O desporto e os grandes interesses financeiros (II)
A crise mundial em que se desenvolve ao longo destes últimos 20 a 25 anos, impôs uma autêntica mutação no fenómeno desportivo. Até aí praticado por uma percentagem reduzida da população (normalmente fazendo parte dos economicamente mais favorecidos), a prática desportiva assumiu progressivamente o carácter de um novo mercado, que integrou o desporto de alto nível assumindo aspectos verdadeiramente mercantilistas, a interessar fortemente a finança e os mass media, lançou a mundialização das competições (Jogos Olímpicos e campeonatos, taças e torneios de todo tipo referindo-se a continentes e à totalidade do mundo), e promoveu a exploração sem regras da mitologia desportiva especialmente através da utilização que dela faz a televisão. No ano de 2000 o mercado que, entretanto, se estruturara, atingia mais de 2,5% do quantitativo dos negócios realizados no mercado global.
Em 1984 a cadeia de televisão americana ABC conseguiu a transmissão em exclusivo dos Jogos Olímpicos de Los Angeles por 225 milhões de dólares. Em 2000 a cadeia NBC teve de pagar 715 milhões pelos Jogos de Sidney. Os direitos de transmissão da Taça do Mundo de Futebol sofreram um acréscimo ainda mais acentuado: de 0,86 biliões de francos em 1998, passaram para 5,38 biliões na edição do Japão e da Coreia do Sul. Refere-se estes dois exemplos como autênticos índices capazes de tornarem clara a evolução do mercado desportivo nos média.
O desporto passou a constituir um «território» que interessa o grande mercado financeiro, especialmente quando a revolução tecnológica permitiu que a televisão numérica possibilitasse fornecer a cada espectador a dimensão universal do espectáculo desportivo e a competição desportiva permitiu estruturar o processo identitário e um verdadeiro mundo de pertença à escala dos países. A criação das cadeias televisivas privadas e a desregulação do sector audiovisual veio criar uma nova dinâmica na difusão dos diferentes espectáculos desportivos e na exploração da constelação mitológica.
A «sponsorização» (os nossos «patrocinadores») fizeram, na mesma época, uma irrupção maciça no sector desportivo, à escala de todo mundo desenvolvido. Um vasto conjunto de empresas e marcas de todo o tipo (desde a construção automóvel, até às bebidas gaseificadas, as marcas de roupa, as televisões, os jornais, etc.) passaram a financiar o desporto. Evidentemente que não o fazem de forma desinteressada (olha a ingenuidade!), pois assentam os seus interesses no tremendo sucesso de audiências possibilitado pelo sector audioaudiovisual, procurando promover as suas marcas através dos grandes acontecimentos desportivos e explorando directamente, em termos financeiros, as paixões clubísticas e o sensacionalismo que as envolve. A colocação nas bolsas de valores das acções dos clubes de maior projecção que se reconverteram em grandes empresas cotadas no mercado, atingiu proporções fabulosas.
Para além da Coca-Cola e da Pepsi-Cola, comercializadas em cerca de 200 países e que financiam os Jogos Olímpicos e Taça do Mundo de Futebol, os campeonatos mundiais de atletismo, a Volta à França e muitos acontecimentos desportivos (entre elas o campeonato nacional de cricket na Índia e o campeonato de futebol russo), o Grupo Parmalat, o Canal Plus, a Fiat, o Fininvest, e muitas outras multinacionais, investem fortemente nos clubes e nos grandes acontecimentos desportivos. Por exemplo:
- Manchester United, do Reino unido, tem como principal accionário o canal BSkyBz, com um volume de negócios de quase 30 milhões de contos na época de 1997/98;
- Juventus Turim, da Itália, tem como accionistas a Fiat e a IFI, com um volume de negócios de cerca de 16 milhões na mesma época.
- Paris Saint-Germain, em França, associado com o Canal Plus (TV) conseguiu alcançar um volume de negócios de mais de 12 milhões de contos;
- Tottenham Hotspur, do Reino Unido, em associação com a empresa especialista em informática Alan Sugar, cerca de 8 milhões de contos;
- Parma, italiano, em associação com a Parmalat, empresa de produtos alimentares, cerca de 8 milhões de contos.
Os exemplos poderiam continuar, na medida em que na época futebolística de 1997/98, seis países europeus tinham cerca de 33 clubes cotados na bolsa, e daí até cá este número tem aumentado constantemente.
Em 1984 a cadeia de televisão americana ABC conseguiu a transmissão em exclusivo dos Jogos Olímpicos de Los Angeles por 225 milhões de dólares. Em 2000 a cadeia NBC teve de pagar 715 milhões pelos Jogos de Sidney. Os direitos de transmissão da Taça do Mundo de Futebol sofreram um acréscimo ainda mais acentuado: de 0,86 biliões de francos em 1998, passaram para 5,38 biliões na edição do Japão e da Coreia do Sul. Refere-se estes dois exemplos como autênticos índices capazes de tornarem clara a evolução do mercado desportivo nos média.
O desporto passou a constituir um «território» que interessa o grande mercado financeiro, especialmente quando a revolução tecnológica permitiu que a televisão numérica possibilitasse fornecer a cada espectador a dimensão universal do espectáculo desportivo e a competição desportiva permitiu estruturar o processo identitário e um verdadeiro mundo de pertença à escala dos países. A criação das cadeias televisivas privadas e a desregulação do sector audiovisual veio criar uma nova dinâmica na difusão dos diferentes espectáculos desportivos e na exploração da constelação mitológica.
A «sponsorização» (os nossos «patrocinadores») fizeram, na mesma época, uma irrupção maciça no sector desportivo, à escala de todo mundo desenvolvido. Um vasto conjunto de empresas e marcas de todo o tipo (desde a construção automóvel, até às bebidas gaseificadas, as marcas de roupa, as televisões, os jornais, etc.) passaram a financiar o desporto. Evidentemente que não o fazem de forma desinteressada (olha a ingenuidade!), pois assentam os seus interesses no tremendo sucesso de audiências possibilitado pelo sector audioaudiovisual, procurando promover as suas marcas através dos grandes acontecimentos desportivos e explorando directamente, em termos financeiros, as paixões clubísticas e o sensacionalismo que as envolve. A colocação nas bolsas de valores das acções dos clubes de maior projecção que se reconverteram em grandes empresas cotadas no mercado, atingiu proporções fabulosas.
Para além da Coca-Cola e da Pepsi-Cola, comercializadas em cerca de 200 países e que financiam os Jogos Olímpicos e Taça do Mundo de Futebol, os campeonatos mundiais de atletismo, a Volta à França e muitos acontecimentos desportivos (entre elas o campeonato nacional de cricket na Índia e o campeonato de futebol russo), o Grupo Parmalat, o Canal Plus, a Fiat, o Fininvest, e muitas outras multinacionais, investem fortemente nos clubes e nos grandes acontecimentos desportivos. Por exemplo:
- Manchester United, do Reino unido, tem como principal accionário o canal BSkyBz, com um volume de negócios de quase 30 milhões de contos na época de 1997/98;
- Juventus Turim, da Itália, tem como accionistas a Fiat e a IFI, com um volume de negócios de cerca de 16 milhões na mesma época.
- Paris Saint-Germain, em França, associado com o Canal Plus (TV) conseguiu alcançar um volume de negócios de mais de 12 milhões de contos;
- Tottenham Hotspur, do Reino Unido, em associação com a empresa especialista em informática Alan Sugar, cerca de 8 milhões de contos;
- Parma, italiano, em associação com a Parmalat, empresa de produtos alimentares, cerca de 8 milhões de contos.
Os exemplos poderiam continuar, na medida em que na época futebolística de 1997/98, seis países europeus tinham cerca de 33 clubes cotados na bolsa, e daí até cá este número tem aumentado constantemente.