A vigarice
A 7 de Outubro de 2007, o primeiro-ministro José Sócrates proclamava solenemente, na cerimónia de lançamento do projecto de uma fábrica de pilhas de hidrogénio para produção de energia, e à frente de uma luzidia delegação governamental: «Há poucos em todo o mundo a fazer aquilo que a partir de agora se vai fazer aqui em Montemor-o-Velho», acrescentando que «este é o projecto mais inovador no domínio da energia em Portugal», pelo que «Montemor-o-Velho fica no mapa da inteligência em Portugal».
Quem não ficou, de certeza, no «mapa da inteligência» lusitana foi o próprio primeiro-ministro, ao apadrinhar este «projecto inovador da energia em Portugal» que, um ano e meio depois da inflamada «inauguração», foi completamente ao fundo com o desaparecimento do promotor desta burla, um nebuloso grupo malaio autodenominado «AGNI».
Às malvas foi igualmente o prometido investimento de 69 milhões de euros e a criação de 220 postos de trabalho, num projecto que devia entrar em funcionamento no primeiro trimestre de 2009, com um «centro tecnológico» a instalar em 2,2 ha no Parque de Negócios de Montemor-o-Velho.
José Sócrates tinha, entretanto, razão quando garantia que «há poucos em todo o mundo a fazer aquilo que a partir de agora se vai fazer aqui em Montemor-o-Velho». Em rigor, não «havia poucos» mas nenhum, nem ninguém, em todo o mundo, a ««fazer aquilo» que o Governo português fez: dar crédito e guarida a esta nebulosa empresa de «capitais malaios e norte-americanos» que ninguém conhecia de parte nenhuma, que não tinha currículo nem qualquer obra conhecida na área de que se reclamava «especialista», ou seja a produção de energia a partir de pilhas de hidrogénio.
Acontece que o PCP, através do seu deputado Agostinho Lopes, desde o início deste processo que interpelou o Governo, nomeadamente através de Requerimentos na AR em Janeiro de 2006 e Maio de 2007. «As respostas dos ministérios do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional e da Economia e Inovação», afirmou o deputado comunista, em «Pergunta» formulada no passado mês de Junho, «mostraram dificuldades em assumir o que parecia uma evidência: a falta de sustentabilidade e certificação técnica e económica do projecto da AGNI» para a famosa «instalação em Portugal de uma fábrica para a produção de pilhas de combustível a hidrogénio».
Pior: «Em recente debate com o ministro do Ambiente na Assembleia da República, a 3 de Abril», acrescentam os comunistas, «questionado mais uma vez pelo PCP, foi apenas referido o atraso na concretização do projecto!».
Um mês depois viu-se a dimensão do «atraso»: os burlões da AGNI desapareceram em parte incerta, o município de Montemor-o-Velho ficou «a arder» com os terrenos e investimentos cedidos para o «projecto» e o Estado português idem-aspas, em indeterminadas (mas decerto vultosas) verbas e prebendas entregues de mão-beijada a este autêntico «conto do vigário» internacional.
Conto do vigário que José Sócrates impôs ao País, apesar das interrogações, advertências e denúncias apresentadas pelo PCP em devido tempo. Com a arrogância do costume, decerto não vai assumir responsabilidades nem dar explicações. Do mal o menos: em Setembro, o eleitorado há-de acertar algumas contas.
Quem não ficou, de certeza, no «mapa da inteligência» lusitana foi o próprio primeiro-ministro, ao apadrinhar este «projecto inovador da energia em Portugal» que, um ano e meio depois da inflamada «inauguração», foi completamente ao fundo com o desaparecimento do promotor desta burla, um nebuloso grupo malaio autodenominado «AGNI».
Às malvas foi igualmente o prometido investimento de 69 milhões de euros e a criação de 220 postos de trabalho, num projecto que devia entrar em funcionamento no primeiro trimestre de 2009, com um «centro tecnológico» a instalar em 2,2 ha no Parque de Negócios de Montemor-o-Velho.
José Sócrates tinha, entretanto, razão quando garantia que «há poucos em todo o mundo a fazer aquilo que a partir de agora se vai fazer aqui em Montemor-o-Velho». Em rigor, não «havia poucos» mas nenhum, nem ninguém, em todo o mundo, a ««fazer aquilo» que o Governo português fez: dar crédito e guarida a esta nebulosa empresa de «capitais malaios e norte-americanos» que ninguém conhecia de parte nenhuma, que não tinha currículo nem qualquer obra conhecida na área de que se reclamava «especialista», ou seja a produção de energia a partir de pilhas de hidrogénio.
Acontece que o PCP, através do seu deputado Agostinho Lopes, desde o início deste processo que interpelou o Governo, nomeadamente através de Requerimentos na AR em Janeiro de 2006 e Maio de 2007. «As respostas dos ministérios do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional e da Economia e Inovação», afirmou o deputado comunista, em «Pergunta» formulada no passado mês de Junho, «mostraram dificuldades em assumir o que parecia uma evidência: a falta de sustentabilidade e certificação técnica e económica do projecto da AGNI» para a famosa «instalação em Portugal de uma fábrica para a produção de pilhas de combustível a hidrogénio».
Pior: «Em recente debate com o ministro do Ambiente na Assembleia da República, a 3 de Abril», acrescentam os comunistas, «questionado mais uma vez pelo PCP, foi apenas referido o atraso na concretização do projecto!».
Um mês depois viu-se a dimensão do «atraso»: os burlões da AGNI desapareceram em parte incerta, o município de Montemor-o-Velho ficou «a arder» com os terrenos e investimentos cedidos para o «projecto» e o Estado português idem-aspas, em indeterminadas (mas decerto vultosas) verbas e prebendas entregues de mão-beijada a este autêntico «conto do vigário» internacional.
Conto do vigário que José Sócrates impôs ao País, apesar das interrogações, advertências e denúncias apresentadas pelo PCP em devido tempo. Com a arrogância do costume, decerto não vai assumir responsabilidades nem dar explicações. Do mal o menos: em Setembro, o eleitorado há-de acertar algumas contas.