O que o País precisa

Margarida Botelho
José Sócrates, na pele de primeiro-ministro, visitou na semana passada a nova fábrica da Portucel em Setúbal. Trata-se, disse, de um investimento de mais de 550 milhões de euros, criador de 2 mil novos postos de trabalho, que representará mais de 4% da totalidade das exportações portuguesas. «É isto que o País precisa», sentenciou.
O País precisa de produzir mais. É verdade – e a concordância acaba aqui. O País não precisa da injustiça e da exploração que a Portucel impõe.
Senão vejamos: de acordo com um estudo da revista Exame, no grupo Portucel / Soporcel a produtividade de cada trabalhador é de 233 mil euros por ano, uma das mais altas da Europa neste sector. Simultaneamente, o grupo de Pedro Queiroz Pereira é o que tem menos gastos com salários de todo o continente, gastando neles menos de 7% dos seus custos de produção. Pelo menos desde 2006 que os trabalhadores têm tido aumentos salariais abaixo da inflação, cortes no plano de saúde e reduções nos prémios de desempenho. Ao mesmo tempo, o grupo foi criando empresas para lhe prestarem serviços a si próprio, contratando jovens trabalhadores com vínculos precários para desempenharem funções de carácter permanente, com diferenças salariais de mais de 300 euros face aos colegas e salários a rondar os 500.
Assim se explica o crescimento continuado dos lucros deste grupo – mais de 131 milhões de euros em 2008. Explorando, pagando mal, precarizando e mesmo assim recebendo do Estado apoios financeiros na ordem dos 175 milhões de euros, como os que foram aprovados pelo Governo do PS em Junho de 2007, para além dos distribuídos pela União Europeia.
Ou seja: Pedro Queiroz Pereira e os seus hómologos dos outros grandes grupos económicos precisam de facto de um primeiro-ministro que os sirva e aos seus interesses pelo menos tão bem como José Sócrates, Santana Lopes, Durão Barroso, António Guterres e todos os outros praticantes da política de direita dos últimos 33 anos.
Os trabalhadores, o povo, o País, não, não precisam. Precisam sim de uma ruptura com esta política, de salários dignos, empregos com direitos, produção nacional, distribuição justa da riqueza. Precisam de dar mais força ao PCP e à CDU.


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