Um cravo para Alexandrina

José Casanova
Parafraseando o Álvaro no seu (nosso) «O Partido com Paredes de Vidro»: donde nos vem, a nós, comunistas portugueses, esta alegria de viver e de lutar?, esta constante disponibilidade militante?, esta firme determinação de, sejam quais forem as circunstâncias, lutar, lutar sempre?, este nosso relacionamento feito de fraterna camaradagem e de transparente lealdade?
Encontraremos as respostas se as procurarmos neste nosso ideal comunista feito dos mais elevados valores e sentimentos humanos: a liberdade, a justiça social, a paz, a fraternidade, a solidariedade, a amizade, o amor, a ternura. E que, por isso, é o mais humano, o mais justo, o mais belo de todos os ideais. E que, por isso, é fonte de força essencial do Partido, deste espaço amplo de luta e de camaradagem que habitamos, militantes todos com iguais direitos e deveres – do mais antigo ao mais recente; do mais idoso ao mais jovem; do intelectual ao operário.
Quando a lei da vida nos rouba um elemento deste grande colectivo, sofremos. Todos.
E, para cada um de nós, se quem parte era, além de camarada, um amigo, a dor é ainda maior.
Agora foi a Alexandrina que nos deixou e deixou, em todos quantos a conheceram e com ela conviveram, uma saudade do tamanho do mundo.
A Alexandrina: de uma solicitude a tempo inteiro para dar o seu contributo – modesto?: enorme! – ao colectivo. Sempre: fosse no tempo sombrio do fascismo; fosse no tempo luminoso de Abril; fosse neste tempo, outra vez sombrio, da contra-revolução.
Com a mesma simplicidade e modéstia com que, nesse tempo velho, fez da sua casa um refúgio para camaradas perseguidos pelo fascismo, ela integrou, no tempo novo de Abril, a luta colectiva do Partido - numa participação em que o convívio tinha lugar marcado, às vezes com dezenas da camaradas à volta da mesa, saboreando a refeição que ela confeccionava com o tempero superior da amizade, do amor, do carinho.
Sempre com aquele seu jeito fraterno de ser camarada. Sempre com aquela sua maneira terna de ser amiga. Sempre com aquela alegria e confiança de quem sabe que é parte do imenso colectivo partidário e transporta o mais belo de todos os ideais.
Para a Alexandrina, um cravo. De Abril. Vermelho.


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