Significado e funções do associativismo desportivo (conclusão)
Pode criticar-se a actuação do clube, pôr em causa a sua estrutura e os objectivos que norteiam os seus responsáveis no presente, na medida em que grande parte do Movimento Associativo continua a utilizar «modelos» do passado e que deixaram de corresponder às necessidades do presente: isso até é indispensável e salutar. Pelas condições concretas da vida social actual e pela própria forma como se foi posicionando perante ela, em muitos casos o clube perdeu a flexibilidade que lhe permitiu, no passado, estar atento ao aparecimento das necessidades sociais e constituir-se como um local de grande iniciativa inovadora. Por outro lado, esta evolução foi de tal modo rápida e inesperada nos últimos 30 anos, que a antiga instituição não conseguiu recompor-se do choque entre a necessidade da inovação e rigidez das suas estruturas tradições e práticas.
Apesar da «crise», das acusações que lhe são feitas de incapacidade de gestão, acima de tudo das dificuldades que tem de enfrentar, o associativismo cultural desportivo e convivial, continua a constituir uma estrutura social com um peso significativo indesmentível na vida da Nação, fornecendo uma contribuição enorme não só para a vivificação do tecido social, mas também para a resolução concreta de um vasto número de problemas. No entanto, continuam as críticas ao Movimento Associativo e, o que é pior, mantém-se a recusa dos sucessivos governos em fornecer-lhe o apoio de que necessita.
Esta situação é provocada pela ausência de um autêntico reconhecimento destas funções vitais para a dinâmica da vida da comunidade. E essa falta de reconhecimento, é bom que fique claro, tem razões objectivos mas muito pouco confessáveis pelo poder dominante: de facto o que está em causa resume-se a uma questão – a partilha do poder. Por um lado, grita-se constantemente pela necessidade de construir uma nova cidadania (função que o clube pode desempenhar de uma forma particularmente eficaz) mas, por outro lado, negam-se os meios para que tal seja possível. Aliás, isso passa-se em todas as áreas (é ver o comportamento dos próprios políticos, das formas utilizadas pelos meios de comunicação social, o funcionamento e os meios fornecidos à escola, a forma como actua a justiça, etc., etc.) que tocam, de uma outra forma mais ou menos intensa, nesta questão – a «nova cidadania» não é mais do que a «cidadania» pura e simples, mas que, pelos vistos, tem de ser «rejuvenescida». Os clubes disputam o poder no território do próprio «poder», ou seja, aos políticos, sejam nacionais, regionais ou locais. Os dirigentes associativos exercem, naturalmente, um certo tipo de poder que estrutura aspectos essenciais do funcionamento democrático da comunidade.
É aqui que está o busilis: os políticos – «políticos», que se entronizam abusivamente num poder que a plena democracia não lhes outorga, põem em causa a acção política de quem quer participar no dia a dia da política. Para estes aqueles reservam o simples acto de votar ao mesmo que sonegam, manipulam ou deturpam a informação indispensável para o cidadão exercer, em plena consciência e conhecimento de causa, as suas escolhas.
O clube constitui, evidentemente ao lado de outras formações sociais, um local de construção desse civismo, intervindo directamente na dinâmica social. E isso não é nem cómodo nem conveniente para quem detém o poder. Por isso, convém limitar a sua iniciativa fundamentalmente através da negação de meios de acção.
Verifica-se assim um enorme fosso entre os meios de que pode dispor para as desempenhar e a sua contribuição para a dinamização da vida do tecido social. Contudo esta é extensa e de enorme valor, mesmo no caso daqueles clubes que vivem com maiores dificuldades: capacidade em exprimir uma solidariedade que já não se encontra nem da parte do Estado, nem de outras instituições; contribuição material e imaterial para a consolidação do tecido social; factor de transformação e inovação social constituindo um importante local de experimentação de novas soluções; elemento de economia significativa através do investimento humano voluntário benévolo que desempenha funções que, de outra forma, ficaria extremamente oneroso (economia social); integração de um largo conjunto de actores, benévolos e profissionais (dirigentes, seccionistas, técnicos, funcionários, etc.) num projecto comum, de carácter colectivo e de raiz social; factor de expressão de uma atitude desinteressada capaz de, no exterior do sistema economicista, definir soluções de integração social e de expressão cultural.
Tudo isto demonstra o erro em que caiem aqueles que estão desejosos de liquidar uma das mais importantes expressões culturais e de solidariedade humana, que informam a sociedade. Por isso é essencial reconhecer a especificidade própria do clube que assenta numa lógica que não pertence, nem ao domínio mercantil, nem ao do sector público. E que, naturalmente, está completamente no exterior da visão neoliberal do funcionamento da sociedade.
Apesar da «crise», das acusações que lhe são feitas de incapacidade de gestão, acima de tudo das dificuldades que tem de enfrentar, o associativismo cultural desportivo e convivial, continua a constituir uma estrutura social com um peso significativo indesmentível na vida da Nação, fornecendo uma contribuição enorme não só para a vivificação do tecido social, mas também para a resolução concreta de um vasto número de problemas. No entanto, continuam as críticas ao Movimento Associativo e, o que é pior, mantém-se a recusa dos sucessivos governos em fornecer-lhe o apoio de que necessita.
Esta situação é provocada pela ausência de um autêntico reconhecimento destas funções vitais para a dinâmica da vida da comunidade. E essa falta de reconhecimento, é bom que fique claro, tem razões objectivos mas muito pouco confessáveis pelo poder dominante: de facto o que está em causa resume-se a uma questão – a partilha do poder. Por um lado, grita-se constantemente pela necessidade de construir uma nova cidadania (função que o clube pode desempenhar de uma forma particularmente eficaz) mas, por outro lado, negam-se os meios para que tal seja possível. Aliás, isso passa-se em todas as áreas (é ver o comportamento dos próprios políticos, das formas utilizadas pelos meios de comunicação social, o funcionamento e os meios fornecidos à escola, a forma como actua a justiça, etc., etc.) que tocam, de uma outra forma mais ou menos intensa, nesta questão – a «nova cidadania» não é mais do que a «cidadania» pura e simples, mas que, pelos vistos, tem de ser «rejuvenescida». Os clubes disputam o poder no território do próprio «poder», ou seja, aos políticos, sejam nacionais, regionais ou locais. Os dirigentes associativos exercem, naturalmente, um certo tipo de poder que estrutura aspectos essenciais do funcionamento democrático da comunidade.
É aqui que está o busilis: os políticos – «políticos», que se entronizam abusivamente num poder que a plena democracia não lhes outorga, põem em causa a acção política de quem quer participar no dia a dia da política. Para estes aqueles reservam o simples acto de votar ao mesmo que sonegam, manipulam ou deturpam a informação indispensável para o cidadão exercer, em plena consciência e conhecimento de causa, as suas escolhas.
O clube constitui, evidentemente ao lado de outras formações sociais, um local de construção desse civismo, intervindo directamente na dinâmica social. E isso não é nem cómodo nem conveniente para quem detém o poder. Por isso, convém limitar a sua iniciativa fundamentalmente através da negação de meios de acção.
Verifica-se assim um enorme fosso entre os meios de que pode dispor para as desempenhar e a sua contribuição para a dinamização da vida do tecido social. Contudo esta é extensa e de enorme valor, mesmo no caso daqueles clubes que vivem com maiores dificuldades: capacidade em exprimir uma solidariedade que já não se encontra nem da parte do Estado, nem de outras instituições; contribuição material e imaterial para a consolidação do tecido social; factor de transformação e inovação social constituindo um importante local de experimentação de novas soluções; elemento de economia significativa através do investimento humano voluntário benévolo que desempenha funções que, de outra forma, ficaria extremamente oneroso (economia social); integração de um largo conjunto de actores, benévolos e profissionais (dirigentes, seccionistas, técnicos, funcionários, etc.) num projecto comum, de carácter colectivo e de raiz social; factor de expressão de uma atitude desinteressada capaz de, no exterior do sistema economicista, definir soluções de integração social e de expressão cultural.
Tudo isto demonstra o erro em que caiem aqueles que estão desejosos de liquidar uma das mais importantes expressões culturais e de solidariedade humana, que informam a sociedade. Por isso é essencial reconhecer a especificidade própria do clube que assenta numa lógica que não pertence, nem ao domínio mercantil, nem ao do sector público. E que, naturalmente, está completamente no exterior da visão neoliberal do funcionamento da sociedade.