Contra a NATO, em defesa da humanidade

Marcha pela PAZ

Anabela Fino

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A Ave­nida da Li­ber­dade voltou a fazer jus ao seu nome na tarde de sá­bado, 20, ao servir de palco aos muitos mi­lhares de pes­soas que com con­fi­ança, de­ter­mi­nação e en­tu­si­asmo ru­maram à ca­pital para clamar bem alto Paz Sim, NATO não!

De nada ser­viram as muito me­di­a­ti­zadas cam­pa­nhas de des­mo­bi­li­zação com que du­rante se­manas se tentou in­to­xicar a opi­nião pú­blica; as forças amantes da Paz saíram à rua sem se deixar in­ti­midar e em paz, como é seu timbre, mar­charam em de­fesa de um mundo sem armas nu­cle­ares, sem blocos mi­li­tares, sem guerra.

Nas pa­la­vras de ordem – ou­vidas em todos os so­ta­ques na­ci­o­nais, de Viana a Se­túbal, de Braga a Por­ta­legre, do Porto ao Li­toral Alen­te­jano, de Coimbra a Beja, de Lisboa a Évora, de Bra­gança a Faro... – uma exi­gência que é afinal a as­pi­ração sempre re­no­vada dos povos: Paz, Tra­balho e Pão! Guerra Não!

Em car­tazes, panos, faixas, gi­gan­tones e o mais que a ima­gi­nação con­cebeu en­con­trou-se ma­neira de mos­trar que os va­lores pa­ci­fistas con­sa­grados na Cons­ti­tuição da Re­pú­blica ecoam fundo no sentir do povo por­tu­guês, ao con­trário dos que ju­raram de­fendê-la – como Ca­vaco – e não têm pudor de a des­vir­tuar e de fazer letra morta do seu ar­ti­cu­lado in­cen­sando a NATO e con­gra­tu­lando-se por Por­tugal in­te­grar o cartel dos que levam a morte e a des­truição a qual­quer ponto do globo para servir os in­te­resses do im­pe­ri­a­lismo.

Pela voz dos que já vi­veram a guerra e as suas se­quelas – seja porque a tra­varam no Ul­tramar co­lo­ni­a­lista no pe­ríodo da di­ta­dura, seja porque so­freram as con­sequên­cias das que as­so­laram a Eu­ropa e o mundo con­du­zidas pelo nazi-fas­cismo tão caro a Sa­lazar – mas também pela voz dos jo­vens que não tendo vi­vido o horror dele estão cons­ci­entes, de­nun­ciou-se nas ruas que Para a Guerra Vão Mi­lhões! Para os Tra­ba­lha­dores Só Tos­tões!, que é também uma forma de dizer ao Go­verno PS/​Só­crates e aos que com ou­tros nomes as­piram à al­ter­nância para a mesma po­lí­tica, como o PSD e o CDS-PP, que a crise do ca­pi­ta­lismo não tem de ser paga pelos tra­ba­lha­dores e pelo povo e que a in­dús­tria da guerra não é so­lução mas antes o ca­minho para o ex­ter­mínio da hu­ma­ni­dade.

Ao con­trário do que muitos anun­ci­aram e ou­tros tantos de­se­jaram, a ma­ni­fes­tação de­correu sem in­ci­dentes. Não houve sangue, nem dis­túr­bios, nem vi­o­lência. Não se partiu vi­dros nem houve carros in­cen­di­ados, apesar de uns ânimos mais exal­tados terem con­cen­trado as aten­ções de quem, cons­ci­ente ou in­cons­ci­en­te­mente, tem por missão trans­formar o epi­sódio no acon­te­ci­mento, mos­trar a ár­vore para que não se veja a flo­resta.

Não é de sur­pre­ender que assim ti­vesse sido. A cen­tena de or­ga­ni­za­ções que pro­moveu a jor­nada es­tava bem iden­ti­fi­cada, desde a maré rubra das ban­deiras co­mu­nistas às or­ga­ni­za­ções sin­di­cais, do mo­vi­mento das mu­lheres às or­ga­ni­za­ções de re­for­mados, de imi­grantes, agri­cul­tores, co­lec­ti­vi­dades..., a mos­trar que ali es­tava gente que luta, sim, mas para cons­truir um mundo de paz. E a mos­trar também, como se gritou acla­mando a re­so­lução apro­vada no final da ma­ni­fes­tação, que Somos Muitos, Muitos Mil Para Con­ti­nuar Abril!

 

De­cla­ração «Paz sim! NATO não!»

 

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As or­ga­ni­za­ções da Cam­panha «Paz sim! NATO não!» e os ci­da­dãos e ci­dadãs par­ti­ci­pantes na Ma­ni­fes­tação «Paz sim! NATO não!» apro­varam uma de­cla­ração em que se ca­rac­te­riza a NATO como uma «ali­ança mi­litar agres­siva que cons­titui na ac­tu­a­li­dade a maior ameaça à paz e à se­gu­rança in­ter­na­ci­onal», apos­tada em «es­magar os di­reitos dos povos, vi­olar as so­be­ra­nias na­ci­o­nais e sub­verter o di­reito in­ter­na­ci­onal» e res­pon­sável por «crimes he­di­ondos».

Su­bli­nhando que en­quanto «mi­lhares de seres hu­manos morrem de fome e de do­enças evi­tá­veis e a pre­texto da crise e do com­bate ao dé­fice se atacam as con­di­ções de vida e os di­reitos dos tra­ba­lha­dores, as des­pesas mi­li­tares não cessam de au­mentar – os or­ça­mentos mi­li­tares dos países mem­bros da NATO re­pre­sentam, em con­junto, cerca de 70% das des­pesas mi­li­tares no mundo», no texto faz-se notar que os «grandes res­pon­sá­veis pela agu­di­zação da si­tu­ação eco­nó­mica e so­cial ao nível na­ci­onal e in­ter­na­ci­onal são os mesmos que pro­movem a cor­rida aos ar­ma­mentos, a mi­li­ta­ri­zação das re­la­ções in­ter­na­ci­o­nais e a guerra».

No do­cu­mento re­corda-se ainda que Por­tugal se mantém «há mais de ses­senta anos de­pen­dente desta ali­ança be­li­cista e dos in­te­resses dos EUA e das grandes po­tên­cias da União Eu­ro­peia», e que o «em­penho das au­to­ri­dades por­tu­guesas na NATO co­lide com prin­cí­pios fun­da­men­tais con­tidos na Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa e na Carta das Na­ções Unidas, de que Por­tugal é sig­na­tário».

Porque a «con­quista da paz pelo povo por­tu­guês está ir­ma­nada com luta pela me­lhoria das con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores por­tu­gueses», no texto saúda-se a «grande Greve Geral con­vo­cada pela CGTP-IN para dia 24 de No­vembro» e con­vida-se «todos os tra­ba­lha­dores e tra­ba­lha­doras por­tu­gueses a nela par­ti­ci­parem».

A ter­minar, os par­ti­ci­pantes na Ma­ni­fes­tação de 20 de No­vembro as­sumem o com­pro­misso de con­ti­nuar a re­forçar o mo­vi­mento pela paz e anti-im­pe­ri­a­lista, per­sis­tindo na sua ac­tiva in­ter­venção em prol:

  • Da opo­sição à NATO e aos seus ob­jec­tivos be­li­cistas;
  • Da re­ti­rada das forças por­tu­guesas en­vol­vidas em mis­sões mi­li­tares da NATO;
  • Do fim das bases mi­li­tares es­tran­geiras e das ins­ta­la­ções da NATO em ter­ri­tório na­ci­onal;
  • Da dis­so­lução da NATO;
  • Do de­sar­ma­mento e o fim das armas nu­cle­ares e de des­truição ma­ciça;
  • Da exi­gência do res­peito e cum­pri­mento da Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa e das de­ter­mi­na­ções da Carta das Na­ções Unidas, pelo di­reito in­ter­na­ci­onal e pela so­be­rania e igual­dade dos povos.


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