Pela abolição das armas nucleares!
Deve ainda ser dada a devida atenção à anunciada revisão da estratégia nuclear norte-americana
Com a aproximação da Conferência do Tratado sobre a não proliferação das armas nucleares (TNP), que se reunirá sob os auspícios da ONU, em Nova Iorque, de 3 a 28 de Maio, os EUA ensaiam o que podemos apontar como uma grande manobra, tentando escamotear que, no fundamental, procuram afinar a táctica para melhor continuar a sua estratégia. O significado do acordo para a redução do número de ogivas nucleares entre os EUA e a Federação Russa, embora positivo se vier a ser efectivamente aplicado, não deverá ser descontextualizado dos seus pressupostos (a necessidade estratégica, as questões de segurança e os custos de manutenção que são colocados por vastos arsenais nucleares, recursos que poderiam ser usados para outros fins), do seu real alcance e da situação internacional em que tem lugar, caracterizada pela ofensiva imperialista. As declarações de Robert Gates, secretário da Defesa dos EUA, no preciso momento em que anunciava este novo tratado, são clarificadoras. Gates assegura que o arsenal nuclear continua a ser um pilar para os EUA e que a redução do número de ogivas não coloca em causa o poder da sua «tríade nuclear», isto é, das suas forças nucleares estratégicas (bombardeiros, submarinos e mísseis). Mais, Gates sublinha que o presente acordo com a Federação Russa em nada impedirá os EUA de desenvolver e instalar novos sistemas de mísseis ou de reforçar em milhões de dólares o orçamento para as infra-estruturas nucleares de modo a manter intacto todo o seu potencial de utilização. Deve ainda ser dada a devida atenção à anunciada revisão da estratégia nuclear norte-americana - o único país a ter utilizado a arma nuclear, em 1945, em Hiroshima e Nagasaki -, por exemplo, quanto à justificação da manutenção, à modernização, ao desenvolvimento e à definição das circunstâncias do recurso às armas nucleares (nomeadamente a doutrina de «primeiro ataque nuclear») e se, como é alertado, esta é acompanhada por «um maior papel das armas convencionais de dissuasão». O secretário-geral da NATO, Rasmussen, também não deixa o mal por mãos alheias. Antecipando a cimeira ministerial que se realizará dias 22 e 23 de Abril, na Estónia, Rasmussen declara que a NATO deverá (re)afirmar no seu «novo» conceito estratégico que continuará baseada em capacidades convencionais e nucleares (!), incluindo o desenvolvimento de um sistema míssil (que já dá os primeiros passos no Mediterrâneo, na Roménia e na Bulgária). Depois de clarificado o real (e delimitado) alcance do actual acordo de redução dnúmero de armas estratégicas nucleares, compreende-se melhor as intenções expressas pela secretária de Estado Hillary Clinton, quando declara que os EUA «aparecem agora com mais credibilidade» (?) para, por exemplo, melhor poderem exercer pressão sobre o Irão. É pois brandindo novos passos na escalada contra o Irão, com a tentativa de imposição de novas sanções a este país, que a Administração norte-americana promove a realização de uma «cimeira sobre segurança nuclear», dias 12 e 13 de Abril, em Washington, que antecipa a Conferência das Nações Unidas, prevista para Maio (que procurará condicionar, centrando na não proliferação e secundarizando o desarmamento nuclear, previsto no TNP). É pois de redobrada importância a exigência de uma efectiva política de desarmamento que, entre outros aspectos, assegure a não ameaça ou utilização das armas nucleares, que impulsione a plena e global aplicação do TNP e de outros tratados pertinentes - designadamente pelas potências nucleares -, que promova a segurança e a desmilitarização das relações internacionais, a abolição e destruição de todas as armas nucleares e uma política global de desarmamento.