Despertar a consciência
Desafiando a proibição e resistindo à intervenção repressiva das autoridades, os jovens do movimento «15-M/Democracia Real, Já» decidiram continuar o acampamento na Porta do Sol, em Madrid, instalado há quase três semanas.
Protestos espontâneos alastram a várias cidades europeias
Uma assembleia que reuniu milhares de pessoas na capital espanhola deliberou continuar «por agora», definindo depois «como» e «até quando». A decisão afronta directamente o governo regional da comunidade autónoma de Madrid, que exigiu, dia 27, ao Ministério do Interior a retirada imediata dos manifestantes da Porta do Sol, coração dos protestos juvenis que são mantidos com ardor em dezenas de cidades de Espanha.
No final da semana passada, as brutais cargas policiais provocaram 121 feridos na Praça da Catalunha, no centro de Barcelona. O acampamento foi parcialmente desmantelado, mas de imediato vários milhares de pessoas acorreram ao local em solidariedade, conseguindo furar o cordão policial e restabelecer a ocupação do espaço.
O líder da Esquerda Unida (IU), Cayo Lara, criticou a acção da polícia, escrevendo na sua página do Facebook que há «mais motivos para a indignação, para a rebeldia, para continuar a defender a dignidade. Condenação e repulsa. Assim não. Solidariedade e fraternidade com o 15-M».
A 180 quilómetros dali, na cidade de Lérida, a polícia realizou uma operação semelhante de «limpeza», para tentar desalojar os manifestantes da Praça Ricard Viñes. Mas também neste caso os jovens resistiram e voltaram a instalar-se.
Entretanto, importantes movimentos de solidariedade verificaram-se noutras capitais europeias, seguindo o exemplo espanhol. Em Paris, milhares de pessoas afluíram, no domingo, à Praça da Bastilha, em Paris. Também na Alemanha, Bélgica, Itália e Portugal, entre outros, se realizaram concentrações para manifestar apoio aos jovens de Espanha e lembrar que nos respectivos países se sofre dos mesmos flagelos do desemprego e da precariedade.
Dar sentido à luta
Na Grécia, milhares de pessoas concentraram-se, a partir de dia 25, na Praça Sintagma, frente ao Parlamento de Atenas, e em várias outras cidades, seguindo o espírito da juventude espanhola.
Interrogada sobre a natureza deste movimento espontâneo, a secretária do Partido Comunista da Grécia, Aleka Papariga, afirmou que os comunistas vêem «sempre com simpatia as tentativas do povo de se manifestar». «Não é negativo que a juventude, que procura uma forma de se expressar, adquira experiência».
No entanto, notando que o espontaneísmo «só pode desenvolver-se quanto existe em simultâneo consciência política», Papariga alertou que «certos inimigos do movimento» promovem esta forma como «algo de muito importante e ideal em oposição à greve. Isto é errado. A greve é uma das formas de luta, não a única, através da qual os trabalhadores podem mostrar a sua força, porque precisam de superar o medo do patrão. É muito mais fácil juntarem-se nas praças das cidades».
Papariga afirmou ainda ao Rizospastis, o órgão central do partido: «Temos de nos aproximar destas pessoas, que se mobilizam espontaneamente, para que se juntem conscientemente à luta de classes. (...) O inimigo tem estratégia, organização e nome. O movimento popular precisa de fazer o mesmo para vencer a guerra que lhe foi declarada».
Foi neste sentido que a central sindical de classe PAME promoveu manifestações no sábado, 28, em várias cidades do país. Num apelo conjunto com outras organizações, a PAME considera que «no quadro do desenvolvimento capitalista, não pode haver perspectivas de futuro favoráveis ao povo. Os sacrifícios que nos pedem para fazer não têm fim. Nós não temos responsabilidade pela crise do capitalismo. A dívida e o défice pertencem à plutocracia. Não aceitamos sacrifícios, a plutocracia que pague a crise.»