«Ganhar mais uma pessoa com a verdade é vital»
«Passaram 33 anos, mas a dor mantém-se», confessou em entrevista ao Avante! Betina Corcho. A filha de Adriana Corcho, funcionária diplomática cubana que juntamente com Efrén Monteagudo morreu no atentado contra a embaixada de Cuba em Lisboa, a 23 de Abril de 1976, esteve em Portugal para, através da sua experiência, sublinhar a importância do trabalho realizado pelos Cinco cubanos antiterroristas até serem injustamente presos nos EUA e promover as acções de exigência da sua libertação.
O objectivo é devolver os antiterroristas à liberdade
Avante!: Qual é o âmbito da sua visita a Portugal?
Betina Corcho: Vim a para participar na Festa do Avante!, para realizar contactos no âmbito da solidariedade do povo português para com o povo cubano, e, sobretudo, para estimular a luta pela libertação dos Cinco patriotas cubanos presos injustamente nos EUA.
Sabemos que em Portugal há um movimento de solidariedade muito forte com os Cinco, no qual conjugam esforços militantes e activistas de diversas organizações, quer sejam do Partido, das mulheres, da resistência antifascista, da juventude ou da Associação de Solidariedade Portugal-Cuba.
O nosso objectivo neste momento passa por criar um grande movimento mundial que ajude a sensibilizar a opinião pública norte-americana. É fundamental que os norte-americanos saibam a verdade sobre este caso, fiquem a conhecer a verdadeira história e não apenas a que lhes é contada pelos meios de comunicação social dominantes.
Por isso estamos a dinamizar uma campanha para que a opinião pública mundial e, insisto, particularmente os norte-americanos, exijam a sua imediata libertação. O presidente dos EUA, Barack Obama, tem a faculdade de devolver os Cinco à liberdade. É precisamente isso que procuramos.
Em que estado se encontram os processo?
Três deles vão ser novamente processados, ou como se diz legalmente, ressentenciados. Pensamos que as suas condenações podem diminuir face às que lhes haviam sido impostas, até porque o Tribunal de Recurso de Atlanta pronunciou-se nesse sentido. Depois há o caso do Gerardo, que foi condenado a duas penas de prisão perpétua e a quem não admitiram novo processo.
Outro objectivo que mantemos é o da denúncia das repetidas violações dos direitos destes camaradas. Por exemplo, não permitem que os familiares os visitem. É o caso de Adriana, esposa de Gerardo. Faz 11 anos que não vê o marido, o que demonstra que os EUA espezinham um direito fundamental de qualquer preso: ser visitado pelos respectivos familiares. O mesmo acontece com a esposa de René, Olga, a quem é igualmente negado consecutivamente o visto de entrada em território norte-americano.
Deixa-me sublinhar que estes homens estavam nos EUA com um único objectivo: evitar que se passasse lá o que se passou aqui em Portugal a 23 de Abril de 1976, um atentado terrorista no qual morreram dois funcionários diplomáticos. Era contra isso que estavam a lutar. Não estavam a espiar, como diz a propaganda. Sabiam quais eram as organizações terroristas que operam nos EUA contra Cuba e estavam a trabalhar para desmontar os seus planos.
Os portugueses, que sempre têm sido tão solidários, conseguem entender que os Cinco estavam a trabalhar para que outras crianças não passem pelo que passei eu, os meus irmãos e os filhos de Efrén Monteagudo - crescer sem um dos pais em resultado de um atentado terrorista.
Quais as actividades previstas em Portugal?
Está pronto a circular um abaixo-assinado dirigido ao presidente dos EUA. Julgamos que o exemplo dos activistas portugueses pode ser útil para outros comités de solidariedade espalhados pelo mundo, donde seguirão igualmente subscrições para a Casa Branca reclamando não só a necessidade como a justiça da libertação destes Cinco antiterroristas cubanos.
E nos EUA, o que está a ser feito?
Têm-se feito manifestações, publicam-se artigos em jornais de grande expansão com o objectivo, como disse, de dar a conhecer a verdadeira história destes homens. Face à deturpação e à mentira, ganhar uma pessoa mais com a verdade dos factos é vital. Como muitas gotas que formam um grande oceano. Assim deve funcionar com o alargamento da solidariedade com os Cinco e a exigência da sua libertação.
Porque é que Barack Obama ainda não os libertou? O seu governo, apesar de se dizer que está a alterar a política externa em relação a Cuba, não demonstra na prática qualquer alteração [n.d.r.: depois desta entrevista, o presidente dos EUA prolongou por mais um ano o bloqueio a Cuba]. Se tivesse ocorrido alguma mudança, como alegam, seria lógico que a secretária de Estado, Hillary Clinton, tivesse autorizado a entrada de Adriana e Olga nos EUA. Mas não, fez o mesmo que fizeram as administrações anteriores.
Ou seja, nada mudou. Diz-se que liberaram as viagens dos cubanos residentes nos EUA para Cuba, mas os que queriam visitar o meu país nunca deixaram de o fazer, somente tinham que fazer uma escala. Importante seria que os norte-americanos pudessem viajar para Cuba sem restrições para que constatassem a nossa realidade, mas isso o governo norte-americano não quer.
Depois de Portugal parte para outros países com o mesmo objectivo?
Sim, vamos para a Festa do L’Humanité, em França, com os mesmos objectivos e para que saibam o que estamos a fazer hoje em Cuba.
Povo unido
Qual é o sentimento em Cuba em relação aos Cinco?
Mantemos actualizada a informação sobre o estado em que se encontram os Cinco e sobre a evolução dos processos. Divulgamos ainda os trabalhos – pintura, poesia, contos – que escrevem na prisão.
Por outro lado, é igualmente de grande importância conservar os vínculos estreitos do povo com os camaradas detidos. As pessoas escrevem-lhes constantemente para que em todos os momentos estejam acompanhados. Qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo pode fazê-lo. As moradas estão acessíveis na web.
Na Festa do Avante!, um camarada veio junto de nós e mostrou uma carta de resposta. Foi emocionante ver a sua alegria.
Que tal está o ânimo dos Cinco?
Está forte porque sabem que o povo cubano está unido e que tudo está a fazer para os libertar.
Também os ajuda muito o facto dos restantes presos com quem partilham o cárcere os apoiarem e respeitarem muitíssimo. Têm a solidariedade, logo ali, bem perto deles, mesmo em prisões de alta segurança.
Alento para a luta
Cuba tem sido alvo, desde a revolução, de vários ataques terroristas. No seu caso, que experiência pode deixar aos portugueses sobre as consequências que pode ter um ataque desse género para os que são próximos das vítimas?
Cuba foi alvo de muitos ataques terroristas, como referiste, quer dentro de Cuba, quer fora do país. Os mais conhecidos são os ataques contra as representações diplomáticas em território estrangeiro e o atentado ao avião da companhia aérea cubana, em 1976, que vitimou mais de 70 pessoas.
Depois do atentado à embaixada em Lisboa, cinco crianças ficaram órfãs, três sem a mãe e duas sem o pai. Desde então tivemos que aprender a viver nessa condição. Se bem que em Cuba nunca nos faltou nada, quer da parte da família biológica que da parte da família revolucionária, é triste não poder compartilhar com um dos nossos pais os bons e os maus momentos.
Passaram já 33 anos e a dor mantêm-se. Não é justo que outras crianças continuem a passar pelo que nós passámos.
Estava na embaixada?
Não, estava em Havana, na escola. Os meus irmão e os filhos de Efrén é que estavam cá.
O que é que achou da Festa do Avante!?
Impressionante e bela. Vir à Europa e verificar que existe tanto apoio a um partido comunista, tanta juventude, tanta solidariedade e carinho para com Cuba e o povo cubano, é uma alegria e um alento para prosseguir a luta.
Sinceramente, nunca pensei que participasse tanta gente numa iniciativa onde se vê tanta luz revolucionária.
Betina Corcho: Vim a para participar na Festa do Avante!, para realizar contactos no âmbito da solidariedade do povo português para com o povo cubano, e, sobretudo, para estimular a luta pela libertação dos Cinco patriotas cubanos presos injustamente nos EUA.
Sabemos que em Portugal há um movimento de solidariedade muito forte com os Cinco, no qual conjugam esforços militantes e activistas de diversas organizações, quer sejam do Partido, das mulheres, da resistência antifascista, da juventude ou da Associação de Solidariedade Portugal-Cuba.
O nosso objectivo neste momento passa por criar um grande movimento mundial que ajude a sensibilizar a opinião pública norte-americana. É fundamental que os norte-americanos saibam a verdade sobre este caso, fiquem a conhecer a verdadeira história e não apenas a que lhes é contada pelos meios de comunicação social dominantes.
Por isso estamos a dinamizar uma campanha para que a opinião pública mundial e, insisto, particularmente os norte-americanos, exijam a sua imediata libertação. O presidente dos EUA, Barack Obama, tem a faculdade de devolver os Cinco à liberdade. É precisamente isso que procuramos.
Em que estado se encontram os processo?
Três deles vão ser novamente processados, ou como se diz legalmente, ressentenciados. Pensamos que as suas condenações podem diminuir face às que lhes haviam sido impostas, até porque o Tribunal de Recurso de Atlanta pronunciou-se nesse sentido. Depois há o caso do Gerardo, que foi condenado a duas penas de prisão perpétua e a quem não admitiram novo processo.
Outro objectivo que mantemos é o da denúncia das repetidas violações dos direitos destes camaradas. Por exemplo, não permitem que os familiares os visitem. É o caso de Adriana, esposa de Gerardo. Faz 11 anos que não vê o marido, o que demonstra que os EUA espezinham um direito fundamental de qualquer preso: ser visitado pelos respectivos familiares. O mesmo acontece com a esposa de René, Olga, a quem é igualmente negado consecutivamente o visto de entrada em território norte-americano.
Deixa-me sublinhar que estes homens estavam nos EUA com um único objectivo: evitar que se passasse lá o que se passou aqui em Portugal a 23 de Abril de 1976, um atentado terrorista no qual morreram dois funcionários diplomáticos. Era contra isso que estavam a lutar. Não estavam a espiar, como diz a propaganda. Sabiam quais eram as organizações terroristas que operam nos EUA contra Cuba e estavam a trabalhar para desmontar os seus planos.
Os portugueses, que sempre têm sido tão solidários, conseguem entender que os Cinco estavam a trabalhar para que outras crianças não passem pelo que passei eu, os meus irmãos e os filhos de Efrén Monteagudo - crescer sem um dos pais em resultado de um atentado terrorista.
Quais as actividades previstas em Portugal?
Está pronto a circular um abaixo-assinado dirigido ao presidente dos EUA. Julgamos que o exemplo dos activistas portugueses pode ser útil para outros comités de solidariedade espalhados pelo mundo, donde seguirão igualmente subscrições para a Casa Branca reclamando não só a necessidade como a justiça da libertação destes Cinco antiterroristas cubanos.
E nos EUA, o que está a ser feito?
Têm-se feito manifestações, publicam-se artigos em jornais de grande expansão com o objectivo, como disse, de dar a conhecer a verdadeira história destes homens. Face à deturpação e à mentira, ganhar uma pessoa mais com a verdade dos factos é vital. Como muitas gotas que formam um grande oceano. Assim deve funcionar com o alargamento da solidariedade com os Cinco e a exigência da sua libertação.
Porque é que Barack Obama ainda não os libertou? O seu governo, apesar de se dizer que está a alterar a política externa em relação a Cuba, não demonstra na prática qualquer alteração [n.d.r.: depois desta entrevista, o presidente dos EUA prolongou por mais um ano o bloqueio a Cuba]. Se tivesse ocorrido alguma mudança, como alegam, seria lógico que a secretária de Estado, Hillary Clinton, tivesse autorizado a entrada de Adriana e Olga nos EUA. Mas não, fez o mesmo que fizeram as administrações anteriores.
Ou seja, nada mudou. Diz-se que liberaram as viagens dos cubanos residentes nos EUA para Cuba, mas os que queriam visitar o meu país nunca deixaram de o fazer, somente tinham que fazer uma escala. Importante seria que os norte-americanos pudessem viajar para Cuba sem restrições para que constatassem a nossa realidade, mas isso o governo norte-americano não quer.
Depois de Portugal parte para outros países com o mesmo objectivo?
Sim, vamos para a Festa do L’Humanité, em França, com os mesmos objectivos e para que saibam o que estamos a fazer hoje em Cuba.
Povo unido
Qual é o sentimento em Cuba em relação aos Cinco?
Mantemos actualizada a informação sobre o estado em que se encontram os Cinco e sobre a evolução dos processos. Divulgamos ainda os trabalhos – pintura, poesia, contos – que escrevem na prisão.
Por outro lado, é igualmente de grande importância conservar os vínculos estreitos do povo com os camaradas detidos. As pessoas escrevem-lhes constantemente para que em todos os momentos estejam acompanhados. Qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo pode fazê-lo. As moradas estão acessíveis na web.
Na Festa do Avante!, um camarada veio junto de nós e mostrou uma carta de resposta. Foi emocionante ver a sua alegria.
Que tal está o ânimo dos Cinco?
Está forte porque sabem que o povo cubano está unido e que tudo está a fazer para os libertar.
Também os ajuda muito o facto dos restantes presos com quem partilham o cárcere os apoiarem e respeitarem muitíssimo. Têm a solidariedade, logo ali, bem perto deles, mesmo em prisões de alta segurança.
Alento para a luta
Cuba tem sido alvo, desde a revolução, de vários ataques terroristas. No seu caso, que experiência pode deixar aos portugueses sobre as consequências que pode ter um ataque desse género para os que são próximos das vítimas?
Cuba foi alvo de muitos ataques terroristas, como referiste, quer dentro de Cuba, quer fora do país. Os mais conhecidos são os ataques contra as representações diplomáticas em território estrangeiro e o atentado ao avião da companhia aérea cubana, em 1976, que vitimou mais de 70 pessoas.
Depois do atentado à embaixada em Lisboa, cinco crianças ficaram órfãs, três sem a mãe e duas sem o pai. Desde então tivemos que aprender a viver nessa condição. Se bem que em Cuba nunca nos faltou nada, quer da parte da família biológica que da parte da família revolucionária, é triste não poder compartilhar com um dos nossos pais os bons e os maus momentos.
Passaram já 33 anos e a dor mantêm-se. Não é justo que outras crianças continuem a passar pelo que nós passámos.
Estava na embaixada?
Não, estava em Havana, na escola. Os meus irmão e os filhos de Efrén é que estavam cá.
O que é que achou da Festa do Avante!?
Impressionante e bela. Vir à Europa e verificar que existe tanto apoio a um partido comunista, tanta juventude, tanta solidariedade e carinho para com Cuba e o povo cubano, é uma alegria e um alento para prosseguir a luta.
Sinceramente, nunca pensei que participasse tanta gente numa iniciativa onde se vê tanta luz revolucionária.