Lá como cá

José Casanova

As po­de­rosas mo­vi­men­ta­ções de massas que têm feito tremer os re­gimes di­ta­to­riais da Tu­nísia e do Egipto – e que podem es­tender-se com di­men­sões se­me­lhantes a ou­tros países do Norte de África – cons­ti­tuem o dado mais re­le­vante da ac­tu­a­li­dade in­ter­na­ci­onal.

Con­fir­mando que – sejam quais forem as con­di­ções, mesmo em ab­so­luta au­sência de li­ber­dade – a luta é pos­sível, as massas em mo­vi­mento con­se­guiram, para já, na Tu­nísia, a fuga do di­tador Ben Ali – que du­rante 23 anos, ao ser­viço dos in­te­resses dos EUA, da França, da Itália, de Is­rael, oprimiu e re­primiu bru­tal­mente o seu povo; e no Egipto não de­sarmam na luta para pôr termo a 30 anos da cruel di­ta­dura de Mu­barak, ao ser­viço desses mesmo in­te­resses – luta que com as gi­gan­tescas ma­ni­fes­ta­ções da pas­sada terça-feira as­sumiu ex­pressão re­le­vante.

O im­pe­ri­a­lismo está as­sus­tado e de­sen­volve todos os es­forços vi­sando su­perar a si­tu­ação man­tendo o do­mínio sobre aqueles países.

O go­verno dos EUA e os seus la­caios na Eu­ropa, co­me­çando por re­a­firmar o apoio aos di­ta­dores, pas­saram de­pois, à me­dida que as mo­vi­men­ta­ções de massas cres­ciam, a en­saiar «so­lu­ções» que lhes ga­rantam as mu­danças ne­ces­sá­rias para que tudo fique na mesma, pre­pa­rando, com cui­dados ci­rúr­gicos, as moscas que pro­ta­go­nizem a cha­mada «tran­sição»...

Para o go­verno dos EUA, é ne­ces­sário que, no Egipto, se pro­ceda a uma «tran­sição de­mo­crá­tica e pa­cí­fica».

Para a União Eu­ro­peia – su­cursal do im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano na Eu­ropa – é ne­ces­sário que, no Egipto, se pro­ceda a uma «tran­sição pa­cí­fica e or­deira».

Para Blair – na sua qua­li­dade de não sei o quê, mas coisa boa não é, para o Médio Ori­ente – é ne­ces­sário que, no Egipto, se pro­ceda a uma «tran­sição com ordem e es­ta­bi­li­dade».

Em re­sumo: andam todos ao mesmo. E é óbvio que as três «tran­si­ções» ex­postas são uma só, e con­fi­guram um plano com um ob­jec­tivo claro e inequí­voco: se for pos­sível, manter o di­tador Mu­barak no poder; se não for pos­sível, subs­tituí-lo por um gémeo de fa­chada de­mo­crá­tica...

E só a luta das massas pode furar-lhes esse plano. Assim ela se man­tenha com a di­mensão e a força ac­tuais.

Porque, lá como cá é a luta que de­cide.



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