Propaganda e desresponsabilização
O PCP reagiu no dia de Natal à mensagem do primeiro-ministro José Sócrates, por intermédio de Bernardino Soares, da Comissão Política. Para o dirigente comunista, tratou-se de uma operação de propaganda em que José Sócrates voltou a «tentar alijar responsabilidades da situação em que o País se encontra» utilizando argumentos que vão da crise internacional à situação difícil de outros povos, passando pelos ataques dos especuladores financeiros (a que chama crise de confiança dos mercados internacionais). Sobre este último argumento, o presidente do Grupo Parlamentar do PCP lembrou que o Governo tem tido, perante os especuladores, uma posição de «total capitulação».
Bernardino Soares lembrou que a «poucos dias de se iniciar a aplicação do Orçamento do Estado para 2011 – com o corte de salários, o corte de prestações como o subsídio de desemprego, o subsídio social de desemprego ou o abono de família, com o congelamento das pensões, mesmo das mais baixas, com o aumento generalizado do custo de vida através do aumento do IVA, do preço dos combustíveis e da electricidade e de outros bens essenciais – o primeiro-ministro insiste em dizer que este é o único caminho, quando na verdade é apenas a continuação de uma política de favorecimento dos mais ricos e poderosos perante o aumento das desigualdades e o afundamento económico do País».
O membro da Comissão Política do CC do PCP alertou ainda para o facto de não ter havido uma só palavra para o desemprego, que «afecta tantas famílias portuguesas e que vai continuar a aumentar no próximo ano, fruto em boa parte da política económica seguida». Bernardino Soares falou ainda em «hipocrisia» quando José Sócrates se referiu ao «entendimento para o aumento do salário mínimo», pois na realidade estamos perante o adiamento do salário mínimo de 500 euros já em Janeiro de 2011, como estava aliás acordado desde 2006. Este «verdadeiro roubo» aos trabalhadores de mais baixas remunerações, lembrou o dirigente do PCP, foi acordado entre o Governo, as organizações patronais e a UGT e acontece ao mesmo tempo que se permite a não tributação dos dividendos distribuídos pela PT e por outras grandes empresas ou a manutenção de uma baixa taxa de imposto efectivamente cobrado à banca.
Referindo-se ao apelo do primeiro-ministro para que os portugueses «não desistam», Bernardino Soares acrescentou um outro: a que os portugueses «não desistam de facto, mas de lutar contra esta política e contra as medidas que são a causa do agravamento da situação económica e social do País.»