Os dois mundos
O «Prós e Contras» de Fátima Campos Ferreira (FCF) tem, geralmente, a particularidade de não se perceber muito bem de que é que uns são pró e de que é que outros são contra.
Não é seguramente um problema dos ilustríssimos convidados de FCF. As pessoas têm as opiniões que têm e ninguém as pode culpar por isso. O problema é que, tendo FCF um programa de contraditório (como o próprio nome indica), insiste em convidar personalidades que têm, como ela sabe bem, opiniões que são tudo menos divergentes.
Aliás, até se poderia dizer que o convidado tipo daquele programa será uma pessoa que não questione o rumo da política de direita dos últimos 34 anos, e que, tendo opiniões muito semelhantes às dos seus interlocutores, seja capaz de animar a conversa naquele fim de noite. E algum convidado que saia desse registo é, quase sempre, a excepção que confirma a regra.
Ou seja enquanto na rua se acentua a luta e a crítica, por lá o debate ameno impera.
No programa da semana passada não foi diferente. Para falar da agricultura nacional, dois convidados cujas distâncias mais significativas se situam no momento em que foram ministros.
Lá estavam Arlindo Cunha, que foi Ministro da Agricultura no momento da revisão da PAC (Política Agrícola Comum) em 92, e António Serrano, actual Ministro que vai gerir as negociações da Reforma da PAC pós 2013, que agora se iniciam. Na plateia, dirigentes das quatro confederações nacionais mais os principais dirigentes da CAP e outra gente de sucesso.
Quem ouviu aquele debate seguramente se interrogará sobre de que mundo era a agricultura de que falava aquela gente. À excepção das intervenções do representante da AJAP e da CNA, que colocaram, na medida que lhes foi permitido, os reais problemas da agricultura nacional, o que se pretendeu foi passar a ideia de estamos no melhor dos mundos, sintetizado na expressão de FCF, «agora é o tempo da agricultura». Das falências e dos encerramentos de explorações, dos custos dos factores de produção, dos baixíssimos preços à produção, pouco ou nada!
Cunha, que cavou a sepultura da agricultura nacional enquanto Ministro, e Serrano que, dialogante, prossegue esse rumo, como não podia deixar de ser, encontraram-se no percurso.
E eu lembrei-me logo que Cunha deve ter aproveitado para dar conselhos a Serrano sobre como cantar vitória depois da próxima reforma da PAC.
No mundo deles é assim!