O grande partido da esquerda democrática

Margarida Botelho
«A melhor defesa é o ataque», devem ter pensado os estrategas do PS que, acossados pela divulgação das investigações a propósito do chamado caso Face Oculta, decidiram passar à ofensiva. Nada melhor do que tocar a reunir as hostes e apelar ao envolvimento dos militantes – «das bases», como se diz no PS.
Foi neste contexto que o país ficou a saber que o Secretariado Nacional do PS não reunia há quatro meses. Quatro. O que significa pelo menos desde Novembro. Segundo a comunicação social, o Conselho Nacional ia pelo mesmo ritmo de reuniões.
Sobra a pergunta: se estes organismos não reunem, quem decide? A resposta parece óbvia: será o secretário-geral-barra-primeiro-ministro José Sócrates, acompanhado de quem concorde com ele, devidamente inspirados pelos interesses dos grandes grupos económicos.
Já se sabia que no PS – e poderíamos dizer o mesmo dos outros partidos – os congressos são bonitos espectáculos televisivos e que o auge da participação a que um militante pode aspirar é escolher a moção do chefe. Que era assim tanto é que confirmámos agora.
Não se quer com esta reflexão alimentar a esperança de que as políticas seriam outras se os senhores discutissem colectivamente. O mais certo é que fossem exactamente as mesmas: de direita e submissas ao grande capital. O que se pretende suscitar é que este funcionamento vem do partido que, pelo menos há umas semanas atrás, tinha como lema e decoração da sua sede nacional gigantescas lonas que gritavam «PS - o grande partido da esquerda democrática». Não bate a bota com a perdigota, pois não?
Da próxima vez que voltarem as atoardas anticomunistas sobre o PCP – um partido dogmático, fechado, sem democracia interna, e o blá blá blá do costume -, valerá a pena recordar este funcionamento do PS. Não para nos compararmos, porque se há coisa que os militantes comunistas prezam, cuidam e devem defender é a vida democrática e colectiva do nosso Partido. Mas para com mais serenidade e segurança denunciarmos o anti-comunismo e o preconceito.


Mais artigos de: Opinião

A besta de guerra…

Tendo como objectivo o «desenvolvimento» de um «novo» conceito estratégico até ao final de 2010, a NATO concluiu, no final de Fevereiro, a dita fase de «reflexão», iniciando a fase de «consulta» de cada um dos seus membros. Relativamente a Portugal, está anunciada a deslocação, em meados de Março, de elementos do grupo...

O despacho

De há uns tempos a esta parte tenho dado conta de que, seja por causa da idade ou por outros motivos que não são para aqui chamados por poderem remeter para essa coisa tenebrosa que se convencionou chamar de política, está a ser cada vez mais difícil acompanhar as minudências da vida nacional sem ficar com a sensação de...

Pluralidades

Anda para aí um barulho dos diabos a propósito da alegada tentativa de intervenção de altas figuras do PS, entre as quais pontua o Secretário-geral e Primeiro Ministro, para controlar órgãos de Comunicação Social. Daí até se concluir pela necessidade de garantir a independência dos órgãos de comunicação social públicos e...

Censura cirúrgica

Numa situação em que a quase totalidade dos média é propriedade do grande capital, é óbvio que a «liberdade de expressão e informação» que a Constituição da República Portuguesa consagra, não passa de uma bela frase...O capital investe nos média com o mesmo objectivo com que investe em qualquer outra área, sendo que,...