Do poder da ciência chinesa
No avião a escrever. Desta vez tenho essa oportunidade, aliás uma oportunidade cada vez mais rara nos voos, tipo sardinha em lata. Desta vez, o passageiro que calhou à minha frente não reclinou quase nada as costas da sua cadeira. Foi sorte minha. E se mal chegava o espaço, com o ecrã a ter de ficar na vertical e a base do teclado do computador sobre a mesinha da frente a comprimir-me a barriga à maneira de gume que não corta, que não é gume, lá fui conseguindo escrever. No banco do meio – o meu era o da janela – não havia passageiro a bisbilhotar pelo canto do olho no meu ecrã e na coxia ia um passageiro a dormir. Óptimo!
De volta a Lisboa pela enésima vez, vindo de Nice via Londres, pois sempre foi uma alternativa mais barata do que a do voo directo. Entretanto, já em Lisboa ia acontecendo a manifestação dos trabalhadores da Função Pública, com a perspectiva de um corte brutal nos salários, incluindo um aumento dos descontos para a Segurança Social, além disso atingidos pela manutenção do valor nominal das pensões e pelos aumentos do IVA, as alterações de escalões e o acabar das bonificações na área da Saúde, etc., enfim um fartar dos vilãos, ou antes um desfartar! Pois é, não são «apenas» os que auferem salários mais elevados (que não os lucros, as rendas, a mais-valia fica sempre esquecida), crença que a costumada esperteza saloia dos governantes, a começar pelo PM, tentou mediaticamente impor, começando a propalá-lo na inicial comunicação televisiva. Etc. Eles contam com que a gente finja que é tola e gosta de ser cavalgada! E eu p’raqui perdido no interior da carlinga da aeronave. Adiante.
Venho mais uma vez de uma França em polvorosa. Vai para duas semanas, quando aí estivera, esta polvorosa já estava instalada, a luta dos trabalhadores, da juventude estudantil, do Povo, a desenvolver-se com uma potência como há muito tempo não sucedia. Inclusivamente na Riviera, em Nice, em Cannes, por aqui e por acolá. Sinal dos tempos.
Desta vez juntou-se a visita a França de Hu JinTao, que de seguida, na continuação do seu périplo, veio a Portugal, e chegou muito mais cedo do que eu, voou directo, não teve que alongar o périplo por Londres. Sorte a dele. Na França, queixavam-se as crónicas locais, com programa de acordo com as regras de Hu. Grandes expectativas na orgulhosa França trazidas pela visita do presidente Hu, uma espécie de representante dos salvadores do Ocidente... ao que se chegou!
Resultado: o aeroporto de Nice com acesso dificílimo. Ontem, foi mais de hora e meia a conduzir nos cerca de 20Km de autoestrada. Restrições ao trânsito, mais o tráfego de início de fim de semana. Enfim.
Dados significativos
Para o escrevente destas linhas, que tinha acabado de ler um artigo numa revista do Reino Unido sobre a evolução da prática científica no mundo e as alterações rápidas da composição da origem das comunicações de novos resultados científicos, sobretudo o rápido caminho para preeminência da China, sempre a China, um artigo inserto na revista britânica BBC FOCUS, não foi tarde nem cedo para decidir registar adiante alguns bem significativos dados.
A China, um caso expressivo em termos de evolução do sistema científico. China que, não obstante já ser a segunda maior economia do mundo, ainda é um país em desenvolvimento. Por exemplo, tem uma economia pouco maior do que a Japonesa, mas o PIB per capita vale 1/9 do japonês, ou 1/4 do português! Uma China que muitos verão como a fábrica do mundo, uma fábrica deslocalizada para escravos vindos de campos deprimidos... um imaginário que se liga com o da Revolução Industrial na Grã-Bretanha, não o da deslocalização de então para a América – sobrepõe-se aqui o sonho americano.
Então, a ciência da China publicou 120 mil artigos em 2009 (24 mil em 2000), marca só superada pelos 332 mil dos EUA (255 mil em 2000). O RU registou 89 mil (71 mil em 2000), o Japão 78 mil (72 mil em 2000), a Índia 40 mil (16 mil em 2000), o Brasil 31 mil (10 mil em 2000) e a Rússia (agora p’ro decrépito) 29 mil (28 mil em 2000). Primeiras 500 universidades do mundo: 134 nos EUA, 38 no RU (notável em comparação com os EUA se tivermos em conta que a população do RU é 5 vezes menor que a dos EUA), 34 na China, 25 no Japão, 6 no Brasil e 2 na Índia (afinal as avaliações ocidentais quando comparam a Índia com a China, supostamente sendo a Índia superior em termos científicos à China, parecem estar longe da realidade). Pois.
Entretanto, Lisboa à vista – Hu já abraçara o soldado da GNR que tinha caído do cavalo –, fechar computadores.