O «apagão»
Em menos de um mês, o Ministério da Justiça fez desaparecer da sua base de dados oficial 14 721 crimes cometidos com recurso a armas de fogo. «O número que constava em Maio era de 28 192», informa o Diário de Notícias em primeira página, «e agora é 13 471, o que significa uma diferença superior a metade».
O Ministério da Justiça justifica-se com a «necessidade de uniformizar as estatísticas para evitar duplicações de crimes», mas o que, de concreto, daqui resulta é apenas a mágica e repentina «descida» para metade dos crimes perpetrados com recurso a armas de fogo... Não é por acaso que os partidos da oposição vão pedir uma audição urgente com o ministro da tutela, Alberto Martins.
O Governo de Sócrates já cometera o milagre da «multiplicação das notas positivas» nas escolas com a descida drástica do grau de dificuldade dos pontos de exame. Agora também diminui o crime violento para metade «apagando» os registos nas bases de dados oficiais. É só vitórias e sucessos!
Escutas
O juiz do processo Face Oculta, Costa Gomes, justificou o envio para a comissão de inquérito dos resumos de 173 escutas referentes ao «caso TVI» com esta declaração: «Não temos dúvidas em afirmar que o caso TVI apenas se percebe com a análise de tais produtos». Esta declaração do magistrado foi escrita num despacho, distribuído aos deputados da comissão de inquérito pelo deputado Pacheco Pereira (PSD).
Todavia, o presidente da comissão parlamentar de inquérito ao «caso TVI», Mota Amaral (PSD), ordenou a proibição da divulgação de tais escutas aos membros da comissão de inquérito. Será que não quis «perceber» o que se passava... ou simplesmente pretendeu impedir que a comissão percebesse?
Assessores
O Governo de José Sócrates, em conluio com o PSD de Passos Coelho, coreografou uma «manobra de poupança governamental» determinando a redução de 5% aos salários de todos os cargos políticos – ministros, secretários de Estado, deputados, etc. Com uma preciosa excepção: os assessores!
Pelos vistos, os milhares de assessores que pululam pela administração pública em expressa cooptação política, determinada caso a caso por decisão (e assinatura) de um qualquer responsável político, não são «políticos», não tratam de política, não vivem da política nem desempenham nada de «político» na administração pública!
Por esta decisão dos políticos que nos governam se escancara a «qualidade política» que os enforma...
Aliás, será devido a isso – à escassa qualidade que os enforma – que se deverá o recrutamento maciço de assessores: é que precisam todos muito uns dos outros para continuarem, alegremente, a singrar nas abundâncias do poder.
Promoções
O comércio em geral – que é como quem diz as lojas que o realizam – entraram já nas «promoções» de Verão, apesar de ainda não termos entrado nessa «estação» - e chamam-lhe «promoções» porque não lhe podem chamar o que realmente são – saldos.
Explicação curta e grossa para a reedição do caso (que se repete e multiplica todos os anos): quebras na facturação, ou seja quebras nas vendas.
Com tantas quebras, mais dia menos dia colocar-se-á a questão central – a de que é preciso é quebrar, forte e feio, esta política capitalista que só espalha a miséria e a desigualdade.