Entre barreiras
Perplexo e não refeito, o País esforça-se por desvendar o enigmático, embora bastante popularizado, gesto com que Manuel Pinho brindou o hemiciclo. Há os que, por simplicidade e maior linearidade de raciocínio, vêem no gesto expressão de grosseria ou má educação, resultado provável de «papa maizena» em excesso e manifesta falta de chá em pequeno. Há os que afirmam, mais elaborada e cientificamente, tratar-se de um qualquer reflexo ou impulso, um caso de estudo em potência, ditado pela configuração do espaço e uma indisfarçável aversão às cores que associa a quem tentou ofender. Andará assim, pelo menos, meio país enganado. Nem tudo ou nada, em tão simples ou esforçadas explicações. Mais do que ministro malcriado e confundido com os terrenos que pisa, o que aquele gesto traduz é a desorientação de um governo, a consciência da inevitável derrota da sua política, a percepção do espaço a que foi confinado pela resistência e luta dos trabalhadores e do povo. E sobretudo uma acumulada e incontida aversão contra quem sabem constituir a mais firme e combativa força de oposição e resistência à sua política. Em pouco mais de dois segundos, e outros tantos dedos espetados na cabeça de um ministro, se esfumou a encenada construção de um governo humilde, aprendendo com os erros, para regressar aquela genuína imagem de um governo arrogante, recheado de ministros que, com menor exuberância de gestos é certo, se propõem verbalmente «malhar» na oposição ou «trucidar» os trabalhadores que se oponham às suas «reformas». Quatro anos depois de promessas não cumpridas, de uns quantos poucos postos de trabalho criados e um mar deles destruídos, de um rasto de desigualdades e injustiças, de uma política que deixa o País mais dependente e vulnerável, sempre se poderá dizer que confrontados com o estado em que deixam a nação, ministro e Governo perderam a razão.
Registado que está o patético episódio, objecto aqui de tentada explicação, assinale-se agora uma não menos patética, ainda que derrotada em visibilidade, atitude de terceiros. A frenética rapidez com que o BE se apressou a reivindicar os «corninhos» ali presenteados, um pouco ao jeito de «são para nós, não para aqueles senhores», é seguramente caso para um cuidado estudo de psiquiatria política. Já se sabia quanto lestos eram em apropriar-se de ideias, propostas ou projectos de outros. Desconhecia-se idêntica propensão na arte das hastes.
Registado que está o patético episódio, objecto aqui de tentada explicação, assinale-se agora uma não menos patética, ainda que derrotada em visibilidade, atitude de terceiros. A frenética rapidez com que o BE se apressou a reivindicar os «corninhos» ali presenteados, um pouco ao jeito de «são para nós, não para aqueles senhores», é seguramente caso para um cuidado estudo de psiquiatria política. Já se sabia quanto lestos eram em apropriar-se de ideias, propostas ou projectos de outros. Desconhecia-se idêntica propensão na arte das hastes.