«Mais Europa»

Vasco Cardoso

No dia em que mi­lhares de co­mu­nistas e muitos ou­tros de­mo­cratas fa­ziam em Lisboa o pri­meiro de três des­files contra as in­jus­tiças e o de­sastre eco­nó­mico e so­cial, reunia em Bru­xelas o Con­selho Eu­ropeu com a pre­sença dos chefes de Go­verno dos 27 países da União Eu­ro­peia, entre os quais, o pri­meiro-mi­nistro Só­crates.

Seria in­génuo ab­so­lu­tizar o papel que cada uma destas reu­niões com­porta, até porque, na mai­oria dos casos, trata-se de uma for­ma­li­zação de de­ci­sões pre­vi­a­mente co­zi­nhadas entre as grandes po­ten­cias, mas não deixa de ter sig­ni­fi­cado o con­junto de ori­en­ta­ções con­sa­gradas nesta reu­nião. Não porque te­nhamos as­sis­tido a uma rup­tura, ou se­quer, a um ques­ti­o­na­mento da na­tu­reza ou do rumo de in­te­gração ca­pi­ta­lista da UE, mas porque novas me­didas e ori­en­ta­ções foram to­madas para apro­fundar as po­lí­ticas que es­ti­veram na origem da ac­tual crise.

A hora é de um salto em frente no pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista da União Eu­ro­peia.

Cada vez mais dis­tantes das pro­messas de co­esão so­cial e cres­ci­mento eco­nó­mico, as grandes po­tên­cias (com a Ale­manha à ca­beça) sob a con­signa de «mais Eu­ropa» – um eu­fe­mismo para pro­mover o roubo de novas par­celas de so­be­rania a cada um dos Es­tados – avançam com a su­jeição dos or­ça­mentos na­ci­o­nais a um visto prévio da União Eu­ro­peia, com a im­po­sição de «san­ções» e a re­ti­rada de di­reitos aos Es­tados mem­bros que se des­viem da or­to­doxia mo­ne­ta­rista que en­volve o Euro e fa­vo­rece o grande ca­pital. Falam aber­ta­mente de «go­verno eco­nó­mico», mas têm no ho­ri­zonte um «go­verno po­lí­tico». Ao mesmo tempo que ig­noram pro­messas re­centes sobre o «fim dos off-shores» ou a ta­xação dos grandes grupos eco­nó­micos e do ca­pital fi­nan­ceiro, con­cen­tram toda a pri­o­ri­dade na di­mi­nuição das des­pesas so­ciais e dos sa­lá­rios, em novas li­be­ra­li­za­ções e pri­va­ti­za­ções de ser­viços, em novas al­te­ra­ções na le­gis­lação la­boral e no avanço da idade da re­forma, me­didas essas que são aqui aplau­didas e con­cre­ti­zadas.

Com esse rumo de de­sastre que põe em causa a so­be­rania e a in­de­pen­dência na­ci­onal estão há muito com­pro­me­tidos o PS, o PSD e o CDS, e estão com­pro­me­tidas também as classes do­mi­nantes do nosso país a quem serve esta po­lí­tica. Um com­pro­misso que nem a for­tís­sima ins­tru­men­ta­li­zação de ge­nuínos sen­ti­mentos po­pu­lares de or­gulho e apoio à Se­lecção Na­ci­onal, que dis­puta du­rante este mês o cam­pe­o­nato do mundo de fu­tebol, con­segue dis­farçar.



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