Dia 25 mostrou resistência em Lisboa

Persistir e ampliar a luta

Na última quinta-feira de Fevereiro, sindicatos e trabalhadores do distrito de Lisboa mostraram ao patronato e ao Governo que, contra dificuldades e chantagens, persiste forte determinação na defesa de salários justos e trabalho com direitos.

A acção descentralizada culmina a 26 de Março

O dia de luta terminou com uma concentração distrital frente ao Ministério do Trabalho, a meio da tarde. Um olhar mais atento permitia logo descortinar, entre as centenas de pessoas que ali gritavam energicamente palavras de ordem, reclamando emprego com direitos, salários e mudança de política, alguns grupos de trabalhadoras e trabalhadores que estavam em greve e que apresentavam, igualmente fortes e justas, razões próprias para um combate mais aguerrido. Destacavam-se os sectores da hotelaria e do comércio, bem como os jovens trabalhadores dos transportes e comunicações. Em greve, a nível nacional, durante todo o dia 25 de Fevereiro, o pessoal das cantinas, refeitórios e fábricas de refeições já tinha realizado, ao final da manhã, uma concentração frente à sede da associação patronal AHRESP (Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal), que não respondeu ainda à proposta reivindicativa apresentada pelos sindicatos em Outubro, estando por actualizar os salários desde Janeiro. Também em greve nesse dia, contra uma falência fraudulenta e um administrador que não pagou os salários e anunciou um despedimento colectivo de 24 pessoas, as trabalhadoras e os trabalhadores do Bingo do Estrela da Amadora tiveram forte presença na Praça de Londres. No final da concentração decidiram mesmo, num plenário sindical que ali realizaram, avançar para uma nova paralisação. Entre os cartazes exibidos pelos trabalhadores do comércio, muitos dos quais se identificavam com o Pingo Doce, alguns reproduziam uma afirmação do patrão do Grupo Jerónimo Martins (vice-presidente da associação patronal APED) contra os salários baixos - que continuam a imperar nos super e hipermercados, não obstante as peremptórias declarações de Soares dos Santos, em Novembro. Do palco, pelas vozes de dirigentes da Interjovem e da União dos Sindicatos de Lisboa, ouviram-se referências a estas lutas e a outras, como as greves na Centralcer (nesse mesmo dia, com adesão de 60 por cento, parando a produção na cervejeira de Vialonga), na Cimianto, na Secil, no INEM, na Cel-Cat, na Unilever Jerónimo Martins (com produção parada nas Indústrias Lever), nas confecções Pluvia, na Such... Libério Domingues, coordenador da USL e membro da comissão executiva da CGTP-IN, saudou as lutas e o empenhamento dos sindicatos na realização de um largo conjunto de acções, nas empresas e com impacto público, e evocou os 40 anos da Intersindical Nacional, que se completam no dia 1 de Outubro, como hino à luta dos trabalhadores e de quem não baixa os braços e acredita num mundo melhor. Manuel Carvalho da Silva, secretário-geral da Inter, também referiu empresas e sectores em luta, nestes dias, para salientar a necessidade de prosseguir e ampliar o combate, reafirmando que a saída para os bloqueios, a que hoje chamam crise, só é possível com a mobilização e luta dos trabalhadores. Reconheceu que esta é hoje mais difícil, devido à ameaça do desemprego e à elevada precariedade de emprego, motivo por que a concretização de lutas tem ainda mais significado. Marcando «hora de mudar» neste «tempo de lutar», a resolução aclamada pelos manifestantes traça um retrato do agravamento do desemprego (mais 30,9 por cento, num ano), da precariedade (que afecta 270 mil trabalhadores e é especialmente grave entre os jovens), dos despedimentos colectivos (o número de empresas mais que duplicou, no último ano) e dos salários baixos (mais de um quarto dos trabalhadores recebe menos de 600 euros por mês) no distrito - enquanto os bancos aumentam os lucros e recebem protecção do Governo e, na contratação colectiva, este toma uma clara opção de apoio ao patronato. Por todo o País 3 Março - Plenário de sindicatos, em Beja, e deslocação ao governo civil, para entrega de um documento sobre a situação social no distrito. 4 Março - Greve geral na Administração Pública. 5 Março - Tribuna Pública na Praça da República, em Viana do Castelo, às 10 horas. 11 Março - Encontro de dirigentes, delegados, activistas e reformados do distrito de Santarém, no Jardim da República, às 14.30 horas, e deslocação ao Governo Civil. 12 Março - Jornada nacional no âmbito da Fiequimetal, com greves e acções de rua, pelos salários, emprego e direitos. Concentração e manifestação em Braga, na Avenida Central, encerrando uma semana de luta contra a precariedade e o desemprego. Vigília junto ao Governo Civil de Portalegre, culminando a «Semana do desassossego» no distrito. 15 Março - Concentração às 17 horas, na Praça Barão da Batalha, em Abrantes. Às 15 horas, trabalhadores da Metanova vão ao Tribunal do Trabalho reclamar créditos com mais de 25 anos. 16 Março - Concentração em Torres Novas, no Jardim da Avenida Dr. João Martins de Azevedo (defronte dos CTT), às 17 horas. 18 Março - Concentração junto à Câmara Municipal de Coruche, às 17 horas. 19 Março - Plenário no Largo da Misericórdia, em Setúbal, às 14.30 horas. Concentração em Tomar, na Praça da República, às 11.30 horas. 26 Março - Manifestação nacional da juventude trabalhadora, em Lisboa.


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