Protesto geral no Egipto

Repressão feroz no «Dia da Revolta»

Os egípcios protestaram, segunda-feira, contra as políticas antipopulares de Hosni Mubarak enfrentando com coragem a feroz repressão montada pelo regime.

«Mu­barak e os seus ho­mens estão no poder há mais de 30 anos»

A acção convocada pelo movimento juvenil «6 de Abril» para celebrar o primeiro aniversário do levantamento dos operários têxteis na cidade de Mahllah, em 2008, não teve a expressão de massas de então, fruto da feroz repressão montada pelo regime.
Antevendo grandes movimentações de trabalhadores descontentes com a insultante exploração a que são sujeitos, o governo egípcio colocou nas principais cidades um enorme dispositivo policial. As autoridades tinham ordens para mandar prender qualquer pessoa que se manifestasse contra o governo. «Forças de segurança foram colocadas em “áreas sensíveis” no Cairo», admitia um oficial citado pela Agência France Press sob reserva de anonimato.
Para além da capital, grupos anti-motim foram enviados para outras cidades do país de 80 milhões de pessoas, das quais metade vivem nas metrópoles mais próximas do delta do Nilo. Ainda assim, muitos enfrentaram com coragem a pesada mão da ditadura.
Activistas pró-democracia, estudantes, jornalistas e centenas de populares em diversas localidades exigiram aumentos salariais como medida de emergência para combater a pobreza e a fome que grassam entre as camadas populares, reivindicaram a liberdade de acção política e sindical, e repudiaram a corrupção.
Na baixa do Cairo, o sindicato dos jornalistas realizou uma concentração. Nas universidades do Cairo, Helwan, Assiut e em outras escolas de diversas cidades, apesar da vaga de prisões, centenas aderiram ao protesto. Em Kafr el-Sheik, estudantes protestaram à porta de um tribunal contra a detenção e julgamento de dois colegas, a semana passada, acusados de distribuírem cartazes de promoção ao «Dia da Revolta». Pelo menos 25 acabaram detidos pelas autoridades, reportaram agências internacionais.
Significativo foi igualmente o facto de o poderoso grupo político «Irmandade Muçulmana» ter manifestado o seu apoio à iniciativa. Apelamos aos egípcios para que protestem contra as políticas do regime que governa a favor dos ricos e, para tal, instamos a que usassem todos os meios pacíficos e possibilidades legais, sublinharam.

Di­nâ­mica de uni­dade

Na convocatória do «Dia da Revolta», o movimento juvenil «6 de Abril», que diz congregar vários sectores políticos e sociais egípcios, nota que «40 por cento da população encontra-se em situação de pobreza extrema, ao passo que o número de multimilionários cresce no país à sombra do regime de Mubarak». «O governo não tem qualquer plano de desenvolvimento de serviços importantes para a população nas áreas da educação ou assistência médica e implementa somente políticas que servem os interesses dos empresários e dos políticos corruptos. O governo argumenta que estas políticas permitiram elevados índices de crescimento económico, mas olvida que tais cifras foram alcançadas à custa da destruição de instituições de assistência social, milhares de postos de trabalho e de uma inflação galopante. As camadas médias empobreceram e os pobres lutam arduamente por um pedaço de pão», dizem ainda.
No comunicado divulgado na Internet, o «6 de Abril» frisa também que «a situação política não é melhor. Mubarak e os seus homens estão no poder há mais de 30 anos e qualquer facção da oposição política é punida severamente com a prisão e a tortura. As cadeias estão cheias de presos políticos. O orçamento do Ministério do Interior egípcio é maior que o do ministério da Educação. Todas as eleições são fraudulentas e manipuladas a favor do Partido Nacional Democrático de Mubarak e do seu filho Gamal».
«Nós acreditamos que a única maneira de resolver todos estes problemas é combater a ditadura e a corrupção do regime de Mubarak. Desde o passado dia 6 de Abril de 2008, muitos sectores laborais egípcios conduziram greves em todo o país. Nós acreditamos que nenhum dos grupos da oposição alcançará as suas reivindicações isolando-se do povo egípcio», frisam.
O movimento juvenil conclui o texto exigindo um aumento do salário mínimo de 29 para 210 dólares; a eleição de uma assembleia constituinte onde se assegure a liberdade de acção política e sindical e se limite a dois o número de mandatos presidenciais; e a suspensão da exportação de gás para o Estado de Israel.


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