País Basco

TEDH avaliza ilegalização

O Tribunal Europeu de Direitos Humanos (TEDH) decidiu, dia 30, apoiar a política do governo espanhol que levou à ilegalização, em 2003, do Herri Batasuna e do Batasuna, partidos da esquerda independentista basca que haviam apelado para aquela instância, evocando legitimamente a «violação do direito à liberdade de associação e de expressão».
Todavia, o TEDH entendeu que a justiça espanhola não violou a Convenção Europeia dos Direitos do Homem ao sentenciar a dissolução daqueles partidos porque, afirma, esta decisão «correspondeu a uma necessidade social imperiosa». Deste inusitado argumento infere-se que os direitos humanos podem, afinal, ser suspensos em caso de «necessidade social imperiosa», conceito subjectivo que naturalmente é deixado em abstracto.
Mas, mais grave ainda, os direitos humanos podem simplesmente ser negados a toda uma categoria de cidadãos, como se depreende da seguinte formulação que fundamenta o presente acórdão: «Um partido político cujos responsáveis incitem ao recurso à violência ou que proponham um projecto que não respeite as regras da democracia não pode recorrer à protecção da Convenção Europeia dos Direitos do Homem».
Desta forma, o TEDH justifica antecipadamente qualquer governo que decida calar vozes incómodas, partidos ou movimentos políticos que lutem por uma transformação progressista da sociedade e que facilmente podem ser rotulados de antidemocráticos, tanto mais que os magistrados aceitaram sem qualquer ponderação as «provas» usadas pela justiça espanhola para rotular de «terrorista» toda a esquerda independentista basca.
Com a mesma fundamentação, o Tribunal rejeitou por unanimidade os recursos apresentados pelos candidatos impedidos de concorrer ao Parlamento de Navarra e às eleições europeias, que evocaram «entraves à liberdade de expressão dos eleitores».
Negando-lhe provimento, o TEDH desprezou os direitos civis de uma parte importante do eleitorado basco que, eleição após eleição, tem insistido em manifestar a sua vontade, votando em boletins próprios ou em candidaturas que se solidarizam com a causa da esquerda independentista.
Foi o caso recente da lista encabeçada pelo dramaturgo Alfonso Sastre, II-SP, que, após ter sido proibida num primeiro momento, recolheu no País Basco 116 mil votos, ou seja, 16 por cento do total de sufrágios, sendo apoiada na província de Guipuzcoa por 23,4 por cento dos eleitores, quase um em cada quatro.
Recorde-se que outros partidos que registaram votações maciças no terreno da esquerda independentista, caso do Partido Comunista das Terras Bascas, foram de seguida ilegalizados.
Ao subordinar o reconhecimento dos direitos humanos a considerações subjectivas de ordem política, o Tribunal de Estrasburgo não só subverte o conceito de direitos humanos universais, como também anula a razão da sua própria existência. O que daqui resulta é algo que nem com boa vontade se poderá chamar democracia.


Mais artigos de: Europa

Senado aprova lei fascizante

O Senado italiano, câmara alta do parlamento, aprovou, no dia 2, a controversa lei que sanciona os imigrantes clandestinos com multas de cinco mil a dez mil euros e penas de prisão até três anos para quem albergue pessoas sem autorização de residência.

Governo sancionado

A oposição conservadora venceu as eleições legislativas realizadas, no domingo, 5, na Bulgária, ultrapassado em mais de 20 pontos percentuais o Partido Socialista do primeiro-ministro cessante, Serguei Stanichev.

Não às bases americanas

Mais de três mil manifestantes enfrentaram, no sábado, 4, a polícia de choque para protestar contra a ampliação da base norte-americana de Vicenza, no Norte de Itália.Este foi o primeiro de uma série de protestos previstos para esta semana no âmbito da cimeira do G8, que reúne desde ontem, quarta-feira, os líderes das...

Rectificação

Contrariamente ao que noticiámos na edição anterior, o deputado alemão Lothar Bisky, do partido A Esquerda (Die Linke), não foi eleito por unanimidade presidente do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica (GUE/NGL), mas designado por consenso maioritário.Na reunião do grupo de dia 24, que...

Londres nacionaliza linha-férrea

O governo britânico anunciou, dia 1, que retomará a gestão directa da mais importante linha-férrea do país, que liga Londres a Edimburgo, com um tráfego de 17 milhões de passageiros. A decisão foi tomada após o operador privado, National Express, ter rescindido o contrato de concessão. A entidade privada, que contava com...

<i>Recomeço com novas ameaças </i>

Decorrerá no dia 14 de Julho, em Estrasburgo, a tomada de posse dos novos deputados eleitos para o Parlamento Europeu, que iniciará, então, formalmente, as suas funções, embora estejam a decorrer, em Bruxelas, reuniões de trabalho dos diversos grupos políticos, visando a preparação da sessão plenária. Do que já se...