria, por exemplo».

O pre­si­dente do fundo de res­gate também re­velou que não tem ha­vido di­fi­cul­dades em ar­ranjar in­ves­ti­dores para co­brir as verbas ne­ces­sá­rias aos res­gates da Grécia, Ir­landa e Por­tugal, no­me­a­da­mente na Ásia. «Os in­ves­ti­dores asiá­ticos com­praram cerca de 40 por cento dos tí­tulos, nas três emis­sões que fi­zemos», lem­brou.



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