Enredos e labirintos
As coisas vão de mal a pior. Não é só cá, na tão cantada «Pátria de Camões». No resto do mundo, os governantes não se entendem, como recentemente ficou provado em Copenhague. A economia mundial caminha para o caos, com baixas de produção drásticas e 20 milhões de desempregados num só ano ; mais 5 milhões de trabalhadores que só não estão no desemprego porque os Estados subsidiam os privados. Intervenções maciças dos dinheiros públicos nas situações de ruptura da banca e das instituições financeiras. Escândalos sobre escândalos e a própria OIT (Organização Internacional do Trabalho) a admitir que em breve o número de desempregados, só em 51 países do mundo, possa atingir o número astronómico de 43 milhões. Feitas as contas e admitindo que cada desempregado sustenta uma família de quatro pessoas, logo se vê como a pobreza cresceu com as políticas da globalização das economias mundiais. O Estado tornou-se o banqueiro do grande capital.
Todo este dramático panorama foi construído nas costas do povo e apoiou-se no permanente discurso oco dos políticos, governantes, comunicação social e Igreja.
Uns, agem por ganância. Outros, por oportunismo. Todos eles consideram que a mentira pública é simples estratégia política. Daqui resulta estarmos à beira da bancarrota. Bancarrota financeira, política e ética.
Entretanto, os ministros portugueses e os partidos «situacionistas» tecem balelas e perdem-se por labirintos. A informação séria – objectivo central de qualquer comunicação social honesta – dá lugar à propaganda política e à publicidade enganosa. A Igreja embala o povo com histórias fabulosas, como é o caso dos casamentos de homossexuais, das visitas do Papa, das «virtudes heróicas» de Pio XII, já a caminho da santificação, do veto da Igreja às uniões entre católicos e não-católicos, etc., etc. O Vaticano tem uma poderosa rede de propaganda, ninguém o nega. Mas é preciso pesquisar-se à lupa para ouvirmos ou lermos nos órgãos de comunicação católicos comentários ou denúncias dos grandes escândalos financeiros, da barbaridade das políticas governamentais ou das cifras inconcebíveis da dívida pública bem como do crescente fosso que separa os ricos e os pobres.
Santidade no discurso
e inércia real na acção
Uma mão esconde a outra mão. Até nisto são idênticas as políticas do cardeal-patriarca e a verborreia de Sócrates. Ambos se dizem empenhados em construir para os portugueses uma «Cidade de Deus». Ambos são feiticeiros e esculpem deuses com as suas mãos. Mas apontam para dois objectivos diferentes: no novo paraíso, quem manda é a banca e a fortuna, pensa Sócrates; no novo paraíso, quem vai mandar é a Igreja, considera D. José. Negócios aparte, bispos e banqueiros põem-se de acordo quanto a uma decisão central: «Importa passar da retórica à acção (...) não cabe ao Estado substituir-se aos cidadãos!» Assim nasceram em paralelo dois projectos políticos que diferem na forma mas frequentemente se cruzam e se identificam nos seus métodos de intervenção.
Contadas as baionetas, constata-se que estão formados dois grandes exércitos. O da «bandeira doirada» dispõe das redes políticas, financeiras, repressivas, e gira no mundo da alta finança. O da «bandeira cruzada» comanda na sombra as redes políticas, financeiras e repressivas e, tal como as outras hostes, gira no mundo da alta finança. Representa a face evidente da Cidade de Deus mas foge a reconhecer que também as suas vanguardas são políticas e financeiras. As hostes da «bandeira cruzada» afirmam-se devotas, caritativas e cativas da paixão pelos pobres e oprimidos.
De quando em quando há escaramuças verbais entre as tropas. Mas logo voltam à «paz do Senhor». Para eles, o poobo meudo não conta e fica às portas da cidade doirada. Fica com a sua pobreza.
Todo este dramático panorama foi construído nas costas do povo e apoiou-se no permanente discurso oco dos políticos, governantes, comunicação social e Igreja.
Uns, agem por ganância. Outros, por oportunismo. Todos eles consideram que a mentira pública é simples estratégia política. Daqui resulta estarmos à beira da bancarrota. Bancarrota financeira, política e ética.
Entretanto, os ministros portugueses e os partidos «situacionistas» tecem balelas e perdem-se por labirintos. A informação séria – objectivo central de qualquer comunicação social honesta – dá lugar à propaganda política e à publicidade enganosa. A Igreja embala o povo com histórias fabulosas, como é o caso dos casamentos de homossexuais, das visitas do Papa, das «virtudes heróicas» de Pio XII, já a caminho da santificação, do veto da Igreja às uniões entre católicos e não-católicos, etc., etc. O Vaticano tem uma poderosa rede de propaganda, ninguém o nega. Mas é preciso pesquisar-se à lupa para ouvirmos ou lermos nos órgãos de comunicação católicos comentários ou denúncias dos grandes escândalos financeiros, da barbaridade das políticas governamentais ou das cifras inconcebíveis da dívida pública bem como do crescente fosso que separa os ricos e os pobres.
Santidade no discurso
e inércia real na acção
Uma mão esconde a outra mão. Até nisto são idênticas as políticas do cardeal-patriarca e a verborreia de Sócrates. Ambos se dizem empenhados em construir para os portugueses uma «Cidade de Deus». Ambos são feiticeiros e esculpem deuses com as suas mãos. Mas apontam para dois objectivos diferentes: no novo paraíso, quem manda é a banca e a fortuna, pensa Sócrates; no novo paraíso, quem vai mandar é a Igreja, considera D. José. Negócios aparte, bispos e banqueiros põem-se de acordo quanto a uma decisão central: «Importa passar da retórica à acção (...) não cabe ao Estado substituir-se aos cidadãos!» Assim nasceram em paralelo dois projectos políticos que diferem na forma mas frequentemente se cruzam e se identificam nos seus métodos de intervenção.
Contadas as baionetas, constata-se que estão formados dois grandes exércitos. O da «bandeira doirada» dispõe das redes políticas, financeiras, repressivas, e gira no mundo da alta finança. O da «bandeira cruzada» comanda na sombra as redes políticas, financeiras e repressivas e, tal como as outras hostes, gira no mundo da alta finança. Representa a face evidente da Cidade de Deus mas foge a reconhecer que também as suas vanguardas são políticas e financeiras. As hostes da «bandeira cruzada» afirmam-se devotas, caritativas e cativas da paixão pelos pobres e oprimidos.
De quando em quando há escaramuças verbais entre as tropas. Mas logo voltam à «paz do Senhor». Para eles, o poobo meudo não conta e fica às portas da cidade doirada. Fica com a sua pobreza.