Liberdades de classe

Filipe Diniz
Agora que – com o BE a servir de lebre e a dar as deixas – a necessidade eleitoral leva o PS a mexer na questão (ou, muito provavelmente, a fingir que mexe), a legislação fiscal suscita novamente gritaria do lado da direita.
Gritaria que, afinal, não deveria passar de um pró-forma, porque os interesses em causa conhecem de ginjeira o PS.
Sabem, como nós sabemos e o camarada Honório Novo denunciou na AR, que o off-shore da Madeira tem sido intocável para o PS; que o PS tem chumbado sucessivas propostas do PCP no sentido da transparência e informação dos vencimentos individuais dos administradores das empresas cotadas e outras; que o PS tem rejeitado propostas do PCP no sentido do reforço do quadro sancionatório do crime económico; que o PS rejeitou que as burlas e fraudes bancárias (que os casos do BCP e do BPN colocaram mais do que nunca na ordem do dia) passassem a ser punidas com prisão tal como o PCP propõe; que o PS tem rejeitado ao longo dos anos propostas do PCP no sentido da derrogação do sigilo bancário, no sentido da alteração da Lei Geral Tributária permitindo o acesso condicionado da Administração Fiscal às contas bancárias.
O certo é que, pelo sim pelo não, os opinadores de direita lançam o seu fogo de barragem.
Em nome de quê? Pois, como não podia deixar de ser, em nome da «liberdade». Um deles, por exemplo, fala da ameaça da destruição pelo Estado das «mais básicas liberdades».
E o que são essas básicas liberdades? É a liberdade de organização dos trabalhadores nas empresas, hoje quase inteiramente reprimida e negada? É a liberdade de exercer direitos fundamentais, como o direito à greve? É a liberdade sindical? É a liberdade de opinião, que os grandes meios de comunicação social limitam à que agrada aos seus donos, e que Sócrates odeia e persegue judicialmente? É a liberdade de reunião, de associação, de difusão pública das próprias ideias, cada vez mais coarctada no que diz respeito aos trabalhadores e às forças democráticas?
As liberdades que fazem correr estes senhores são outras: a liberdade de enriquecer seja por que meio for, a liberdade de se apropriar da riqueza socialmente criada, a liberdade das classes dominantes exercerem o seu domínio com absoluta impunidade.
Liberdades de classe, que são opressão e exploração das classes (ainda) dominadas.


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