Um Partido preparado para o combate
A VIII Assembleia da Organização Regional de Setúbal do PCP, que se realiza no domingo em Almada, revelará um Partido mais forte e preparado para as difíceis tarefas que tem pela frente. E com muito por onde crescer.
Os comunistas defendem o investimento público na região
Esta foi a opinião que os dirigentes regionais do PCP José Paleta, Vicente Merendas, Antónia Lopes e Carlos Gonçalves transmitiram ao Avante! numa conversa sobre a preparação da assembleia. No próprio documento que esteve em debate nas organizações partidárias da região, e que será votado no domingo, realça-se que o Partido cresceu desde a última assembleia, realizada em 2007. Hoje, o PCP tem mais militantes, centenas de novos quadros responsabilizados por tarefas, novas organizações de base e mais 504 militantes organizados nas empresas e locais de trabalho.
Para José Paleta, que integra também a Comissão Central de Controlo do Partido, tem um profundo significado que num momento em que o desemprego e a precariedade alastram, e em que encerraram empresas onde o Partido tinha células, tenha aumentado o número de militantes organizados no local de trabalho. Em sua opinião, isto só foi possível porque «virámos para aí a nossa acção», dando aliás cumprimento à acção nacional, decidida no XVIII Congresso, Avante! Por um PCP mais forte: foram definidas as empresas prioritárias e os seus responsáveis, muitas vezes funcionários do Partido exclusivamente dedicados à intervenção nesta área; criadas organizações (células ou organismos sectoriais) e transferidos muitos militantes até então organizados nas freguesias.
Participação militante
Quanto à estruturação da organização partidária, José Paleta liga-a à necessidade de aumentar a participação dos militantes – questão essencial para um partido comunista, «ao contrário do que sucede nos partidos burgueses». Só no PCP, realçou este dirigente, um militante pode influenciar a linha política do Partido mesmo que não seja eleito delegado para uma assembleia ou um congresso – participando na sua fase preparatória, tem oportunidade de se pronunciar, de fazer as suas críticas, de apresentar as suas sugestões e propostas.
Os avanços na estruturação da organização notaram-se já na fase preparatória da assembleia, valorizou Antónia Lopes. Para discussão do Projecto de Resolução Política e eleição dos cerca de 700 delegados realizou-se 113 reuniões electivas, quando há quatro anos foram 87. O objectivo foi «ir o mais fundo possível na estrutura do Partido para ouvir o máximo de opiniões».
Valorizando os avanços alcançados, os quatro dirigentes foram também unânimes na consideração de que se está ainda aquém das necessidades e das próprias possibilidades. No projecto de Resolução Política destaca-se que a difusão do Avante!, a estabilização da situação financeira ou a intervenção própria das organizações de base, por exemplo, sofrem ainda de atrasos consideráveis, sendo questões que deverão merecer a atenção da direcção que for eleita na assembleia de domingo.
Presente em todas as lutas
Na opinião de Carlos Gonçalves, igualmente membro do Comité Central, o reforço do Partido na região nestes últimos explica-se pela sua estreita ligação aos problemas e aspirações dos trabalhadores e das populações. Nuns anos marcados pelo aumento do desemprego e da precariedade, pelo brutal ataque aos salários, às pensões e aos serviços públicos, os comunistas estiveram à frente do protesto popular, organizando, mobilizando e estimulando. «Estivemos presentes em todas as lutas travadas na região», afirmou o dirigente, realçando o contacto permanente que existe entre o Partido e o povo através de boletins e comunicados.
Isto ajuda também a explicar, segundo os dirigentes comunistas que falaram ao Avante!, a força eleitoral que os comunistas e seus aliados possuem na região. O projecto de resolução política faz um balanço positivo dos resultados alcançados pela CDU nas três eleições realizadas em 2009: para o Parlamento Europeu, a CDU foi a força mais votada; nas legislativas conseguiu eleger mais um deputado e nas autárquicas manteve-se a força dominante em oito dos nove concelhos da Península, obtendo uma maior expressão eleitoral do que nas eleições anteriores.
É por todas estas razões que os comunistas da Península de Setúbal estão optimistas em relação às eleições antecipadas de 5 de Junho. E consideram mesmo que a VIII AORS pode constituir um importante momento de mobilização dos militantes do Partido para a campanha eleitoral. «Vamos para estas eleições com a confiança e a determinação de sempre», concluiu Vicente Merendas.
Emprego, desenvolvimento e qualidade de vida
Uma visão para a Península
Será distribuído aos delegados à VIII AORS o texto do Plano de Desenvolvimento Integrado da Península de Setúbal, apresentado pelo PCP na Assembleia da República e chumbado pelos partidos da política de direita. Esse plano desenvolvia e concretizava um dos capítulos do projecto de Resolução Política, intitulado Luta e propostas para o desenvolvimento regional.
Como explicou Vicente Merendas, a Península de Setúbal concentrava, há duas décadas, parte considerável dos principais sectores industriais nacionais: siderurgia, química e naval tinham ali os seus expoentes principais. Hoje, o estaleiro da Lisnave na Margueira está encerrado, no complexo da antiga Quimigal laboram algumas pequenas empresas e a ex-Siderurgia Nacional, entretanto segmentada, está reduzida a algumas centenas de trabalhadores.
Ainda assim, notou Vicente Merendas, a região continua a atrair cada vez mais população, o que se explica pela acção do poder local democrático, de influência maioritária da CDU, que garante elevados padrões de qualidade de vida. Mas para inverter a situação resultante da desindustrialização é necessário investimento público, que aproveite as «enormes potencialidades e recursos» existentes (como se lê no Projecto de Resolução Política), crie emprego e dinamize a economia.
O Plano de Desenvolvimento Integrado da Península de Setúbal defendido pelo PCP assenta em quatro eixos estratégicos: Promoção da Qualidade do Território Regional; Promoção da Coesão do Tecido Social; Reforço da Capacidade do Tecido Económico; e Reforço do Sistema Regional de Conhecimento. Para que estes objectivos sejam cumpridos tem que se levar por diante projectos estruturantes como o novo Aeroporto, a Terceira Travessia do Tejo e a Plataforma Logística do Poceirão.
Também o projecto do Arco Ribeirinho Sul, que prevê a requalificação das zonas industriais de Almada, Seixal e Barreiro, é de enorme importância. A ser realidade, aumentaria o número de postos de trabalho e a produção, contrariando o processo de desindustrialização imposto pela política de direita.
José Paleta chamou a atenção para a necessidade de intensificar a luta das populações pela concretização destes projectos, postos agora em causa pela ofensiva em curso contra o investimento público, a propósito da crise. Estes e outros projectos não representam uma despesa, mas um factor de desenvolvimento da região e do próprio País.