«Evolução na continuidade»
Este cliché da pretensa «primavera marcelista» do regime fascista, num quadro hoje necessariamente diferente, permite formular uma síntese sobre o avanço da política de direita e da sua concretização nesta passagem do governo PS para o executivo PSD/CDS.
Quanto ao conteúdo, o «choque liberal» que os ideólogos deste Governo assumem estar em desenvolvimento é afinal o corolário do plano inclinado de 35 anos de política de direita, continuação dos OE e PEC do PS/Sócrates (sempre apoiados pelo PSD e CDS), e concretização do pacto das troikas acordado entre o FMI/UE/BCE e o PS/PSD/CDS. É a antecipação do calendário e das decisões da ingerência externa e um avanço de «novas medidas», como o chamado PEC 5, do roubo no subsídio de Natal, que está na lógica intrínseca (e possivelmente nos anexos secretos) do pacto de agressão e submissão, às ordens dos grandes interesses.
Quanto à forma, a política de direita resume-se também à «evolução na continuidade»: seja a versão 3 da «tanga» do «descontrolo inesperado do défice», que foi pretexto para que Passos Coelho deixasse cair as mentiras eleitorais e avançasse para um novo saque do capital financeiro internacional a quem trabalha; sejam as linhas de mistificação ideológica – o soporífero «Estado de Graça», como se o PSD não estivesse desde há muito na coligação informal do poder, ou o «compromisso para travar as greves», a nova versão da «concertação social alargada», em nome da fantasiosa «união nacional» e das «inevitabilidades» para suscitar a resignação. Ao mesmo tempo PSD e CDS apoiam-se na «central de comunicação, informação e repressão» do anterior governo e procedem à sua actualização e optimização.
PSD e CDS estão em serviço aos interesses de classe que os comandam e o PS, na busca até Setembro (!) do seu «estado de alma», também. No fundo é a troika da «evolução na continuidade» da política de direita, antidemocrática e antipatriótica, de retrocesso económico e social, de alienação da soberania e de desastre nacional.
Falta apenas lembrar que a «evolução na continuidade» do fascismo foi isolada e derrotada pela luta de massas e desembocou na Revolução de Abril.