Dois crimes no Mediterrâneo
O massacre perpetrado por Israel contra a freedom flotilla é um acto de terrorismo de Estado, um crime contra o povo palestiniano, contra os demais povos deste nosso mundo, um crime de guerra.
O assalto à Flotilha da Liberdade é mais uma provocação aos países da região
O ataque às embarcações que se dirigiam para a Palestina foi, sob os mais variados aspectos, uma gravíssima violação do direito internacional, um verdadeiro acto de pirataria, tão mais grave quanto praticado em águas internacionais e contra uma frota transportando dez mil toneladas de ajuda humanitária.
Mas não foi apenas isso. A tomada de assalto e pela força de 7 barcos, o roubo da carga destinada a acudir às vítimas do bloqueio a Gaza, o assassinato de 9 civis desarmados, o ferimento de dezenas de activistas, a prisão de cerca de 700 pessoas e sua posterior expulsão como se de criminosos se tratasse, a censura imposta pelo exército aos órgãos de comunicação social durante a retenção dos activistas em Israel e os maus tratos e torturas físicas e psicológicas infligidas a alguns dos prisioneiros, agora denunciadas pelo governo turco, não são um qualquer erro ou acto isolado e irreflectido do governo presidido por Netanyahu.
Estamos perante um crime premeditado, preparado durante a estadia em Telavive do Chefe de Gabinete do Presidente Obama, parte e elemento da agenda provocatória de Israel, expressão concreta dos seus métodos fascistas e da sua política de terrorismo de Estado. Um crime que visou demonstrar pela força e pelo terror a impunidade de Israel e a sua criminosa intenção de continuar a fazer da Faixa de Gaza uma gigantesca prisão a céu aberto, onde mais de 80% da sua população depende da doação de alimentos para sobreviver.
O assalto à Flotilha da Liberdade é por isso uma premeditada intensificação do ilegal e criminoso Bloqueio a Gaza e sobretudo mais uma provocação de Israel aos países da região, incluindo tradicionais aliados como a Turquia, indissociável da sua agenda de terror sionista e imperialista para o Médio Oriente sempre tolerada e mesmo apoiada pelos EUA e pela União Europeia e bem demonstrada no assassinato anteontem de cinco palestinianos nas praias de Gaza.
Silêncio cúmplice
Mas se o ataque à Flotilha no Mediterrâneo é mais um crime de Israel que pode ter consequências terríveis para a situação na região e ser parte de uma estratégia para uma nova matança em Gaza, a hipocrisia, os silêncios e a cumplicidade que marcam a reacção da chamada «comunidade internacional» é igualmente criminosa e diz muito sobre o Mundo em que vivemos e o sistema que o domina.
As reacções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, do «Nobel» Presidente Obama, da União Europeia, Alemanha e NATO são chocantes exercícios de hipocrisia, expressões «diplomáticas» da conivência com a agenda terrorista de Israel e uma triste demonstração do grau de instrumentalização a que chegaram instituições como a ONU. Entre «lamentos» e «inquéritos» o que sobressai é que as grandes potências imperialistas, as instituições por si controladas e os media ao seu serviço dão todo o espaço e tempo a Israel para prosseguir a sua estratégia de inverter os papéis e transformar os agressores em agredidos e os agredidos em «perigosos terroristas», exactamente a mesma estratégia que usam para justificar os crimes contra o povo palestiniano.
O que sobressai é que os criminosos dirigentes israelitas agem desta forma porque descansam na impunidade de que gozam nas instâncias internacionais e no apoio garantido pela União Europeia e pelos EUA.
Apoio aliás bem expresso na decisão de Barack Obama de entregar a Israel este ano material militar no valor de 2 mil e oitocentos milhões de dólares; no apoio dos EUA e da União Europeia à entrada de Israel para a OCDE ou na manutenção e mesmo aprofundamento de acordos económicos e militares de Israel com a União Europeia. Apoio a que, vergonhosamente, Portugal não falha, seja pela inconstitucional e seguidista reacção ao ataque israelita à flotilha seja pelos acordos económicos que insiste em manter com Israel. Por iniciativa do PCP, o ministro Luís Amado foi chamado ao Parlamento e aí não haverá retórica diplomática que lhe permita fugir à inevitável questão: de que lado está o Governo português? Dos que praticam pirataria no Mediterrâneo e assassinam civis, ou do lado do Direito Internacional, da Constituição da República Portuguesa, do mártir povo palestiniano e das 38 nações representadas naqueles barcos e agredidas no passado dia 31 de Maio?