Ginástica no desemprego
Enquanto o IEFP não explica por que anulou a inscrição de mais de 540 mil desempregados, em onze meses de 2010, o INE decidiu inviabilizar a comparação directa dos dados de 2011.
Esconder números não resolve o drama dos desempregados
«Ginástica contabilística não resolve o problema do desemprego» – clamava a CGTP-IN, pouco antes do Natal, reagindo aos números do Instituto do Emprego e Formação Profissional relativos a Novembro. Este figurava no gráfico de 2010 como o mês em que foram eliminados mais desempregados, devido ao que o IEFP chama de «limpeza de ficheiros». Continuando a não dar qualquer explicação sobre os factores que conduzem à anulação de inscrições – e sabendo-se que não se trata de desempregados colocados no mercado de trabalho, já que os novos inscritos são quase dez vez mais do que aqueles a quem os Centros de Emprego arranjam trabalho, como mostrou Eugénio Rosa no artigo publicado na nossa edição da semana passada – o IEFP declara que deixou de considerar 55 922 desempregados; em Outubro, tinham sido 55 688 e, à excepção dos 29 389 de Janeiro e dos 42 931 de Agosto, em todos os outros meses a «limpeza» rondou os 50 mil. No total, nos primeiros onze meses de 2010, foram «limpos» 543 892 desempregados.
«A falta de transparência, a par da não divulgação dos motivos de anulação que a CGTP-IN vem exigindo sistematicamente, levanta sérias dúvidas em relação aos números do IEFP do desemprego registado, sugerindo que a limpeza dos ficheiros é realizada para, artificialmente, dar nota de "uma desaceleração clara do crescimento" do desemprego» – comentava então a central.
Com a viragem do ano, o Instituto Nacional de Estatística anunciou a alteração do modo de recolha de informação, no Inquérito ao Emprego, com a consequente criação de uma nova série de dados. «Deixarão de ser viáveis as comparações directas com as estimativas provenientes da série de dados anterior, em vigor desde o 1.º trimestre de 1998 até ao 4.º trimestre de 2010» – esta é a consequência imediata referida na nota em que o INE deu conta da mudança da recolha presencial para a recolha telefónica. As «adaptações» exigidas pelo novo método reflectem também a «adopção integral das orientações entretanto emanadas nos Regulamentos Comunitários para o Labour Force Survey».
Significa isto que o INE publicará os primeiros dados desta nova série em meados de Maio, relativos ao primeiro trimestre do ano, mas não será «viável» concluir, por exemplo, que a estatística registou o esperado aumento do desemprego. Em Agosto, apenas será «viável» comparar os dois primeiros trimestres de 2011...
Para a CGTP-IN, o facto de esta alteração ocorrer agora «está relacionado com uma opção política», a qual «provavelmente tem também uma relação directa com a necessidade de condicionar que essas mesmas comparações venham a ser feitas nos próximos tempos», já que «tudo indica que o desemprego vai aumentar», como disse anteontem Arménio Carlos. Em declarações à Antena 1, o dirigente sindical considerou que a medida é «errada» e defendeu que «neste caso, como em todos os que têm a ver com a vida política, económica e social, a transparência e a ética são questões de princípio que importa preservar».
PCP recusa expedientes
«É inadmissível que, numa altura em que o desemprego atinge níveis recorde e constitui o principal problema que afecta a vida de centenas de milhares de famílias portuguesas – e em especial a vida dos jovens –, se proceda a uma alteração na metodologia de recolha da informação estatística sobre a evolução do Emprego e Desemprego, que empobrece a sua qualidade, nomeadamente limitando a sua comparabilidade com períodos anteriores.
«Apetece dizer que esta alteração veio mesmo a calhar, para aqueles que pretendem mascarar a dura realidade do elevadíssimo desemprego no nosso país.
«Não aceitamos que se oculte a real dimensão do desemprego e da queda do emprego, através de expedientes deste tipo que, sob a capa da redução dos seus custos, sacrificam muita da informação importante disponibilizada até hoje por estes inquéritos trimestrais.
«Os elevados níveis de desemprego e a sua permanente subida incomodavam, na verdade, o Governo e, desta forma, pretende-se abafar o foco de instabilidade que era a divulgação trimestral da sua dimensão e dos seus traços mais marcantes: elevado desemprego de longa duração, desemprego jovem e das mulheres com níveis elevadíssimos, emprego inferior ao da década anterior e emprego precário a atingir quase um terço da população trabalhadora».