Frutos da luta dos ferroviários
As reclamações dos trabalhadores da Refer na estação de Coimbra suscitaram uma exposição do Sindicato Nacional dos Trabalhadores Ferroviários à administração, mas esta não dava resposta. «Decidimos marcar uma greve naquele local de trabalho, para dia 30 deste mês, e recebemos, logo de seguida, da parte da Refer, o convite para uma reunião», marcada para anteontem à tarde, relatou o sindicato.
Em causa estão condições de trabalho e de segurança, em Coimbra A, devido à redução de pessoal após a reabertura do troço desde Coimbra B. Em vez de cinco agentes, passaram a estar apenas dois em cada turno, os quais têm que, sem falhas e com rapidez: receber os comboios na gare, pedir e conceder avanços, tratar da informação aos passageiros por interfonia e quadro electrónico, dar partidas, passar e receber telegramas e atender telefonemas, e coordenar a execução de manobras. No pré-aviso de greve, o SNTSF/CGTP-IN refere que ali há 94 comboios diários, com concentração maior nos períodos de ponta (manhã e tarde), e que a redução tem provocado atrasos. Tal situação não é aceitável, «só porque se tem que “poupar” dinheiro que depois é desperdiçado».
Com a acção do sindicato e a luta colectiva, os jovens ferroviários ao serviço da Refer conquistaram o direito às concessões em transporte, acabando com discriminações criadas pela empresa, que pretendeu reduzir despesas à custa dos trabalhadores mais recentes. O resultado obtido - como se refere no boletim Jovem Ferroviário, que apela à participação na luta nacional, dia 29 - deve motivar a continuação de igual acção noutras empresas, para que aquele direito seja garantido em todo o sector.
Foi pela luta que trabalhadores com vínculos precários foram integrados nas empresas. Mas a EMEF, que já tinha informado que ia seguir esse princípio, cessou o contrato a quatro operários, no Barreiro. Por iniciativa do sindicato, a ACT interveio e decidiu instaurar contra-ordenações, porque os contratos a prazo violavam a lei e os trabalhadores devem ser considerados efectivos.
Os «chefes» de Frei Tomás
«Isto acontece porque, ao longo dos últimos anos, premeditadamente, procura-se descredibilizar as empresas públicas, para justificar a sua privatização, e porque estas, ao mesmo tempo que reduziram substancialmente o número de trabalhadores (mais de 11 mil desde 1993, ano em que se iniciou o desmembramento da CP) passaram a ser, essencialmente, empresas de colocação de "boys" das forças políticas que estão no Governo» - comentou o SNTSF, a propósito de uma notícia publicada anteontem no Diário Económico, sob o título «CP é a empresa pública com mais chefias».
O sindicato afirma ainda que «os processos de reestruturação destas empresas são multiplicadores dos lugares de chefia e geradores de redução de postos de trabalho». É citado o exemplo da CP: «quando era empresa única, havia cinco administradores, hoje há dezenas de lugares de administração, mais dezenas de directores gerais e membros das comissões executivas»!
A notícia foi suscitada - tal como outras no mesmo sentido, surgidas no início do Verão - por uma série de requerimentos ao Governo, cujo primeiro subscritor foi o deputado Adriano Rafael Moreira, eleito pelo PSD no Porto, que é citado a clamar contra esta situação e pela redução das despesas.
«Mas ele está entre os que contribuíram para isto» - acusou José Manuel Oliveira. Em declarações ao Avante!, o coordenador do SNTSF lembrou que aquele deputado foi membro do Conselho de Gerência da CP, onde teve a área do Pessoal, e «nem era do sector ferroviário».
No seu currículo oficial, o advogado e deputado que agora esbraceja contra o excesso de chefias ostenta, até Novembro de 2006, os cargos de presidente do Conselho de Administração da TEX (que a CP viria a vender em Fevereiro de 2009) e de administrador da EMEF; e, até Janeiro de 2008, foi administrador da CP e da participada TIP.
Mas, «depois de sair da CP, ainda lhe arranjaram serviço na Refer», acrescentou o dirigente sindical.