(Pa)Ciência que valha!
Há alguns tempos, na conta no twitter da conhecida jornalista Fernanda Câncio e, se bem me lembro, a propósito daquela «história de espionagem» do Presidente da República, e das mensagens de correio electrónico internas ao Público que teriam sido usadas abusivamente pelo DN, jornal onde Fernanda Câncio também exerce funções profissionais, lia-se, nessa conta do twitter, dizíamos, o alvitre de que, neste novo mundo internético, com as complexidades que casos como este poderiam apresentar, justificar-se-ia que a ciência deontológica da profissão jornalística fosse reconsiderada. Chamou-me a atenção neste caso a forma como a Ciência, o conhecimento científico, era chamada(o) à colação. Foi o que me pareceu entender do ponto em que ia o debate! Mas, para o caso - o da frescata com que o «santo» nome da Ciência hoje em dia é invocado -, não serão os detalhes desta «história de espionagem» o mais importante para a questão que quero aqui abordar.
Ora, falar em ciência deontológica… trata-se mesmo de conhecimento científico o da Deontologia, enquanto tal? E não coloco sequer em dúvida a questão da Deontologia não ser uma ciência por não utilizar - tanto quanto sei - matemáticas, porque se trataria de matéria não dada à elaboração de quantificações. Critério, o da matematização, que, para muitos, mesmo cientistas altamente qualificados, constitui-se como condição sem a qual não se pode considerar um determinado saber como verdadeiramente científico. Mas o certo é haver conhecimento científico não incluindo necessariamente quantificações! Ora, o facto é que a Deontologia situa-se no campo do que deve ser - e não no campo científico do saber o que é, se está conforme com a realidade, procurar a explicação para as coisas serem como são, os seus «mecanismos» internos, etc.
E a essência do conhecimento científico é tanto esta e não os seus instrumentos - as contas, os cálculos, as fórmulas, as equações - que mesmo o emprego em vários domínios da artilharia matemática, nomeadamente na prática das ciências sociais, seja a estatística nas sondagens, seja a estatística ou a análise superior na economia, dizia, tal emprego não confere por si só estatuto científico às matérias em consideração. E tem-se visto muitos invocares da Ciência, muitos invocares do seu nome em vão, atropelos vários, em particular com o objectivo de justificar medidas antipopulares, fazer campanhas propagandísticas, basear a razão de ideologias, a propósito do emprego de complicadas, a encher o olho, mas anticientíficas provas matemáticas!
Aliás, foi o caso de ainda noutro dia se ter podido assistir, numa edição do célebre «Prós e Prós», como mais parece adequado chamar aquele programa, a uma sessão de (re-)credibilização das sondagens eleitorais e seus números. Uma edição do «Prós e Prós» ocorrida, é de notar, quase pela mesma altura do caso da célebre «história de espionagem» do PR - de facto, ambos os casos ocorreram em datas aproximadas e acertantes no período mais alto da campanha eleitoral para a Assembleia da República; boa altura para estas coisas acontecerem…
Voltemos a este segundo caso, agora que as vozes de desconfiança sobre a credibilidade das sondagens se conseguiram fazer ouvir suficientemente na sociedade, para ter sido convocada uma mão cheia de responsáveis daquela tralhada que vieram à televisão do serviço público defender a sua dama, e, claro, logo na última semana da campanha eleitoral.
Que eles até são reconhecidos como os melhores da Europa; que os clientes, em particular os media, é que utilizam os resultados de maneira inaceitável - referem resultados até às décimas que não têm nenhum significado, que os intervalos de variação é que contam e mesmo assim não são certos (tantas disseram que a apresentadora do programa até teve que comentar que eles só agora, pressionados, é que referiam tais questões!); que o eleitorado português é muito volátil; mais, que os prognósticos às bocas das urnas é que são mais seguros, como se tem visto (dúvida de quem escreve estas linhas: muito seguros, logo no domingo a seguir davam, por exemplo, 20, talvez 21 deputados para o BE e, de facto, esta força política alcançou mas foi 16!). Menos mal que não argumentaram, como têm feito correr, que os eleitores da CDU é que lhes boicotam os trabalhos…
Enfim, números e números, fórmulas e fórmulas, mas o dito valor científico… Tudo isto dito e para quê? Para termos paciência e muita atenção aos que enchem levianamente a boca com conhecimento científico e Ciência.
Ora, falar em ciência deontológica… trata-se mesmo de conhecimento científico o da Deontologia, enquanto tal? E não coloco sequer em dúvida a questão da Deontologia não ser uma ciência por não utilizar - tanto quanto sei - matemáticas, porque se trataria de matéria não dada à elaboração de quantificações. Critério, o da matematização, que, para muitos, mesmo cientistas altamente qualificados, constitui-se como condição sem a qual não se pode considerar um determinado saber como verdadeiramente científico. Mas o certo é haver conhecimento científico não incluindo necessariamente quantificações! Ora, o facto é que a Deontologia situa-se no campo do que deve ser - e não no campo científico do saber o que é, se está conforme com a realidade, procurar a explicação para as coisas serem como são, os seus «mecanismos» internos, etc.
E a essência do conhecimento científico é tanto esta e não os seus instrumentos - as contas, os cálculos, as fórmulas, as equações - que mesmo o emprego em vários domínios da artilharia matemática, nomeadamente na prática das ciências sociais, seja a estatística nas sondagens, seja a estatística ou a análise superior na economia, dizia, tal emprego não confere por si só estatuto científico às matérias em consideração. E tem-se visto muitos invocares da Ciência, muitos invocares do seu nome em vão, atropelos vários, em particular com o objectivo de justificar medidas antipopulares, fazer campanhas propagandísticas, basear a razão de ideologias, a propósito do emprego de complicadas, a encher o olho, mas anticientíficas provas matemáticas!
Aliás, foi o caso de ainda noutro dia se ter podido assistir, numa edição do célebre «Prós e Prós», como mais parece adequado chamar aquele programa, a uma sessão de (re-)credibilização das sondagens eleitorais e seus números. Uma edição do «Prós e Prós» ocorrida, é de notar, quase pela mesma altura do caso da célebre «história de espionagem» do PR - de facto, ambos os casos ocorreram em datas aproximadas e acertantes no período mais alto da campanha eleitoral para a Assembleia da República; boa altura para estas coisas acontecerem…
Voltemos a este segundo caso, agora que as vozes de desconfiança sobre a credibilidade das sondagens se conseguiram fazer ouvir suficientemente na sociedade, para ter sido convocada uma mão cheia de responsáveis daquela tralhada que vieram à televisão do serviço público defender a sua dama, e, claro, logo na última semana da campanha eleitoral.
Que eles até são reconhecidos como os melhores da Europa; que os clientes, em particular os media, é que utilizam os resultados de maneira inaceitável - referem resultados até às décimas que não têm nenhum significado, que os intervalos de variação é que contam e mesmo assim não são certos (tantas disseram que a apresentadora do programa até teve que comentar que eles só agora, pressionados, é que referiam tais questões!); que o eleitorado português é muito volátil; mais, que os prognósticos às bocas das urnas é que são mais seguros, como se tem visto (dúvida de quem escreve estas linhas: muito seguros, logo no domingo a seguir davam, por exemplo, 20, talvez 21 deputados para o BE e, de facto, esta força política alcançou mas foi 16!). Menos mal que não argumentaram, como têm feito correr, que os eleitores da CDU é que lhes boicotam os trabalhos…
Enfim, números e números, fórmulas e fórmulas, mas o dito valor científico… Tudo isto dito e para quê? Para termos paciência e muita atenção aos que enchem levianamente a boca com conhecimento científico e Ciência.