Entre as brumas da memória

F. Martins

Uma das coisas que mais encanta os «políticos» é a falta de memória das massas. E colocámos os políticos entre aspas porque se trata aqui dos políticos da política de direita, os políticos da burguesia, os servidores do capital, que usam a desmemória e a mentira como ferramenta para se manterem no poder. É claro que também eles se esforçam por nos meterem, a nós, comunistas, no mesmo saco onde se enfiam todas as corrupções, todas as misérias e todas as mesquinhas lutas entre famílias partidárias. Mas os trabalhadores vão sabendo quem, nas horas boas e nas horas más, está do lado deles. E quem se bate pela ruptura e por uma política de esquerda e de soberania nacional.

Hoje, refinadas as coisas, três décadas passadas sobre a inauguração da política de direita que conduziu o País ao caos e os trabalhadores à miséria, os «políticos» estão cada vez mais descarados. Tão descarados que refilam quando lhes põem à mostra as traficâncias e condenam, sem apelo nem agravo, os que se atrevem a contar a verdade. Como é o caso da perseguição policiesca contra o fundador do Wikileaks, o site das revelações recentes que abalam os estados. Se fossem revelações de um passado mais distante e seria outra a postura dos visados, porque o descaramento impera.

Vem isto a propósito de um depoimento que um dos canais televisivos mostrou por altura do 30.º aniversário da morte de Sá Carneiro. Mário Soares, repimpado no seu descaro, contou como aliciara Sá Carneiro para aderir ao recém formado PS, e como o seu interlocutor, oriundo da chamada «ala liberal» do fascismo, recusara, apontando ao PS o facto de ter um programa demasiado «esquerdista». Soares – é ele que conta – terá ripostado que isso de um programa não quer dizer nada...

De facto, nós sabemos – todos! – que não há nada que valha na palavra de Mário Soares. Ainda em Dezembro de 1974, como relembra no Diário de Notícias a coluna de Francisco Mangas (14.12.2010), Mário Soares afirmava no congresso do PS que «o objectivo final do partido é a destruição do capitalismo e a construção de uma sociedade sem classes»! Mais tarde – muito mais tarde, Soares iria revelar a sua amizade e ligações com o tenebroso chefe da CIA, o «mon ami» Carlucci. Que o ajudou a instaurar a política de direita em Portugal, ao arrepio de Abril. O socialismo tinha sido enfiado na gaveta...

No quadro actual, em que as eleições presidenciais vão ser disputadas, não há candidato que valha, para além de Francisco Lopes, pois que todos os outros são cúmplices dessa mesma política de desastre e miséria para milhões de portugueses e de fartos lucros para o capital.

Nem se safa o candidato Nobre, que já apoiou quase todos os partidos da política de direita – aberta ou encoberta; nem o candidato Alegre, que apoiou, em importantes actos legislativos, essa mesma política. Esse «esquerdista» que em 1975 berrava alto na Alameda, garantindo: «Eu seja ceguinho se alguma vez me aliar aos comunistas!» Ele não cegou, 35 anos passados. E nós também não. Assim a memória não nos falte.



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