Armas de arremesso

Luís Carapinha

«Na realidade, é muita a inquietação nas hostes das classes dominantes»

Garantem-nos os políticos e teólogos do sistema que o pior da crise já passou. No limite, há mesmo quem assegure que, afinal, o mal que assola o mundo se resume a um problema psicológico. Que é preciso pensamento positivo para restabelecer a necessária confiança no mercado – na perenidade do capitalismo – e afastar as nuvens negras do horizonte… Especialmente depois da injecção cavalar de recursos financeiros estatais, que faz hoje subir perigosamente o endividamento público das economias capitalistas.
Na realidade, é muita a inquietação nas hostes das classes dominantes. A depressão promete ser longa e as perspectivas de efectiva recuperação económica bastante nebulosas. A sobrevivência do sistema de relações capitalistas vigente clama por uma maior centralização e concentração e, sobretudo, pela intensificação dos níveis de exploração das classes trabalhadoras e de rapina dos povos. Um «novo paradigma» que passa, nomeadamente, pelo aumento do desemprego estrutural e a extensão da precariedade do trabalho, ao qual não é de todo alheio o accionar da política preventiva de criminalização da luta contras as injustiça e desigualdades sociais ou a nova «caça às bruxas» e as tentativas afins de proibição da luta de classes e dos ideais comunistas.
É neste quadro que as correntes profundas do sistema vão assomando à superfície e com elas toda uma pestilenta fauna pré-histórica. Claro que, qual seguro de vida, se pretende esvaziar o crescente descontentamento social, capitalizando todo o tipo de derivas fascizantes que, com pezinhos de lã ou ruidosamente e à força da baioneta, vão marcando o terreno mundo afora.

Veja-se o caso de Itália. Não se trata apenas do estádio de decadência a que chegou a classe política italiana e do pasto de iniquidades que bolça das suas entranhas. O fenómeno Berlusconi é expressão eloquente do grau supremo da promiscuidade existente, em primeiro lugar, entre o poder económico e político. A Itália da UE e do G-8 constitui um polígono de ensaio do poder da extrema-direita e da panóplia de forças racistas, xenófobas e fascistas. As mesmas forças que vão deitando mão do culto de Il Duce e que hoje fazem aprovar leis de «combate» à imigração – de que, como é sabido, o grande capital necessita para manter as normas de lucro da exploração da mão-de-obra – que constituem uma afronta à dignidade e direitos do homem.
O mesmo velho arco de forças do poder que, mãos dadas com a CIA e o imperialismo, conspirou activamente no passado contra os pilares do apregoado estado de direito – ao ponto de fazer raptar e assassinar um primeiro-ministro para impedir a participação do então PCI num governo de coligação com a democracia-cristã.
Precisamente esta semana foram reveladas as confissões de Totò Riina, tido como o capo dos capos da máfia e principal condenado pelo assassinato, em 1992, dos juízes Falcone e Borsellino, que apontam para a santa-aliança da Casa Nostra, os industriais de Milão e os serviços secretos na génese e execução daquele crime (El País, 19.07.09).

Falamos de Itália, como poderíamos falar do golpe nas Honduras, das novas bases dos EUA na Colômbia, da extrema-direita no governo de Israel, o suplício de Gaza e as manobras de perpetuação da ocupação sionista da Palestina. Ou do infindável rol de atropelos que ainda ressoa das campanhas de Bush e das práticas de terrorismo de estado, prosseguidas pelo imperialismo, por exemplo no Afeganistão e Paquistão, que a campanha que suporta o fenómeno Obama – cujo índice de popularidade nos EUA o Washington Post diz ter baixado dos 50% – tenta imacular. Ou da recente moção da assembleia parlamentar da OSCE no sentido da completa perversão da História.
Os exemplos abundam. Há que estar vigilante. Com a certeza de que, contra as armas de arremesso da ideologia dominante, será com o contributo dos comunistas e outras forças revolucionárias que a luta dos trabalhadores e dos povos acabará por impor uma nova correlação de forças e alternativa mundial.


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