Comentário

Os portugueses e a crise

Natacha Amaro
O Eurobarómetro é um instrumento da Comissão Europeia para análise da opinião pública europeia que periodicamente fornece resultados de questionários sobre temáticas europeias. No fim de Julho foi divulgado o Eurobarómetro sobre «Emprego e Política Social Europeus», com dados recolhidos nos estados-membros entre 29 de Maio e 15 de Junho.
Com o objectivo declarado de «medir o impacto da crise económica nos postos de trabalho e nas perspectivas de emprego», este Eurobarómetro desvendou algumas respostas interessantes.

Emprego e crise

No capítulo «Os Europeus e a Crise» e à pergunta se estaria preocupado com o impacto da crise no mercado de trabalho, concretamente sobre a possibilidade de perder o emprego ou vir a ocorrer essa situação com o parceiro ou filhos, é sintomático que os portugueses tenham dado respostas positivas cerca de dez por cento acima da média europeia. Destaca-se a maior preocupação com a possibilidade dos filhos perderem o seu emprego (3,6 em 5), já que as novas gerações são de facto o maior alvo e a face mais visível do desemprego e da precariedade no mercado de trabalho de hoje.
Já quanto ao impacto da crise no mercado de trabalho ter atingido o seu ponto alto ou não, os portugueses acompanham mais moderadamente as respostas dos restantes povos da UE, mas destacaria a percentagem dos que não sabem ou não respondem que é quase o dobro da média europeia: 21 por cento para 11 por cento. A instabilidade e a insegurança que os portugueses sentem diariamente relativamente à recuperação económica do País, ao seu posto de trabalho e às perspectivas de futuro para si e para os seus certamente justificam esta resposta.
Outra resposta que nos indica esta insegurança é à pergunta sobre a confiança relativamente à capacidade de manter o posto de trabalho nos próximos meses. Além de os portugueses que respondem «muito confiante» (16%) serem um número muito inferior ao dos cidadãos dos 27 estados-membros (40%), destaca-se ainda a comparação com o Eurobarómetro de Maio-Junho de 2006 em que 30 por cento dos portugueses se declaravam «muito confiantes». Na verdade, nos últimos três anos assistimos ao agravamento da situação de vida e de trabalho do povo português, já de si bastante precária comparada com outros países da UE, decorrente de um conjunto de políticas ainda mais penalizadoras de quem trabalha.
Outra linha do inquérito tem a ver com a percepção das pessoas relativamente à chamada «flexibilidade» e à mudança de emprego, aspecto em que 82 por cento dos portugueses consideram que os empregos para a vida inteira na mesma entidade são coisa do passado, ficando nove pontos percentuais acima da média europeia. Mas questionados sobre se os contratos de trabalho deveriam ser mais flexíveis, as respostas afirmativas caem para os 62 por cento, mesmo com a justificação eufemística tão doce como a de «incentivar a criação de emprego». O que nos pode indicar que há a percepção em Portugal de que a estabilidade de emprego está ameaçada mas que isso não implica a aceitação directa da chamada «flexibilidade» como solução para todos os males.

Formação e políticas sociais

Apenas duas notas finais para outras questões abordadas pelo Eurobarómetro. A primeira tem a ver com as acções de formação frequentadas nos últimos 12 meses em que 83 por cento dos portugueses declararam não ter participado em nenhuma. Com tanta preocupação relativamente ao impacto da crise no emprego e às saídas para a crise, seria de esperar medidas concretas (como esta, da formação!) no mercado de trabalho. A segunda tem a ver com uma pergunta sobre as medidas mais eficazes para empregar mais pessoas e mantê-las activas por mais tempo. Duas das respostas com maior adesão dos portugueses, e acima da média europeia, foi o aumento de estruturas para cuidar das crianças (83%) e das pessoas idosas e/ou dependentes (85%).
Apesar da maioria dos inquiridos não serem mulheres é inegável o impacto das políticas sociais, e neste espectro em concreto, no emprego feminino em Portugal. O apoio a ascendentes e descendentes continua a ser uma das maiores preocupações e entraves à participação em igualdade no mercado de trabalho e exigem-se respostas sociais que tardam em chegar.
Num Verão cálido em que se iniciam campanhas e se materializam propostas eleitorais, estas respostas reforçam a ideia que outro caminho é necessário, é urgente. Um rumo de apoio a quem produz e trabalha, um reforço efectivo de políticas sociais que combatam a crise. Esse caminho e esse rumo é claramente proposto pela CDU, para Portugal e para a Europa.


Mais artigos de: Europa

Tortura tolerada

A Comissão dos Direitos do Homem do Parlamento britânico exigiu, no dia 4, a abertura de um inquérito independente sobre a implicação do Estado nos casos de tortura.

Obsessão xenófoba

A polémica lei da Segurança, que configura o crime de imigração irregular e regulamenta as patrulhas de cidadãos, entrou em vigor no dia 8, com a publicação dos respectivos diplomas do diário oficial.

Despedimentos arbitrários

Após 14 anos de trabalho numa fábrica de embalagens em Oberhausen, na região alemã, do Rhur, um operário originário do Paquistão foi sumariamente despedido acusado de ter recarregado a bateria do seu telemóvel a expensas da empresa.O caso, que mais parece uma história inventada para entreter leitores em tempo de Verão,...

FMI controla Roménia

O Fundo Monetário Internacional anunciou, na segunda-feira, 10, a concessão de um empréstimo à Roménia no valor de 12,95 mil milhões de euros, com a condição de que o país aperte o cinto.Segundo declarou um responsável da organização, Feffrey Franks, a Roménia será autorizada a aumentar o seu défice orçamental para 7,3...