Em cena até o dia 31 de Janeiro

«A mãe» em Almada

Estreou, ontem, na Sala Principal do Teatro Municipal de Almada, A mãe, de Bertolt Brecht. Em cena até ao dia 31 de Janeiro, esta peça fala da eterna e inevitável luta do proletariado contra os patrões.

Pe­lagea Vlas­sova trans­formar-se-á em re­vo­lu­ci­o­nária ac­tiva

Joaquim Benite, director da Companhia do Teatro de Almada, dirige um elenco de 18 actores, encabeçado por Teresa Gafeira, que desempenha a protagonista da peça. O espectáculo integra as canções e músicas originais, da autoria do músico alemão Hans Eisler (o maestro Fernando Fontes assegura a direcção musical, suportada pela interpretação ao vivo de um dispositivo instrumental).
Die Mutter foi escrita em 1931 a partir da adaptação teatral de Günther Weisenborn do romance A mãe, do escritor e activista político russo Máximo Gorki, que o publicara originalmente em inglês, em 1906. Estreado no Theater am Schiffbauerdamm de Berlim, em 1932 - numa encenação de Emil Burri, com cenários de Caspar Neher - A mãe só em 1951, no Berliner Ensemble, será dirigida por Bertolt Brecht, depois de ter voltado do exílio nos EUA (regressara a Berlim Oriental, em 1949).
Esta peça conta-nos a história de Pelagea Vlassova, a «mãe», que protagoniza a peça e que sofre um dos mais cinzelados e conseguidos processos de transformação da consciência no primeiro teatro de Brecht. Ultrapassando definitivamente o mero didactismo, o dramaturgo alemão deixa que Vlassova, sinuosa e progressivamente, aprenda a interpretar a luta do seu filho, que acabará por morrer, contra a iniquidade czarista. De dona de casa timorata e apaziguadora, Pelagea Vlassova transformar-se-á em revolucionária activa, porta-estandarte de uma utopia nova, capaz até de identificar a ignorância, o medo e o desânimo como os principais filtros entorpecedores de que se servem os totalitarismos (Brecht pensava no capitalismo selvagem, mas especialmente, no nazismo, que subiria ao poder em 1933).

Te­atro po­lí­tico

Desde a morte de Brecht, em 1956, Die Mutter foi levada à cena por mais quatro destacados encenadores alemães – Peter Stein, Ruth Berghaus, Manfred Wekwerth e Claus Peymann – e por outros homens de teatro, na maior parte dos países da Europa e da América, na Austrália, no Japão, na Índia e no Afeganistão. Nas décadas de 1970 e de 1980, tornou-se um texto essencial para os teatros politizados da Grã-Bretanha e da Escandinávia.
Conotada como uma peça abertamente comunista, Die Mutter dividiu, logo na estreia, os críticos, segundo as suas orientações políticas, reacções que se têm repetido desde então.
«A questão da influência de Brecht sobre o teatro do século XX é decisiva, porque muitos foram os homens de teatro do pós-guerra que o usam como ponto de referência, quer pela positiva, quer pela negativa. O seu nome tornou-se sinónimo de teatro político: depois de 1968, encenadores de esquerda do Ocidente - como Peter Stein - invocaram explicitamente Brecht como seu modelo, enquanto na década de 90 os encenadores pós-modernos - como Frank Castorf - apresentaram o seu trabalho como uma reação ao teatro político da razão de Brecht. Ainda assim, Sarah Bryant-Bertail e Meg Mumford sugeriram ambas que a representação pós-moderna explora na realidade o potencial radical das experiências de Brecht», explica, no livro «Brecht and political theatre / The mother on stage», Laura Bradley.
Relativamente à adaptação do romance de Máximo Gorki, a autora do livro, publicado em 2006, explica que Brecht «realçava os paralelos entre a situação na Rússia pré-revolucionária, centrando-se nas questões correntes dos cortes de salários, das greves e da brutalidade da polícia». «Ao prolongar a acção até 1917, Brecht lembrava aos seus espectadores que o comunismo já tinha triunfado na Rússia e desafiava-os a lutarem por uma solução revolucionária para a crise política e económica da Alemanha», descreve Laura Bradley, acrescentando: «A música de Eisler intensificava o impacto político da peça: as canções refinavam os argumentos da peça e em 1932 eram interpretadas separadamente em concertos e concentrações».

Neste mundo não há certezas.
As coisas não irão ficar como estão.
Quando os opressores tiverem falado
Falarão os oprimidos.
Quem se atreve a dizer «nunca!»?
De quem é a responsabilidade se a opressão continuar?
É nossa.
De quem é a responsabilidade se ela for destruída? Também será nossa.
Levante-se, quem for derrubado!
Lute, quem estiver perdido!
Quem poderá deter aquele que está consciente da sua situação?
Pois os vencidos de hoje serão os vencedores de amanhã
E o «nunca» transforma-se em «Hoje ainda!»

Ins­ta­bi­li­dade nas artes

A Direcção de Produção do Teatro Azul acusa o Ministério da Cultura de não cumprir os prazos estipulados de candidaturas de apoios às artes previstos em Decretos-lei e respectivas Portarias, «o que está a causar nos produtores de teatro apreensão e instabilidade».
Situação que levou o Teatro Azul a suspender a sua actividade teatral e adiar a estreia, no primeiro trimestre de 2010, de um espectáculo de teatro, intitulado «Breve história da República Portuguesa», escrito originalmente e encenado por Nuno Miguel Henriques.
«A relação de confiança entre os criadores e produtores culturais em Portugal e o Ministério da Cultura foi fortemente abalada com o incumprimento, sem prévio aviso de mudança de intenção por parte do Governo, originando mais desemprego de artistas e criadores, que vêem as suas legítimas pretensões profundamente goradas pelo tratamento dado aos que optam por ser profissionais das artes em Portugal», refere a Direcção de Produção do Teatro Azul.


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