Fim-de-semana de luta nos EUA

Contra a guerra e por direitos

Centenas de milhares de pessoas participaram nas marchas contra as guerras do Iraque e Afeganistão, e dos trabalhadores imigrantes em defesa da reforma da legislação migratória, movimentações de massas que demonstram o recrudescimento da luta na América do Norte.

«Pre­ci­samos de es­colas e em­pregos, não de guerras», re­pe­tiram os ma­ni­fes­tantes

No sábado, em mais de meia centena de cidades e localidades de todo o país, assinalou-se a passagem do sétimo aniversário da invasão e ocupação do Iraque, data à qual ANSWER e as demais organizações promotoras associaram igualmente o repúdio à invasão e ocupação do Afeganistão, que precedeu a guerra no Médio Oriente. Em grandes metrópoles como Los Angeles, São Francisco, Nova Iorque ou Seatle, os protestos foram de dimensão considerável, mas foi na capital, Washington, que se concentrou o maior número de manifestantes. Vindos de todo o país em centenas de autocarros, os participantes deitaram, desde cedo, mãos à obra. Desfraldaram bandeiras do Iraque, do Afeganistão, da Somália, da Palestina e de outros territórios onde o imperialismo promove guerras de rapina; construíram caixões de madeira em homenagem aos soldados norte-americanos mortos nos conflitos, reportaram os meios de informação que, desalinhando com a bitola dominante, não ocultaram as acções de contestação. Ao cortejo juntaram-se grupos de veteranos, que sublinharam em declarações à comunicação social a exigência do imediato regresso das tropas deslocadas em conflitos, não apenas injustos como impossíveis de vencer. Por volta da hora do almoço, cerca de dez mil manifestantes (três mil, disse a polícia), saiu da praça Lafayette, frente à Casa Branca. Seguiu pelo centro da cidade entoando palavras de ordem como «guerra é terrorismo» e «precisamos de escolas e empregos, não de guerras». Pelo caminho, deixaram alguns caixões frente ao edifício da Haliburton, empresa para quem a guerra imperialista tem sido, no mínimo, generosa, e à porta do Washington Post, diário que os manifestantes acusam de ser pró-guerra. Frente à sede da Associação de Banqueiros colaram notícias de hipotecas executadas contra famílias esmagadas pela crise capitalista. Pro­testo amor­da­çado Cumprido o percurso pela baixa de Washington, os manifestantes antiguerra regressaram à porta da Casa Branca. Ali, escutaram discursos que arrolaram as consequências da política imperialista de guerra e opressão e sublinharam que os norte-americanos que partem para a frente de batalha não são mais do que carne para canhão ao serviço dos interesses do capital. Estudantes e trabalhadores lembraram a brutalidade da crise capitalista, cuja factura lhes tem sido imposta. Muitos voltaram à luta desiludidos com a administração Democrata, a qual, acusam, defraudou as expectativas populares criadas durante a campanha eleitoral, declararam à imprensa presente no local. Em jeito de fim de festa na «pátria da liberdade e da democracia», cinco homens e três mulheres foram detidos por violação do regulamento de manifestações públicas frente à sede do governo. Entre os presos estava Cindy Sheehan, mãe de um soldado norte-americano morto em combate no Iraque que, como os demais manifestantes levados pelas autoridades, cometeu o «crime» de se sentar no passeio, frente à Casa Branca, onde, como forma de protesto, pretendia depositar a réplica de um caixão. Antes, já a polícia havia proibido os veteranos de guerra de deixarem pintado no passeio uma imagem da sua organização. O objectivo era impedir que a manifestação deixasse marcas que outros, ao passearem por ali, possam identificar como sinais do profundo descontentamento popular que grassa nos EUA face às guerras de agressão. Repúdio que, no que toca à orientação belicista, parece voltar a recrudescer, passada a ilusão semeada com a eleição de Barack Obama. Imi­grantes vol­taram à rua Menos de 24 horas depois da manifestação antiguerra, entre 150 a 175 mil trabalhadores imigrantes invadiram Washington numa marcha onde exigiram a reforma da legislação migratória. A manifestação ocorreu cerca três anos depois de movimentações de massas sem precedentes, realizadas por todo o país, com o mesmo objectivo, envolvendo milhões de trabalhadores. Enquanto no Congresso os deputados republicanos e democratas discutiam a polémica reforma da saúde, nas ruas da capital norte-americana a multidão cobrava ao presidente a promessa feita durante a corrida para a Casa Branca, nomeadamente a revisão das normas que negam uma legalização justa a milhões de pessoas mantendo-as mais vulneráveis à precariedade, aos baixos salários e a outras formas de exploração que, não raras vezes, atingem contornos extremos próximos da servidão. Os trabalhadores imigrantes lembraram alto e bom som que já esperaram demasiado tempo para que seja feita justiça, por isso pretendem medidas rápidas e eficazes que solucionem as suas reivindicações. Contrariamente ao dia anterior, a administração liderada por Barack Obama conseguiu refrear o calor das massas em protesto. Num golpe de asa, frente à Casa Branca foram instalados ecrãs gigantes que reproduziram uma mensagem gravada pelo presidente. Obama reiterou o compromisso com a reforma migratória e prometeu avançar o mais depressa possível nesse sentido. Muitos dos presentes, a maioria, dizem os meios de comunicação social que cobriram a manifestação, sairam convencidos pela operação de manipulação. De todo o modo, não é de menor importância que dezenas de milhares de trabalhadores imigrantes, muitos em condições de ilegalidade, tenham obrigado o presidente dos EUA a dirigir-se a eles, ainda que, claramente, numa fuga para a frente cujo desfecho é indeterminado. Certo é que caso proceda para com os trabalhadores imigrantes da mesma forma que procedeu quanto à retirada das tropas do Iraque e do Afeganistão, ou quanto ao encerramento do campo de concentração de Guantanamo, Obama coloca em risco milhões de votos em si depositados em 2008, quando cerca de 67 por cento dos hispânicos com direito a pronunciar-se nas urnas confiaram no então candidato democrata. Igualmente certo é que apesar das prisões, da repressão, da promoção do medo, da permanente campanha de adormecimento das consciências e de promoção da descrença e das inevitabilidades, estudantes, desempregados, trabalhadores autóctones e imigrantes, camadas médias empobrecidas pela crise capitalista, fazem subir o tom dos protestos e revelam cada vez menos receio em saírem para a rua em grandes demonstrações de descontentamento colectivo.


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