O Clube desportivo popular vai desaparecer?
O clube resulta da vontade de um conjunto de indivíduos em se juntarem e organizarem em função de objectivos comuns, colocando o seu esforço ao serviço da resolução de um problema comum que nenhum deles, separadamente, poderia resolver, sem visarem obter contrapartidas financeiras.
O clube visa finalidades próprias, repousando a sua acção na independência de pensamento e acção, promovendo a participação dos seus aderentes no desenvolvimento do seu objecto próprio: no caso agora tratado, o da prática desportiva.
Ora, é voz corrente afirmar que estas estruturas atravessam uma grave crise. Tão grave que muitos são levados a interrogar-se se o clube tem ainda razão de existir. Ou seja, as estruturas que possibilitaram a emergência, o desenvolvimento e a consolidação estrutural do desporto durante mais de um século, continuam a justificar-se como organizações sociais ou não? A «vida moderna», com todas as suas novas condições e exigências de vida, permite continuar a pensar que uma estrutura («velha» de mais de um século), ainda pode fornecer resposta aos problemas actuais?
A colocação do problema do clube popular neste pé não é ocasional. De facto, estamos a falar de uma estrutura historicamente recente, se tomada em consideração em relação à evolução da sociedade. Isto autoriza pensar que o seu aparecimento está ligado a uma determinada fase do desenvolvimento social, económico, político e cultural. Se esta fase foi ultrapassada (fala-se de uma modernidade e do surgimento da «pós-modernidade») porque não pensar no desaparecimento, ou, pelo menos, na evolução do próprio associativismo para formas ainda desconhecidas, tanto mais que este vive dificuldades e problemas novos que, de certa forma, demonstram a sua inadequação para o desempenho das funções que diz serem as suas?
Posta a questão neste pé não há qualquer razão para ficar chocado com a possibilidade anunciada do possível desaparecimento, pelo menos, de um certo tipo de clubes. Mas o problema não pode ser encarado exclusivamente deste ponto de vista. Trata-se de saber qual o autêntico papel que o clube popular desempenhava do ponto de vista social, e se deve (e pode!) continuar a desempenhá-lo.
Os clubes não podem ser encarados todos da mesma forma. Não existindo nenhum estudo em Portugal sobre esta realidade, teremos que utilizar as categorias definidas empiricamente pela opinião geral: o «pequeno clube», de raiz popular, com poucos sócios, instalações modestas, falta de instalações, inserido no bairro, na vila ou na aldeia, e o «grande clube», inserido na cidade e/ou na região, dedicado fundamentalmente ao espectáculo desportivo, fortemente profissionalizado e capaz de gerar «paixões» descontroladas.
Evidentemente que esta divisão não é suficiente, pois, em qualquer das duas categorias pode-se verificar autênticas inversões: o «pequeno clube», altamente elitista e segregativo do ponto de vista social; o «grande clube» de carácter popular, e um conjunto, não identificado, de situações intermédias. Mas convém não esbarrar na deficiente informação metodológica de forma a não ficarmos num impasse.
Chegados aqui convém esclarecer que nos estamos a referir à «célula básica» do desporto, ou seja, o pequeno clube inserido nos bairros e aldeias, frequentados pelos grupos maioritários da população. Estas «células» constituem, de facto, os elementos mais vivos do corpo associativo nacional e são eles que, especialmente nos últimos 50 anos (e mais marcadamente depois do 25 de Abril de 1974) garantem a existência da prática desportiva que existe. Esta é promovida, organizada e materializada por vários milhares de dirigentes e técnicos voluntários.
Como acontece com frequência entre nós (uma frequência que desespera e se torna verdadeiramente escandalosa) esta «rede» celular e o próprio «corpo» a que dá vida é mal conhecida e, por isso, é possível emitir sobre ela as mais descabidas e desencontradas ideias, sem receio de desmentido (que não passam de tabernas ou locais de batota, que a incompetência é o traço característico, etc.). É que esse desconhecimento não é ocasional pois tem sido sistematicamente mantido, por razões bem claras: num mundo onde se diz que os valores éticos estiolam e em que quase tudo é comandado pelo lucro financeiro, não convém que se saiba que continuam a existir indivíduos que mantém vivos aqueles valores e que não são determinados, na sua acção, pelo lucro em metal sonante.
O clube visa finalidades próprias, repousando a sua acção na independência de pensamento e acção, promovendo a participação dos seus aderentes no desenvolvimento do seu objecto próprio: no caso agora tratado, o da prática desportiva.
Ora, é voz corrente afirmar que estas estruturas atravessam uma grave crise. Tão grave que muitos são levados a interrogar-se se o clube tem ainda razão de existir. Ou seja, as estruturas que possibilitaram a emergência, o desenvolvimento e a consolidação estrutural do desporto durante mais de um século, continuam a justificar-se como organizações sociais ou não? A «vida moderna», com todas as suas novas condições e exigências de vida, permite continuar a pensar que uma estrutura («velha» de mais de um século), ainda pode fornecer resposta aos problemas actuais?
A colocação do problema do clube popular neste pé não é ocasional. De facto, estamos a falar de uma estrutura historicamente recente, se tomada em consideração em relação à evolução da sociedade. Isto autoriza pensar que o seu aparecimento está ligado a uma determinada fase do desenvolvimento social, económico, político e cultural. Se esta fase foi ultrapassada (fala-se de uma modernidade e do surgimento da «pós-modernidade») porque não pensar no desaparecimento, ou, pelo menos, na evolução do próprio associativismo para formas ainda desconhecidas, tanto mais que este vive dificuldades e problemas novos que, de certa forma, demonstram a sua inadequação para o desempenho das funções que diz serem as suas?
Posta a questão neste pé não há qualquer razão para ficar chocado com a possibilidade anunciada do possível desaparecimento, pelo menos, de um certo tipo de clubes. Mas o problema não pode ser encarado exclusivamente deste ponto de vista. Trata-se de saber qual o autêntico papel que o clube popular desempenhava do ponto de vista social, e se deve (e pode!) continuar a desempenhá-lo.
Os clubes não podem ser encarados todos da mesma forma. Não existindo nenhum estudo em Portugal sobre esta realidade, teremos que utilizar as categorias definidas empiricamente pela opinião geral: o «pequeno clube», de raiz popular, com poucos sócios, instalações modestas, falta de instalações, inserido no bairro, na vila ou na aldeia, e o «grande clube», inserido na cidade e/ou na região, dedicado fundamentalmente ao espectáculo desportivo, fortemente profissionalizado e capaz de gerar «paixões» descontroladas.
Evidentemente que esta divisão não é suficiente, pois, em qualquer das duas categorias pode-se verificar autênticas inversões: o «pequeno clube», altamente elitista e segregativo do ponto de vista social; o «grande clube» de carácter popular, e um conjunto, não identificado, de situações intermédias. Mas convém não esbarrar na deficiente informação metodológica de forma a não ficarmos num impasse.
Chegados aqui convém esclarecer que nos estamos a referir à «célula básica» do desporto, ou seja, o pequeno clube inserido nos bairros e aldeias, frequentados pelos grupos maioritários da população. Estas «células» constituem, de facto, os elementos mais vivos do corpo associativo nacional e são eles que, especialmente nos últimos 50 anos (e mais marcadamente depois do 25 de Abril de 1974) garantem a existência da prática desportiva que existe. Esta é promovida, organizada e materializada por vários milhares de dirigentes e técnicos voluntários.
Como acontece com frequência entre nós (uma frequência que desespera e se torna verdadeiramente escandalosa) esta «rede» celular e o próprio «corpo» a que dá vida é mal conhecida e, por isso, é possível emitir sobre ela as mais descabidas e desencontradas ideias, sem receio de desmentido (que não passam de tabernas ou locais de batota, que a incompetência é o traço característico, etc.). É que esse desconhecimento não é ocasional pois tem sido sistematicamente mantido, por razões bem claras: num mundo onde se diz que os valores éticos estiolam e em que quase tudo é comandado pelo lucro financeiro, não convém que se saiba que continuam a existir indivíduos que mantém vivos aqueles valores e que não são determinados, na sua acção, pelo lucro em metal sonante.