A língua comum como trampolim
Não é fácil «meter-se o Rossio na Rua da Betesga». Mas sempre poderá tentar-se... Há sinais concretos que permitem a aventura. Sempre com os mesmos actores (dinheiro, política, religião), o espectáculo continua.
O mundo parece estar às avessas mas não é bem assim. O capitalismo nada em dinheiro mas tem pés de barro. Que não se pense, porém, que morreu. Os seus centros de decisão vivem dias febris. Enquanto é tempo – dizem os capitalistas - é preciso reconverter o pesado aparelho burocrático, descentralizar por um lado e centralizar, por outro, ditar sacrifícios à sua própria clientela, esmagar quantas pequenas fortunas for necessário e criar, em troca, concentrações de capitais até aqui nem sequer sonhadas; deslocar os eixos do sistema para junto das fontes das matérias-primas, fixando no poder governos fortes que finjam investir no «social» e ocultem o que se prepara: o maior genocídio universal dos pobres. Estes, não contam, são peças impessoais. São «verbos de encher».
Também a Igreja faz o mesmo percurso e mobiliza o alto clero, acelerando a distribuição das tarefas. Bispos e cardeais reúnem-se em conclaves e «partem em missão». Bento XVI desdobra-se em visitas «ecuménicas» a países com outras religiões e outras economias. Na Europa - já considerada como uma batalha perdida pela Igreja – quanto maior é a miséria e o desemprego, tanto mais os governos delegam na «sociedade civil» deveres e proveitos que são constitucionalmente da competência do Estado. Quanto maior for a miséria e o desemprego tanto maiores serão os lucros do negócio da caridade. A Igreja, é certo, precisa de alinhar estratégias com o capitalismo. Fá-lo, no entanto, em segredo, procurando conservar rigorosamente a sua cosmética de «parceiro espiritual».
No entanto, a situação é delicada. «Deslocalizar» para o «terceiro-mundo» armas e bagagens, é ponto assente. Mas como planear tão exigente operação? Bispos e banqueiros sabem que é urgente avançar. Que é preciso abrir caminho e não errar no mais simples pormenor.
A herança do colonialismo
Os ricos conhecem a História. Sabem como a expansão do Ocidente viveu do saque e a Europa prosperou à custa da «deslocalização» dos escravos. Como então se criaram gigantescas fortunas entre os aristocratas e os banqueiros e a Igreja foi agente activo da destruição das culturas nativas. Em África, os gentios falavam entre si nos seus próprios dialectos, mas quando a fala era com os seus senhores tinham de expressar-se na língua do colonizador. Aconteceu isto também noutras paragens longínquas, como o comprovam as nações latinas do centro e do sul da América. É através da linguagem que os interesses se impõem aos povos.
A mesma língua pode pois servir para unir ou para separar. O Vaticano e as centrais capitalistas estudaram a fundo o alcance político deste facto cultural. Pesaram as vantagens das deslocalizações em
massa: os «deslocalizados» vão de país em país, não criam raízes em lado nenhum, perdem o sentido da luta pelos seus direitos, alimentam os mercados mundiais da mão-de-obra barata, desunem-se, desesperam e refugiam-se na religião.
O clero católico esfrega as mãos de contente e clama: «Para a frente há caminho e há futuro!». Os banqueiros e os políticos lançam as bases da sociedade dourada de amanhã. «Todos para África e em força!», repete o fantasma de Salazar. Fazem as contas: Angola «vale» 57 mil milhões, o Brasil, 1 bilião, Cabo Verde, 1,2 mil milhões, a Guiné Bissau, 313 milhões, Moçambique, 6,5 mil milhões, S. Tomé e Príncipe, 120 milhões, Timor-Leste, 339 milhões. No conjunto, um tesouro astronómico. É quanto vale, na bolsa, a comunidade da Lusofonia. As cotações subirão em flecha quando de África vier para a Europa a mão-de-obra escrava e da Europa partirem para África os quadros qualificados – os banqueiros, os gestores, os engenheiros, os arquitectos, os fabricantes de mentiras e de enganos. O projecto avança a bom ritmo e até já tem uma estrutura dirigente, a CPLP, com sede em Lisboa, presidida por um português, Murteira Nabo, político com largos créditos no chamado «mundo do faz-de-conta».
Seguramente, é certo que tudo pode falhar e desabar como um castelo de cartas. Mas, admitamos que isso não acontece. Se assim for, os cenários que podem ser antecipados são dantescos. Uma sociedade dividida entre bandos de vagabundos medievais e multimilionários. O mundo alucinante das ditaduras, da censura férrea, da vigilância electrónica, da polícia política e da Inquisição. É este o retorno que padres e banqueiros preparam em conjunto.
O mundo parece estar às avessas mas não é bem assim. O capitalismo nada em dinheiro mas tem pés de barro. Que não se pense, porém, que morreu. Os seus centros de decisão vivem dias febris. Enquanto é tempo – dizem os capitalistas - é preciso reconverter o pesado aparelho burocrático, descentralizar por um lado e centralizar, por outro, ditar sacrifícios à sua própria clientela, esmagar quantas pequenas fortunas for necessário e criar, em troca, concentrações de capitais até aqui nem sequer sonhadas; deslocar os eixos do sistema para junto das fontes das matérias-primas, fixando no poder governos fortes que finjam investir no «social» e ocultem o que se prepara: o maior genocídio universal dos pobres. Estes, não contam, são peças impessoais. São «verbos de encher».
Também a Igreja faz o mesmo percurso e mobiliza o alto clero, acelerando a distribuição das tarefas. Bispos e cardeais reúnem-se em conclaves e «partem em missão». Bento XVI desdobra-se em visitas «ecuménicas» a países com outras religiões e outras economias. Na Europa - já considerada como uma batalha perdida pela Igreja – quanto maior é a miséria e o desemprego, tanto mais os governos delegam na «sociedade civil» deveres e proveitos que são constitucionalmente da competência do Estado. Quanto maior for a miséria e o desemprego tanto maiores serão os lucros do negócio da caridade. A Igreja, é certo, precisa de alinhar estratégias com o capitalismo. Fá-lo, no entanto, em segredo, procurando conservar rigorosamente a sua cosmética de «parceiro espiritual».
No entanto, a situação é delicada. «Deslocalizar» para o «terceiro-mundo» armas e bagagens, é ponto assente. Mas como planear tão exigente operação? Bispos e banqueiros sabem que é urgente avançar. Que é preciso abrir caminho e não errar no mais simples pormenor.
A herança do colonialismo
Os ricos conhecem a História. Sabem como a expansão do Ocidente viveu do saque e a Europa prosperou à custa da «deslocalização» dos escravos. Como então se criaram gigantescas fortunas entre os aristocratas e os banqueiros e a Igreja foi agente activo da destruição das culturas nativas. Em África, os gentios falavam entre si nos seus próprios dialectos, mas quando a fala era com os seus senhores tinham de expressar-se na língua do colonizador. Aconteceu isto também noutras paragens longínquas, como o comprovam as nações latinas do centro e do sul da América. É através da linguagem que os interesses se impõem aos povos.
A mesma língua pode pois servir para unir ou para separar. O Vaticano e as centrais capitalistas estudaram a fundo o alcance político deste facto cultural. Pesaram as vantagens das deslocalizações em
massa: os «deslocalizados» vão de país em país, não criam raízes em lado nenhum, perdem o sentido da luta pelos seus direitos, alimentam os mercados mundiais da mão-de-obra barata, desunem-se, desesperam e refugiam-se na religião.
O clero católico esfrega as mãos de contente e clama: «Para a frente há caminho e há futuro!». Os banqueiros e os políticos lançam as bases da sociedade dourada de amanhã. «Todos para África e em força!», repete o fantasma de Salazar. Fazem as contas: Angola «vale» 57 mil milhões, o Brasil, 1 bilião, Cabo Verde, 1,2 mil milhões, a Guiné Bissau, 313 milhões, Moçambique, 6,5 mil milhões, S. Tomé e Príncipe, 120 milhões, Timor-Leste, 339 milhões. No conjunto, um tesouro astronómico. É quanto vale, na bolsa, a comunidade da Lusofonia. As cotações subirão em flecha quando de África vier para a Europa a mão-de-obra escrava e da Europa partirem para África os quadros qualificados – os banqueiros, os gestores, os engenheiros, os arquitectos, os fabricantes de mentiras e de enganos. O projecto avança a bom ritmo e até já tem uma estrutura dirigente, a CPLP, com sede em Lisboa, presidida por um português, Murteira Nabo, político com largos créditos no chamado «mundo do faz-de-conta».
Seguramente, é certo que tudo pode falhar e desabar como um castelo de cartas. Mas, admitamos que isso não acontece. Se assim for, os cenários que podem ser antecipados são dantescos. Uma sociedade dividida entre bandos de vagabundos medievais e multimilionários. O mundo alucinante das ditaduras, da censura férrea, da vigilância electrónica, da polícia política e da Inquisição. É este o retorno que padres e banqueiros preparam em conjunto.