Os nossos filhos e os filhos da outra

Manuel Gouveia

Na semana que passou, duas declarações sobre os nossos filhos serviram de alerta para o cheiro a fornos crematórios que emanam camadas crescentes das elítes europeias.

Um deputado do PP espanhol não teve pejo em afirmar que «seria necessário retirar aos pais comunistas a tutela dos seus filhos... e de seguida enviar estas crianças (e os pais também) sem perda de tempo para um campo de reeducação». Na Inglaterra, do mesmo Governo que em Setembro teve um ministro a afirmar que os jovens desempregados deviam ser enviados para a Índia para aprenderem a trabalhar, tivemos agora um outro ministro a teorizar que os desempregados deviam ser proibidos de ter filhos.

Estas declarações são novos exemplos da fascização das classes dominantes, fruto do pânico em que vivem mergulhadas. Presos num sistema que não funciona mas que lhes garante os previlégios, estão dispostos a tudo para o defender. Acreditando ter encontrado uma solução para os seus problemas na brutal intensificação da exploração, no crescimento da agressividade militarista contra outros povos e na repressão (mais ou menos sofisticada) da resistência, trilham esse caminho sem qualquer hesitação. Mas também - inevitavelmente - sem qualquer hipótese de sucesso.

Mesmo condenados à derrota, são sumamente perigosos. E não pode haver hesitações nem ilusões. Têm que ser derrotados o mais depressa possível. Não só porque ao PECn seguir-se-à inevitavelmente o PECn+1. Mas principalmente porque quanto mais depressa os derrotarmos menores serão os estragos que causarão.

Mas também não pode haver precipitações. A inevitável ruptura com a política de direita será o resultado da acção dos trabalhadores e do povo e exige um grau de consciência, organização, unidade e determinação que só será atingido na luta de resistência à actual ofensiva das classes dominantes. Em Portugal como na Europa.

Aos nossos filhos, aos filhos dos trabalhadores e do povo, reservam as classes dominantes a mais negra noite. Só a nossa luta hoje lhes garantirá a alternativa: «a madrugada do dia inicial inteiro e limpo onde emergimos da noite e do silêncio e livres habitamos a substância do tempo».



Mais artigos de: Opinião

Construir um Portugal com futuro

Portugal enfrenta uma situação com uma gravidade sem precedentes desde o fascismo, que coloca ao povo português a necessidade de fazer opções quanto ao futuro, baseadas na análise das razões que nos conduziram à actual situação e no rumo capaz de a enfrentar e superar, na afirmação convicta que Portugal tem futuro, de que é possível um País mais desenvolvido e mais justo.

ESTE Orçamento

Eu não teria tanta imaginação para encontrar formas, cada uma mais catastrófica que a anterior, para caracterizar a situação em que o País ficaria se ESTE Orçamento de Estado não fosse aprovado. Economistas, politólogos, sociólogos, analistas...

Jogar à política, brincar com o fogo

O secretário-geral da OCDE disse à Lusa que sabe «muito bem» que a discussão do Orçamento «é o ponto alto do jogo partidário». Mas avisou, sobre a discussão em torno do Orçamento de Estado para 2011: «jogar à política como...

Os três magníficos

A avaliar pelas notícias e comentários vindos a público nos últimos dias, os três economistas que vão receber dez milhões de coroas suecas (1,079 milhões de euros), uma medalha de ouro e um diploma por terem sido distinguidos com o Nobel da Economia, deram um...

O FMI confessa-se

«No ano passado foram destruídos 30 milhões de postos de trabalho em consequência da crise económica internacional». Quem o afirmou foi o «insuspeito» director gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn. A afirmação, proferida...