Mais que todos os outros

Vasco Cardoso
Muitos dos leitores do jornal Público – que há longos meses não põe os pés numa iniciativa do PCP - terão sido surpreendidos pela opção de na passada 2.ª feira o PCP ter sido chamado para destaque de primeira página. A manchete «PCP tem mais imóveis que todos os outros partidos juntos», acompanhada de uma vistosa fotografia do Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa, surge como um oásis no deserto que são as chamadas de capa sobre o PCP no jornal de Belmiro de Azevedo.
A notícia em si não tem nenhuma novidade. Baseia-se num relatório da Entidade das Contas e Financiamento Partidário de 2006 (com conclusões idênticas às que haviam sido tomadas em 2005). O interesse, na óptica do jornal de Belmiro de Azevedo, só poderá estar em juntar duas coisas aparentemente diferentes, embora com o mesmo antidemocrático objectivo: toda a família de artigos, peças, reportagens e coisas afins, com que frequentemente zurze nos partidos e na vida política sem distinções, e a sempre bem sucedida linha editorial anti-pê-cê-pê que quis desta vez tentar encontrar um novo filão para velhas especulações.
Estranho seria porventura se nas mesmas páginas deste jornal aparecessem títulos como estes: «PCP apresenta mais propostas na Assembleia da República do que todos os outros partidos juntos»; «PCP mobiliza mais militantes e apoiantes do que todos os outros partidos juntos»; «PCP tem mais intervenção do que todos os outros partidos juntos».
Felizmente que o PCP não só é «mais que todos os outros» em muita coisa, como é diferente. Diferente na ideologia, no projecto, na história e prática política. Diferenças dignas de um partido comunista e que são inseparáveis da sua natureza e posicionamento de classe. Diferenças que - num momento em que procuram ir mais longe na ofensiva contra os trabalhadores e o povo português - fazem toda a diferença. E por isso fazem de conta que os partidos são todos iguais. E por isso fazem leis antidemocráticas como a lei dos partidos e do seu financiamento. E por isso silenciam e caricaturam o PCP. E só se engana quem julga que o jornal Público – que desde a sua criação há 20 anos só dá «prejuízos» a Belmiro de Azevedo – não sabe aquilo que faz.


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