Pouca história e pouca vergonha

Carlos Gonçalves
Falta história ao PS no combate ao fascismo. O PS da primeira República rendeu-se e dissolveu-se no início do salazarismo. As posições social-democratas, no longo combate contra a «ditadura terrorista dos monopólios associados ao imperialismo estrangeiro e dos latifundiários», andaram pelo colaboracionismo, na «abertura Marcelista», outras vezes pelo «reviralho». Ao PS faltam heróis da luta antifascista, aliás foi fundado em 1973, na crise final do regime. Nas suas fileiras estão democratas que travaram este combate, mas na época não eram do PS, militavam na unidade antifascista que o PCP construiu e que conduziu à Revolução de Abril.
Dito isto, ficam mais claras as determinantes de classe e ideológicas do PS na sistemática tentativa de rescrita da história e de ocultação do papel dos comunistas e do seu Partido na luta antifascista. O PS visa alterar a verdade histórica conforme os seus objectivos mesquinhos e os interesses do grande capital. Visa esconder que hoje o seu Governo serve os grandes senhores do dinheiro tal qual o fascismo os serviu, noutro quadro e por outros meios. E visa, com uma desbragada pouca vergonha, empalmar no PS, ou pessoalmente em Mário Soares, a luta e os heróis que são património e honra do nosso povo, na medida em que o são deste nosso Partido Comunista Português.
Foi isso que tentaram em Aveiro, em Maio, quando o PS fez da comemoração dos 40 anos do 2.º Congresso Republicano uma golpada em que falou M. Soares, o MAI e o Governador Civil e foram silenciados democratas que participaram no Congresso e ocultado o papel decisivo dos militantes comunistas Mário Sacramento e João Sarabando. Mas nestes dias foi possível, numa importante sessão da URAP, repor a verdade e honrar a sua memória.
Foi isso que visaram em Stª. Mª. Feira, no sábado, quando o PS levou Almeida Santos à inauguração eleitoralista de um monumento a Ferreira Soares, dirigente comunista assassinado pela PIDE em 1942, sem que o PCP ou a família pudessem usar da palavra. Mas os comunistas estiveram presentes, com as suas bandeiras, em silêncio de protesto, pondo a verdade a nu. E, como todos os anos, teve ainda lugar uma romagem à campa deste herói do Partido.
Continuar o combate contra a pouca vergonha do PS e em defesa da verdade histórica é um importante contributo para que – fascismo nunca mais!


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