«Ajudas»

O Público anunciava em primeira página que «bancos privados ajudam Estado a financiar-se» e pormenorizava: «Os três maiores bancos privados portugueses, BCP, BPI e BES, aumentaram a sua exposição à dívida soberana nacional, ajudando o Governo, em mais de dois mil milhões de euros, entre o início do segundo trimestre e o fim do terceiro. O BCP foi até agora o maior comprador (sublinhados nossos)».

Apesar do Português algo macarrónico da notícia e do linguajar críptico que a percorre («exposição à dívida soberana», banco «maior comprador»), percebe-se que estes três bancos privados são-nos apresentados como «salvadores» do próprio Estado português, «expondo-se» a comprar mais dívida pública.

O que não se diz é que essa «compra de dívida pública» portuguesa é um negócio da China, tão elevados são os juros dessa dívida, pelo que os «patrióticos» três bancos privados, ao «ajudarem» o Estado comprando dívida pública, estão antes de mais nada a acumular lucros sobre lucros.

Entretanto, até parece que já todos se esqueceram que estes mesmo três bancos privados (BCP, BPI e BES) foram, todos eles e ainda há cerca de um ano, «salvos» pelo Estado português dos imensos buracos em que as suas especulações os meteram...

 

Aeroportos

 

O Tribunal de Contas (TC) fez uma auditoria ao Aeroporto Civil de Beja e concluiu que a infra-estrutura – onde já foram investidos cerca de 34 milhões de euros – foi lançada sem que o Estado tivesse «assegurado a sua viabilidade económica». Um relatório do TC pormenoriza que que a empresa pública entretanto constituída para avançar com o empreendimento «nunca apresentou qualquer plano de negócios» e vem acumulando «prejuízos há quase dez anos». E o aeroporto continua incapaz de acolher a aviação comercial, tendo um custo final estimado em 74 milhões de euros.

Resumindo, já se gastou cerca de metade da verba total para a construção de um novo aeroporto civil em Beja sem que, passados dez anos, se tenha materializado capacidades de desempenho para as funções de receber aviação comercial.

Entretanto, o dinheiro continua a escorrer para aquele aparente sorvedouro, sem que ninguém explique nada.

Enfim, é a governação socrática em pleno esplendor.  

 

«Recuperações»

 

 Diz o Jornal de Notícias que «a rendibilidade dos certificados de aforro (CA) vai voltar a aumentar». E explicita até onde irá «o aumento»: «Em Dezembro, a taxa bruta anual aplicada às novas subscrições vai subir para 1,13%, completando uma série de três meses consecutivos de valorização».

Dá vontade de rir ouvir-se que uma taxa bruta de 1,13% é um «aumento» a merecer o epíteto de «valorização». Sobretudo quando assistimos à subida escandalosa para mais de 7% de juros, aplicados à dívida pública portuguesa pelos benditos «mercados».

Uma pergunta: porque não dá o Governo aos CA uma rendibilidade de, vá lá, 5%?!... Ainda ficava a ganhar em relação aos juros que vai pagar «aos mercados» e, de certeza, que acabava-se logo as aflições de tesouraria.

Mas isso os bancos não deixam, né? É que assim acabava-se-lhes a mama dos «empréstimos internacionais», onde também fazem fortunas à custa da dívida pública portuguesa...



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