O silêncio
A campanha eleitoral entrou em velocidade de cruzeiro e já se desenhou na generalidade da Comunicação Social um pseudo-conflito entre «os partidos de poder», o PS e o PSD, para consolidar isso mesmo na percepção do eleitorado – que estes serão os únicos «partidos de poder» e, por isso, também os únicos a que se deve prestar atenção.
O pretexto central do alegado «conflito» centrou-se nas declarações de Manuela Ferreira Leite sobre o TGV durante o debate televisivo com José Sócrates, garantindo, por um lado, que iria suspender de imediato a sua aprovação caso vença as eleições e acusando, por outro, o PS e «os seus camaradas presidentes de câmara da fronteira» de, em conluio com os homólogos espanhóis, estarem «a pressioná-la pessoalmente» para não travar o TGV, acrescentando que este «servia os interesses espanhóis» (recebendo fundos comunitários) e ela não estaria aqui para defender os interesses de nuestros hermanos, mas os de Portugal.
José Sócrates e o PS agarraram o bodo com unhas e dentes, recusando indignadamente «receber lições de patriotismo» da adversária, acusando-a do pior «conservadorismo», o que vinha lá das alfurjas medievais do «ódio a Espanha». E, pois claro, Manuela Ferreira Leite e o seu PSD contra-atacaram em força, adjectivando as acusações PS de «vergonhoso» para baixo (ou para cima, tanto faz).
Diligentes, os jornais, rádios e televisões espraiaram-se gulosamente pelo assunto, todo o comentador encartado sentiu necessidade de sobre ele largar opinião, mesas-redondas houve que se enrolaram por completo à volta da coisa.
E a festa continuou dias e noites a fio, transformando o «caso TGV» no drama eleitoral do momento e a disputa Sócrates-Ferreira Leite sobre «patriotismo» o acontecimento central da campanha onde, por acaso, mais três partidos parlamentares andam a percorrer intensa e minuciosamente o País com as suas denúncias e acusações à má governação de décadas, protagonizada quase em exlusivo pelos «dois partidos de poder», acompanhadas de argumentos e propostas que, neste momentoso dilema do «TGV patriótico», foram naturalmente relegadas para segundo plano.
Entretanto, apesar das acaloradas diatribes trocadas entre o PS de Sócrates e o PSD de Manuela Ferreira Leite, mau grado as veementes acusações, denúncias e recriminações atiradas mutuamente aos governos que o adversário dirigiu no presente ou no passado, nunca nenhum deles aludiu, sequer ao de leve, a qualquer dos escândalos que profusamente têm envolvido os dois partidos.
Na verdade, em nenhuma altura, em nenhum debate ou confronto, em nenhuma das abundantes ocasiões em que os dois partidos e os seus dirigentes máximos se têm enfrentado directamente houve, da parte de qualquer deles, a mínima alusão ao «caso Freeport» ou ao «escândalo BPN», aos «contentores de Alcântara» ou à falência do BPP, para não falar dos Dias Loureiros ou Fátimas Felgueiras de ambos os partidos.
Aparentemente, há uma espécie de «pacto de cavalheiros» entre eles, de modo a não colocar nenhum em posição vulnerável. O que significa que nem o PS nem o PSD estão minimamente interessados em denunciar e expor as hipotéticas ou alegadas corrupções do outro.
Compreende-se: o silêncio de um garantirá o silêncio do outro. O que diz tudo sobre a seriedade destes «dois partidos de poder», que têm dirigido o País nos últimos 30 anos.
O pretexto central do alegado «conflito» centrou-se nas declarações de Manuela Ferreira Leite sobre o TGV durante o debate televisivo com José Sócrates, garantindo, por um lado, que iria suspender de imediato a sua aprovação caso vença as eleições e acusando, por outro, o PS e «os seus camaradas presidentes de câmara da fronteira» de, em conluio com os homólogos espanhóis, estarem «a pressioná-la pessoalmente» para não travar o TGV, acrescentando que este «servia os interesses espanhóis» (recebendo fundos comunitários) e ela não estaria aqui para defender os interesses de nuestros hermanos, mas os de Portugal.
José Sócrates e o PS agarraram o bodo com unhas e dentes, recusando indignadamente «receber lições de patriotismo» da adversária, acusando-a do pior «conservadorismo», o que vinha lá das alfurjas medievais do «ódio a Espanha». E, pois claro, Manuela Ferreira Leite e o seu PSD contra-atacaram em força, adjectivando as acusações PS de «vergonhoso» para baixo (ou para cima, tanto faz).
Diligentes, os jornais, rádios e televisões espraiaram-se gulosamente pelo assunto, todo o comentador encartado sentiu necessidade de sobre ele largar opinião, mesas-redondas houve que se enrolaram por completo à volta da coisa.
E a festa continuou dias e noites a fio, transformando o «caso TGV» no drama eleitoral do momento e a disputa Sócrates-Ferreira Leite sobre «patriotismo» o acontecimento central da campanha onde, por acaso, mais três partidos parlamentares andam a percorrer intensa e minuciosamente o País com as suas denúncias e acusações à má governação de décadas, protagonizada quase em exlusivo pelos «dois partidos de poder», acompanhadas de argumentos e propostas que, neste momentoso dilema do «TGV patriótico», foram naturalmente relegadas para segundo plano.
Entretanto, apesar das acaloradas diatribes trocadas entre o PS de Sócrates e o PSD de Manuela Ferreira Leite, mau grado as veementes acusações, denúncias e recriminações atiradas mutuamente aos governos que o adversário dirigiu no presente ou no passado, nunca nenhum deles aludiu, sequer ao de leve, a qualquer dos escândalos que profusamente têm envolvido os dois partidos.
Na verdade, em nenhuma altura, em nenhum debate ou confronto, em nenhuma das abundantes ocasiões em que os dois partidos e os seus dirigentes máximos se têm enfrentado directamente houve, da parte de qualquer deles, a mínima alusão ao «caso Freeport» ou ao «escândalo BPN», aos «contentores de Alcântara» ou à falência do BPP, para não falar dos Dias Loureiros ou Fátimas Felgueiras de ambos os partidos.
Aparentemente, há uma espécie de «pacto de cavalheiros» entre eles, de modo a não colocar nenhum em posição vulnerável. O que significa que nem o PS nem o PSD estão minimamente interessados em denunciar e expor as hipotéticas ou alegadas corrupções do outro.
Compreende-se: o silêncio de um garantirá o silêncio do outro. O que diz tudo sobre a seriedade destes «dois partidos de poder», que têm dirigido o País nos últimos 30 anos.