Uma vida dedicada ao Partido
No dia em que cumpriu 90 anos, Jaime Serra manifestou a confiança que as novas gerações de comunistas estarão à altura da luta e dos objectivos do Partido que nortearam toda a sua vida.
Jaime Serra fugiu por três vezes das prisões do fascismo
Largas dezenas de funcionários e colaboradores da estrutura central do Partido reuniram-se, na segunda-feira, num almoço realizado na sede nacional do Partido, para comemorar os 90 anos do seu histórico dirigente Jaime Serra. Presentes estiveram também a sua companheira, Laura, e três dos seus quatro filhos.
Depois do almoço, José Capucho, do Secretariado do Comité Central, realçou o orgulho de comemorar tão expressivo aniversário de um «dedicado obreiro do Partido». Jaime Serra, continuou o membro do Secretariado, «tem inscrita na sua biografia de revolucionário uma vasta intervenção política no exercício das tarefas que o Partido entendeu confiar-lhe, muitas delas da mais alta responsabilidade». A sua vida, acrescentou, está «cheia de momentos que são elevado exemplo de coragem, de dedicação de militante comunista, de organizador da luta dos trabalhadores e do povo».
Como salientou em seguida José Capucho, «na luta clandestina durante o fascismo, na Revolução de Abril, na construção do Portugal democrático e nos últimos 36 anos de resistência em defesa da democracia e das liberdades, o camarada Jaime Serra, generoso, discreto, de grande dedicação e entrega às tarefas do Partido, de então até aos dias de hoje é um exemplo de vida de militante e dirigente comunista». É, igualmente, «um testemunho vivo da força do ideal que abraçou em jovem com firmeza e confiança num futuro de liberdade, de paz e felicidade para os trabalhadores, um futuro socialista».
Firmeza na luta
Aquele membro do Secretariado do CC referiu-se ainda à tomada de consciência de Jaime Serra, forjada desde criança «pela observação da vida familiar e acima de tudo depois de ter começado a trabalhar na construção civil aos 15 anos de idade». Foi isto que o levou a aderir ao PCP em 1936, assinalou José Capucho, que recordou igualmente a influência dos assassinatos, pela PIDE, dos comunistas Augusto Martins e Alfredo Diniz na sua opção de acção revolucionária.
José Capucho lembrou as suas responsabilidades na célula do Arsenal do Alfeite, em 1940, e a sua passagem à clandestinidade sete anos depois na sequência das greves nas empresas de construção naval. No percurso político de Jaime Serra contam-se também várias prisões – a primeira com apenas 16 anos – e as três extraordinárias fugas que protagonizou, a última das quais do forte de Peniche, juntamente com Álvaro Cunhal e outros destacados dirigentes e militantes do PCP, em Janeiro de 1960.
Após a fuga, disse José Capucho, Jaime Serra «assumiu de imediato o seu posto de funcionário e dirigente do Partido tendo-lhe sido confiadas até ao 25 de Abril tarefas da mais alta responsabilidade»: o transporte para África de Agostinho Neto e Vasco Cabral e a organização e direcção da Acção Revolucionária Armada foram duas delas.
Com a Revolução de Abril, teve várias responsabilidades enquanto membro da Comissão Política do Comité Central, tendo sido deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República. Depois do XII Congresso, em 1988, passou a integrar a Comissão Central de Controlo e Quadros, a Comissão Central de Controle e até há bem pouco tempo integrou a Comissão Administrativa e Financeira. Como salientou o membro do Secretariado, a vida de Jaime Serra – e a própria luta do Partido, com a qual se confunde – pode ser conhecida em profundidade através da leitura das três obras que escreveu, editadas pelas Edições Avante!: Eles têm o direito de saber...; As explosões que abalaram o fascismo; O abalo do poder.
Em seguida, Jaime Serra destacou o papel da sua companheira, Laura, nos difíceis anos da resistência clandestina: «se alguém sofreu na clandestinidade foi ela», afirmou, numa referência às privações por que passou, de que a separação dos filhos não foi certamente a menor. Lamentando não poder ter hoje a mesma actividade que teve ao longo de mais de sete décadas, Jaime Serra manifestou a sua confiança nas novas gerações de comunistas para levaram a bom porto os objectivos do Partido – a construção em Portugal do socialismo e do comunismo.