120 anos depois...

Albano Nunes

Os trabalhadores gregos estão neste momento na primeira linha de um combate de classe

Tudo indica que as celebrações do 1.º de Maio foram no plano mundial uma grande jornada de festa e de luta. 120 anos depois da sua consagração como Dia Internacional do Trabalhador, o 1.º de Maio permanece como ponto de convergência e bandeira de luta contra a exploração e opressão capitalista e por uma vida melhor.

Assim aconteceu em Portugal onde por todo o país soou bem alto a oposição dos trabalhadores à ofensiva brutal contra os seus direitos e condições de vida que o PEC significa. E assim aconteceu também na América Latina, nomeadamente em Havana com a poderosa manifestação de massas que, na sequência das eleições para o poder popular, confirma a determinação do povo cubano de defender a sua revolução socialista; na Turquia, na Palestina, na Índia e em numerosos países da Ásia e África; em Espanha, França, Alemanha, Grécia e na generalidade dos países da Europa, apesar do peso do sindicalismo reformista.

 

Na Grécia as manifestações do 1.º de Maio constituíram uma nova e forte expressão da persistente e corajosa resistência dos trabalhadores à brutal ofensiva contra as suas condições de vida e os seus direitos, resistência em que os comunistas e o sindicalismo de classe organizado na Frente Militante de Trabalhadores (PAME), desempenham papel fundamental. Trata-se de uma luta cuja importância ultrapassa as fronteiras do país, que diz respeito a todos os trabalhadores, nomeadamente aos trabalhadores portugueses, não apenas porque estão também sob o fogo do capital financeiro e são alvo das mesmas receitas brutais que a «grande» Alemanha, a União Europeia e o FMI estão a exigir à Grécia e que o governo «socialista» se propõe implementar, mas porque os trabalhadores gregos estão neste momento na primeira linha de um combate de classe que é também um combate de civilização, tão grave é a regressão que aí se procura impor e estender a outros países. O eventual triunfo do grande capital financeiro (de que a Standard & Poor`s e demais agências de rating são meros instrumentos) na duríssima prova de força que se verifica na Grécia, encorajaria a reacção e tornaria muito mais difícil resistir à política de salame com que as classes dominantes pretendem destruir conquistas históricas dos trabalhadores e dos povos.

 

Na Grécia, como em Portugal, não está só em causa (e já seria muitíssimo) o propósito de fazer pagar à classe operária e a quem trabalha as fabulosas injecções de capital usadas para salvar a Banca e os lucros dos monopólios e que são a principal causa de endividamento dos estados. Está sobretudo em causa a concretização de projectos de grande alcance, que cresceram com as derrotas do socialismo e que têm vindo a ser metodicamente aplicados visando institucionalizar recuos de dimensão histórica em matéria de repartição do rendimento, contratação colectiva, horário de trabalho, idade de reforma, segurança social, direitos sindicais, tudo quanto rebaixe o preço da força de trabalho.

 

O 1.º de Maio foi uma grande jornada de convergência de lutas e de solidariedade internacionalista. É nesse caminho que é necessário continuar. Os 120 anos decorridos desde a histórica decisão de internacionalizar a data dos dramáticos acontecimentos de Chicago, mostram que não há outro. Os grandes avanços libertadores desde então verificados – primeiros empreendimentos de construção do socialismo, conquistas dos trabalhadores nos países capitalistas, derrocada dos impérios coloniais, derrota do nazi-fascismo e outras – exigiram organização, luta, sacrifícios, rupturas, saltos revolucionários.

É tendo isto bem presente que concentramos forças nas batalhas imediatas, damos a nossa activa contribuição para que a manifestação nacional de 29 de Maio anunciada pela CGTP seja uma grande acção de massas, expressamos aos trabalhadores da Grécia e a quantos resistem à ofensiva do capital a activa solidariedade dos comunistas portugueses.



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