Estudantes manifestam-se contra a política educativa do Governo

«Grandiosa jornada de luta»

Cerca de 30 mil estudantes do ensino básico e secundário manifestaram-se, quinta-feira, por todo o País para exigir o fim dos exames nacionais, o direito à escola pública e a implementação efectiva da educação sexual nas escolas.

«Esta é uma demonstração de que o Governo tem medo»

Este protesto, convocado pela Delegação Nacional das Associações de Estudantes dos Ensinos Secundário e Básico (DNAEESB), teve ainda como objectivo alertar para o injusto Estatuto do Aluno e do seu regime de faltas, contestar as aulas de substituição, o aumento dos preços dos manuais escolares e denunciar a degradação das condições materiais e humanas.
Em Lisboa, cerca de 400 alunos concentraram-se na Praça do Saldanha, dirigindo-se depois para o Ministério da Educação. Pelo caminho, gritaram palavras de ordem como «educação sexual, faz falta ao pessoal», «estudantes unidos jamais serão vencidos» e «união contra a privatização». Ao Avante!, André Martelo, da DNAEESB, lamentou a postura do Executivo PS, que continua a desprezar os alunos. «Mudou a ministra, mudou o Governo, mas a política é a mesma», acusou, denunciando o «ataque sem precedentes», concertado pelo Ministério da Educação, polícia e escolas, para impedir este protesto.
«Temos dezenas de estudantes identificados pela polícia, funcionários e directores de escolas a ameaçar com processos disciplinares e alunos a serem levados para as esquadras por estarem num protesto», informou André Martelo, frisando que «esta é uma demonstração de que o Governo tem medo» e por isso «tomam medidas para calar a luta dos estudantes».
Ali perto, em Almada, mais de mil estudantes reuniram-se frente aos Paços do Concelho. No Alentejo, em Évora, centenas de alunos, pertencentes a três escolas do concelho, manifestaram-se pelas ruas da cidade, dirigindo-se ao Governo Civil onde entregaram um caderno reivindicativo. Na Escola Secundária Dr. Ginestal Machado, em Santarém, os alunos faltaram à primeira aula da manhã, tendo depois rumado até ao Governo Civil.
Mais a Norte, em Coimbra e em Seia, os alunos fecharam a cadeado os portões das escolas. Em Torres Vedras, dezenas de alunos das escolas Henriques Nogueira e Madeira Torres concentraram-se alternadamente frente a cada uma das escolas.
Também em Viseu, cerca de 700 estudantes concentraram-se em frente ao Governo Civil, manifestando o seu descontentamento face às sucessivas políticas de desinvestimento na educação. Realizaram-se ainda concentrações locais e recolha de assinaturas com reivindicações próprias, dos vários concelhos do distrito, nomeadamente de Viseu, Canas de Senhorim, Mangualde, Vila Nova de Paiva, São João da Pesqueira, Tondela, Oliveira de Frade, Lamego, Carregal do Sal e Santa Comba Dão.
Em Aveiro, mais de dois mil alunos do distrito participaram em concentrações em pólos secundários ou à porta de escolas, envolvendo ao todo escolas de nove concelhos (Aveiro, Ovar, Ílhavo, Espinho, São João da Madeira, Santa Maria da Feira, Sever do Vouga, Águeda, Mealhada, Oliveira do Bairro e Vale de Cambra).
No Porto, os estudantes concentraram-se frente à Câmara Municipal. Na ocasião, em conversa com os jornalistas, Nicole Santos, da DNAEESB, denunciou uma alegada tentativa do Ministério da Educação de boicotar o protesto nacional. «Soubemos que, através da DREN, ordenaram aos professores e auxiliares para irem uma hora mais cedo para as escolas para tentar impedir o trabalho dos piquetes», afirmou, denunciando que existem alunos que estão a ser alvo de processos judiciais por terem participado em anteriores manifestações e a existência de escolas que tentam boicotar reuniões gerais de alunos.
Em Ponta Delgada, nos Açores, mais de um milhar de alunos manifestaram-se em defesa de um Estatuto do Aluno mais justo. O protesto reuniu alunos das Escolas Domingos Rebelo, Antero de Quental e Laranjeiras, as três secundárias existentes em Ponta Delgada, também frequentadas por alunos dos últimos anos do ensino básico. «Estamos aqui a lutar contra os exames nacionais, por manuais mais baratos, contra a privatização nas escolas e por um estatuto do aluno mais justo», afirmou, interrogado pelos jornalistas, Ricardo Brandão, presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária Domingos Rebelo.
A JCP saudou, entretanto, a «grandiosa jornada de luta nacional» e apelou a todos os estudantes que se «unam e lutem pela efectivação da escola pública, gratuita, democrática e de qualidade para todos». «Valorizamos todas as lutas por problemas específicos de cada escola, consequência da política educativa nacional, bem como todas as vitória alcançadas pelos estudantes nas escolas. E se a Educação Sexual for implementada nas escolas ou o Estatuto do Aluno modificado será porque muitos milhares de estudantes saíram à rua em protesto, confiantes em que lutar é o único caminho para ter vitórias», reforçam, em nota de imprensa, os jovens comunistas.


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