SIED – demissão e fusão anunciada

Carlos Gonçalves

Os Serviços de Informações estão de volta à notícia dos escândalos e conspirações. A coligação negativa PS-PSD-CDS, que há três décadas funciona para impedir a conformação dos serviços ao regime democrático – na sua acção, orgânica, controlo e fiscalização –, tem uma extensa «folha de serviços» de operações antidemocráticas, ilegalidades e guerras pelo poder.

Alguns «casos» foram silenciados pela maioria absoluta PS, pela nova orgânica do Sistema de Informações da República (SIRP), que até o respectivo Conselho de Fiscalização (PS/PSD) reconheceu em 2006 exorbitar a lei, e pela instrumentalização do Secretário Geral Júlio Pereira (JP) e da «central» de comando, informações e controlo dos média do «Gabinete» de Sócrates.

Mas o «clima de fim de ciclo» tem tornado cada vez mais evidentes os escândalos da luta intestina no SIRP, entre PSs e PSDs e respectivas «obediências maçónicas». Foi o caso dos 23 agentes expostos informaticamente, foram os indícios de intimidação pelo SIS dos magistrados do «caso Freeport», foi o folhetim das escutas na Presidência da República e é agora o filme requentado das demissões e o ajuste de contas na «Comunidade de Informações».

Jorge Silva Carvalho (JSC), que agora se demitiu do SIED, alegadamente em protesto contra o corte orçamental que irá fechar sete das respectivas estações no estrangeiro, é um quadro com currículo no SIS e no SIED, tendo sido adjunto de JP e, ao que consta, autor do projecto de que resultou a legislação em vigor.

Ambos, JSC e JP, como aliás muitos dos 400 agentes, escolhidos a dedo pelo PS/PSD/CDS, são partidários da fusão do SIS e do SIED num único serviço, o que constituiria a consumação do edifício antidemocrático nesta área - a confusão entre «terroristas» estrangeiros e «inimigo interno», a criminalização da luta de massas pela via das orientações NATO, o abandono de garantias constitucionais, etc.

As medidas deste Governo PS de «racionalização» e anexação do SIED pelo SIS, os cortes orçamentais e a demissão de JSC, a preparar a nomeação futura pelo PSD, surgem assim como peças do puzzle da fusão anunciada do SIS e do SIED e do fim do actual modelo de sistema de informações. Num projecto cada vez mais antidemocrático. Que é imperioso denunciar e derrotar.



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